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Para que as crianças sejam saudáveis, é fundamental uma rotina alimentar que conte com uma grande variedade de nutrientes, como frutas, verduras, legumes, carboidratos e proteínas. Na teoria, é fácil. Mas, na prática, quem tem filho sabe que nem sempre eles querem comer o que é necessário para o seu desenvolvimento.
E por mais que os pais tentem explicar a importância do consumo de alimentos saudáveis, muitas vezes, não conseguem fazer com que os filhos concordem e aceitem comer.
Quando se fala em recusa, é importante levar em conta o momento no desenvolvimento que a criança se encontra. "Por volta dos dois anos e meio de idade, elas passam a entender que podem ter vontades diferentes das dos pais e começam a recusar comer coisas novas. No entanto, isso acontece muito mais para ter o controle da situação do que propriamente porque não gostam do alimento", afirma a psicóloga Denise Ely Bellotto de Moraes, doutora em ciências pela Unifesp, coordenadora do setor de psicologia da disciplina de nutrologia do departamento de pediatria e psicóloga clínica.
De acordo com ela, essa resistência pode ser observada em outras esferas, como a criança se recusar a tomar banho, a dormir ou a escovar os dentes, ou querer usar a mesma roupa todos os dias. Por sorte, esse período costuma durar até os três anos, quando a criança começa a ficar mais flexível.
A nutricionista Tatiana Damasceno, do Instituto Movere, alerta que pode acontecer de a criança adquirir uma seletividade alimentar porque um adulto ofereceu o alimento de forma inadequada, forçando a criança a aceitar o alimento contra sua vontade, justamente para desestimular essa atitude.
Esse tipo de hábito, na maioria das vezes, passa despercebido pelos pais. E então, ao invés de detectarem o problema e tentarem contornar a situação para que a criança experimente outros alimentos, tomam o caminho o contrário e acabam impondo sua vontade, reprimindo mais ainda o comportamento dela.
Camuflar alimentos
Para não pressionar, muitos pais veem como alternativa camuflar os alimentos, fazendo com que não fiquem visíveis para as crianças e até mentem caso elas perguntem se determinado ingrediente foi colocado na comida.
No entanto, essa iniciativa pode trazer mais prejuízos do que benefícios. "Quando um adulto faz um 'jogo' para que uma criança coma, estabelece uma relação mentirosa com ela. Os adultos têm como função nomear o mundo para as crianças, por isso é ideal que digam sempre a verdade", afirma a psicóloga Denise.
Da mesma forma, caso o alimento escondido seja descoberto pode deixar a criança chateada, fazendo com que se sinta enganada pelos próprios pais. O fato pode fazer também com que as refeições se tornem um momento de estresse, pois ela não sabe o que vai encontrar no prato.
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A gente sabe da dificuldade que é educar uma criança e que os pais fazem tudo sempre visando o melhor, mas submeter a criança a situações as quais ela se sente desconfortável não soluciona a situação, principalmente quando o problema diz respeito a uma pessoa em formação.
Além disso, o paladar começa a ser moldado na infância. Se a criança não sabe o sabor real de um alimento, terá mais dificuldades para desenvolver gostos e hábitos saudáveis para levar para a vida adulta. Por isso é tão importante investir na qualidade nutricional nos primeiros anos de vida.
A pergunta que fica é: afinal, como lidar com a seletividade alimentar das crianças de uma forma saudável? A seguir você encontra dicas para tornar a hora de comer um momento agradável para pais e filhos:
1. Invente novas formas de apresentar um alimento
Existem vários motivos pelos quais as crianças podem não gostar de um alimento. A parte boa é que existem muitas maneiras diferentes de prepará-lo.
Sendo assim, se você percebeu que em casa as crianças apresentam resistência aos legumes, pode, por exemplo, fazer um suflê, uma carne em que os legumes sejam inclusos no recheio ou até mesmo uma sopa. Agir dessa forma é diferente de fazer um molho de tomate, por exemplo, com diversos legumes para omitir o gosto deles. A preparação pode ser diferente, mas o gosto do alimento não pode sumir.
O pediatra e nutrólogo Mauro Fisberg, do Instituto Pensi, explica que é comum a criança demonstrar resistência, principalmente diante de alimentos novos, por isso é importante introduzir esses itens devagar e de forma carinhosa.
"Quando uma criança recusa um alimento, ele precisa ser oferecido novamente de oito a dez vezes em momentos diferentes e preparado de formas diferentes. Se os pais insistem por um curto período de tempo com o alimento preparado da mesma forma, podem tornar o momento excessivamente desgastante", alerta o especialista.
2. Sirva outros alimentos do mesmo grupo alimentar
Se a possibilidade de apresentar os alimentos com uma outra carinha foi suficiente para acabar com a resistência alimentar, maravilha. Mas pode acontecer de, mesmo variando na forma de preparo, a criança se recusar a comer o alimento.
Se isso acontecer, vale a pena tentar mudar o tipo de alimento a ser servido. Logo, se o pequeno não gosta de feijão, existem outras alternativas tão nutritivas quanto, como lentilha, ervilha ou grão de bico.
Segundo a nutricionista Priscila Maximino, do Instituto Pensi e membro da Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição Infantil, a criança tem que ser respeitada, caso ela não goste de um determinado alimento.
"Os pais devem estabelecer uma relação de confiança com os filhos e pensar em alternativas benéficas para solucionar a questão", afirma Priscila.
3. Coma o alimento que a criança não quer experimentar
Os pais exercem uma forte influência sobre os hábitos alimentares das crianças. Logo, a primeira coisa a ser feita para que elas comam determinado alimento é ver quem está ao redor delas comendo também.
Vale lembrar que, em muitos casos, a criança recusa o alimento sem ao menos ter provado porque os pais já deram um posicionamento negativo em relação a ele. Por isso, na hora da refeição, coma o alimento, comente com quem estiver perto como está gostoso e os benefícios que aquela comida proporciona à saúde.
Essa é uma forma de ensinar a criança de uma forma lúdica e transformar a refeição em um momento de aprendizado e troca.
4. Deixe a criança brincar com a comida
Até adulto concorda que é mais agradável aprender por meio de uma abordagem lúdica. Por isso, a brincadeira é uma forma importante de educar as crianças, mesmo que seja com comida.
Quando a criança recusar experimentar um alimento, deixe que ela pegue a comida com a mão, cheire, cutuque com o garfo e sinta a consistência do alimento.
Não precisa chegar ao ponto de estragar a comida, sujar outras pessoas e ter um comportamento inadequado para a hora de comer, basta permitir que ela se familiarize com o que está vendo.
5. Convide a criança para cozinhar
Convidar as crianças para ajudar a preparar os alimentos é uma forma de aumentar o vínculo afetivo com elas e também expandir o paladar dos pequenos.
Um dos motivos é que o contato com a comida instiga a curiosidade, pois a prática mexe com os sentidos. Se ela sentir um cheio novo, pode querer experimentar o que está sendo preparado. E mesmo que não aprove o sabor em um primeiro momento, poderá saber que fazendo pequenos ajustes pode adequar o alimento ao seu paladar.
Contar com a ajuda dos pequenos para cozinhar também é uma forma de ensiná-los sobre as propriedades nutricionais dos alimentos. Isso pode ajudá-los a entender a importância de consumir alimentos de diferentes grupos nutricionais.
"Para cada fase do desenvolvimento pode haver um tipo de interação diferente. Os pequenos podem ajudar a escolher os ingredientes e sentir o aroma dos alimentos. Já as crianças maiores, dos seis anos em diante, gostam de alquimias. Elas têm curiosidade em fazer experimentos e podem ajudar a misturar ingredientes", informa a psicóloga Denise.
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Cultivar uma hortinha em casa e mostrar para a criança que é possível colher os alimentos da natureza pode ajudá-la a saber de onde vêm a sua comida. Realizando pequenas mudanças será possível obter grandes transformações.
6. Deixe que a criança coma o quanto ela aguentar
É fundamental os pais educarem as crianças para que elas comam de tudo. No entanto, é necessário prestar atenção para as expectativas depositadas em cima delas.
O que acontece é que muitos pais esperam que os filhos entendam o mundo e se alimentem da mesma forma que um adulto e, quando isso não acontece, ficam frustrados e acham que existe algum problema com os filhos.
Portanto, o exercício de consciência é importante. Muitas vezes a criança come pouco não por causa de problemas alimentares ou por não gostar de se alimentar, mas porque o seu senso de saciedade já avisou que ela está satisfeita.
Em outros casos, ela não come determinado alimento por não gostar, mas compensa essa ausência ingerindo outros itens tão nutritivos quanto.
Por fim, é importante lembrar que até os adultos, vez ou outra, acabam priorizando alguns alimentos ao invés de outros. Se até quem já é mais experiente faz isso, é preciso ter paciência com as crianças e dar tempo para que elas possam aprimorar seu paladar. O melhor é saber que podem contar com a ajuda dos pais.