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Um simples descuido médico pode mudar completamente a vida de uma pessoa e, no caso da paulista Adriele Silva, a amputação foi inevitável. Com apenas 25 anos, a engenheira de produção descobriu uma infecção no rim, causada por um cálculo renal, que estava obstruindo um canal entre o órgão e a bexiga.
O caso se agravou depois de uma negligência médica, provocando uma infecção generalizada. As extremidades do corpo de Adriele ficaram sem circulação sanguínea, o que resultou em uma necrose dos pés, das pontas de alguns dedos das mãos e alguns pontos no cérebro.
Após 20 dias de internação, ela foi acordada do coma induzido para ser comunicada que a amputação de parte das pernas seria feita naquele dia. Ao todo foram 64 dias no hospital, sendo 53 na UTI e 20 em coma, período no qual ela sofreu paradas cardiorrespiratórias, convulsões, insuficiência pulmonar e a quase falência de alguns órgãos.
"O esporte me trouxe uma nova perspectiva de vida"
A recuperação não demorou a acontecer e Adriele sabia exatamente por onde começar: pelo esporte. "A princípio pensei na natação, pois além de trabalhar com o corpo todo ela seria ótima para meus pulmões", conta ela. Contudo, durante a espera para entrar em um grupo da modalidade, ela conheceu também o atletismo, que foi amor à primeira vista. Assim, ela decidiu conciliar os dois esportes totalmente novos em sua vida.
Atualmente, aos 29 anos, Adriele pratica Paratriathlon (Triatlo Paraolímpico). A prova é composta por natação, ciclismo e corrida. Ela também participa de algumas corridas de rua. Para manter a forma e o condicionamento, Adriele treina seis dias por semana, sendo que em cada dia ela pratica duas modalidades, além de realizar treinos de fortalecimento ou fisioterapia.
Inclusão a passos lentos
A prática de atividades físicas é fundamental para a saúde e para pessoas com algum tipo de deficiência ela é ainda mais importante, porém o processo de inclusão segue lento.
"Não é cultura do nosso país o incentivo ao esporte, não é cultura do nosso país pessoas com deficiência terem seu 'lugar' na sociedade. De alguns anos para cá, isso está sendo mudado, mas falta muita coisa ainda. Não temos incentivos financeiros e muitas vezes faltam até estruturas físicas e profissionais capacitados para atenderem o volume de pessoas", relata Adriele.
Atletas com algum tipo de deficiência precisam de investimentos em equipamentos mais caros, como próteses. Além disso, muitas academias, ginásios e até mesmo os profissionais não têm preparo ou interesse em receber esses alunos.
"Infelizmente, a nossa realidade de pessoas com deficiência envolvidas com o esporte ou atividades físicas ainda é pequena, mas está evoluindo", observa ela.
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Próximos objetivos
Todos têm seus sonhos e o de Adriele Silva é ser a primeira mulher bi-amputada do mundo a completar o Ironman, uma prova extremamente difícil com 3,8 quilômetros de natação, 180 quilômetros de bike e 42 quilômetros de corrida.
Independente das dificuldades, a paixão e dedicação pelo esporte é capaz de superar qualquer tipo de desafio. "O esporte por si só já é uma lição de vida, não consigo mais me ver longe dele", completa ela.
#Eu Posso: uma causa de inclusão no esporte e do direito a uma vida mais saudável
Para muitos brasileiros, praticar atividade física ainda é um direito a ser conquistado e, por isso, o Minha Vida está engajado na causa #Eu Posso, que traz à tona a discussão sobre o direito que todo mundo tem de adotar uma vida mais saudável. Queremos muito saber se você já teve alguma dificuldade para praticar exercícios! Clique aqui e conte a SUA história.