Formada em psicologia pelo Centro Universitário Paulistano e em psicanálise pelo Centro de Estudos em Psicanálise.Especi...
iMuitas vezes ouvimos falar desse tal machismo, mas acreditamos que ele não está por perto ou não acontece conosco ou ao nosso redor. Cheio de tabus, estereótipos e falta de conhecimento sobre o tema, vamos levando a vida convivendo com ele e muitas vezes nem mesmo nos damos conta.
Um pensamento machista faz parte de uma sociedade e de culturas, envolvendo tanto sistema religioso, quanto político e econômico que possuem como ideologia e crença um regime patriarcal. O machismo é a ideia de que homens são superiores as mulheres ou possuem permissão social para falar e agir de um modo que não considera a intenção ou o desejo do feminino, justificando suas atitudes e falta de controle, com o seguinte pensamento: "Homens são assim mesmo!" ou "Isso não fica bem para uma mulher!".
O comportamento machista não acontece somente por homens, muitas mulheres costumam pensar, acreditar e até mesmo defender tal ideal, quando expressam por opinião ou atitudes que direitos e deveres são ou devem ser diferentes entre os gêneros.
Para ajudar, reuni algumas situações cotidianas, em que analisamos se elas são mesmo machistas e por que:
Dizer o que é brincadeira e comportamento de menino e de menina
Esta visão, fala e ação separatista entre gêneros na infância é um dos maiores tabus que vivenciamos ainda nos dias de hoje e um dos maiores determinantes das ações em nossa vida adulta. Nos mostra como ainda carregamos os contextos arcaicos, machistas de que as pessoas têm seus talentos, valores, habilidades e também possibilidades por conta do seu gênero.
Desde o nascimento todos carregamos as expectativas de nossos pais e assim vamos nos tornando aos poucos um ser que é resultado dos desejos, planos, culturas, ideais e tabus que recebemos. Esta ideia de que azul, futebol, carrinho, lama, luta é para meninos e de que rosa, boneca, ballet, moda é para meninas, são conceitos separatistas e que não levam em consideração o desejo, vontade daquele ser que nasceu e existe com seus desejos e vontades próprias, é uma educação ditadora. Uma menina não poder jogar futebol e um menino não poder brincar de boneca, está unicamente relacionado a uma pobreza de conceito que usa como base estereótipos preconceituosos e que determinam como um menino deve agir e uma menina também.
Reparem que aqui falamos muito mais do que sobre machismo: ao dizer que isso é coisa de menina, estamos dizendo que um menino não pode realizar uma vontade dele simplesmente por conta do seu gênero. E o mesmo ocorre com a menina, nesta ideia tanto os pais e a escola quanto a sociedade deixam de enxergar que além de um menino ou menina, eles são antes de tudo seres humanos com suas vontades e desejos.
Saiba mais: Como o machismo está presenta na educação?
Dizer que mulheres dirigem mal, não entendem de futebol e não sabem opinar sobre esses assuntos
Isso é machismo quando alguém diz que uma mulher não sabe, não pode ou não é capaz de algo por ser mulher. Ela está sendo diminuída por um outro e em sua capacidade apenas por ser mulher!
Sim, existem mulheres que não dirigem bem e também não entendem de futebol, mas isso não ocorre por conta de seu gênero, assim como um homem não é melhor na direção ou em um esporte porque ele é homem. E este é um dos pontos que mais costumam gerar controvérsias e dificuldade de compreensão, pois herdamos uma cultura separatista, que ensina e repassa de geração em geração que há coisas de mulher e coisas de homem, quando na verdade poderíamos repensar que as coisas são para pessoas, independente seu gênero.
Achar que lugar de diversão feminina é o salão de beleza ou fazer compras
Vejam bem, o fato de muitas mulheres gostarem e usarem do salão de beleza ou compras paras e divertirem, faz disso um algo comum no feminino em nossa cultura, logo isso não é machismo. Porém, usar esta ideia de forma determinante, pejorativa e separatista, ou seja, com ar de isso é coisa de mulher, aí sim falamos de machismo.
Por quê? Porque neste segundo ponto a pessoa, que pode ser um homem ou mulher, refere-se ao feminino como uma característica determinada e lhe impõe conceitos sobre quem ser e como ser. Esse conceito ainda é baseado no ideal arcaico das mulheres de que somente podiam se divertir nestes momentos e que, detalhe importante, o faziam para estarem mais bonitas e atraentes para os homens e não para elas mesmas.
Uma mulher se diverte lendo, dirigindo, viajando, assistindo filmes, com sexo e também no salão e fazendo compras, se ela assim desejar. Então se essa frase se refere ao formato que determina e limita qual diversão uma mulher pode ou deve ter, aí sim falamos de machismo.
Pessoas que estranham ou até julgam uma mulher ingerindo álcool ou falam palavrão
Estas pessoas são machistas, independente de são homens ou mulheres, pois estão determinando socialmente o que uma mulher pode ou não fazer, simples e unicamente por ser mulher.
Determinar hábitos, roupas, posturas por conta do gênero é machismo. Você não precisa achar bonito uma mulher beber, falar palavrão ou usar tal roupa, todos tem sua liberdade de desejar e de não gostar, porém isso é algo que você guarda para si. Agora julgar ou analisar uma mulher por seus hábitos deterministas de gêneros, com o argumento de que por ela ser mulher não poderia fazer algo, é dizer que homens podem mais ou possuem mais liberdades que mulheres e isso é machismo.
Atrelar o mau humor feminino à TPM e não a uma situação em que ela tenha sido incomodada
Sim, essa atitude pode ser machista. Esse pensamento desconsidera a validade da realidade, pois supõe que a mulher em TPM enxerga e sente exageradamente as coisas e por isso não deve ser levada a sério. A angustia daquela mulher é diminuída e menosprezada. Assim como a TPM também é vulgarizada, pois não se trata de um mau humor nem de um "piti" feminino, trata-se de uma reação de organismo e que em nada tem a ver com a situação, apesar de poder piorar a reação caso seja um fator daquela mulher.
Dizer que quando uma mulher faz algo bem, faz igual a um homem
Um machismo declarado, pois vejam bem, neste caso não só acabam reforçando que certas situações são exclusividades masculinas como também determinam que a referencia do bom, do melhor e do sucesso é exclusividade do homem, e assim mais uma vez separam as pessoas, suas qualidades, talentos, habilidades e possibilidades por ser homens ou mulheres.
Já ouvi muitas pessoas usando essa frase e realmente acreditando que estão elogiando aquela mulher. É compreensível, eram atividades exclusivas do masculino até pouco tempo atrás, logo faz sentido que referencias boas sejam masculinas. Porém se prestarem atenção, não é somente disso que estão falando quando dizem: "ela boa igual a um homem". Nesta frase está embutido o contexto de que mulheres podem ser boas sim, quando se dedicam e se esforçam, mas que os homens são bons por natureza, por serem homens e ponto e aqui que está o machismo.
A sociedade ainda não saber como fazer ou não percebeu adequadamente que alguém é bom ou boa, não porque é comparado a outro alguém, mas por si próprio independente se é um homem ou mulher.
Temos muito que pensar a respeito ainda sobre a igualdade de gêneros. Espero ter ajudado de alguma forma, esclarecendo não somente o sim ou não, mas principalmente a análise de cada situação. Pois o machismo é coisa séria sim e merece nossa atenção, mas antes de sairmos julgando, apontando, generalizando ou querendo modificar tudo e criar novos padrões e tabus, é preciso analisar a situação e a pessoa em si. Vejo que tanto os machistas quanto muitos daqueles que lutam contar o machismo tem o mesmo ponto em comum, acabam esquecendo que antes de sermos uma questão de gêneros, de sermos homem ou mulher, somos pessoas, indivíduos, somos seres humanos e me parecer que a tal evolução ou igualdade que vem sendo tão buscada, só será possível quando isso for mais claro para todos.