Formada pela Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP, com residência em Clínica Médica e em Endocrinologia e Metabolo...
iO excesso de peso em demasia confronta os profissionais e fornecedores de serviço médicos em saúde por todo o mundo. A Organização Mundial da Saúde infere que, até 2015, serão 2.3 bilhões de adultos considerados sobrepeso e mais de 700 milhões serão obesos. A causa fundamental da obesidade e do sobrepeso é um desequilíbrio entre as calorias consumidas demais em contrapartidas àquelas despendidas de menos.
Os números aumentados globalmente no sobrepeso e na obesidade são atribuídos a fatores que incluem: preferência dos indivíduos para as dietas ricas em alimentos com alto teor de gordura e açúcares, mas baixos nas vitaminas, nos minerais e nos outros micronutrientes; além de uma tendência diminuída para a realização de atividades físicas, devido à natureza cada vez mais sedentária de muitas modalidades de trabalho e suas conseqüências no aumento do estresse, das mudanças nos meios de transporte e aumento da urbanização, entre outras.
Em um estudo de 208 trabalhadores masculinos no Japão, a obesidade foi associada com a tensão e a ansiedade psicológicas, devido às altas exigências
do trabalho. Estes autores publicaram uma relação inversa entre os altos níveis de estresse no trabalho e a preocupação com uma alimentação que engordasse menos.
Um estudo atual (Whitehall II) examinou 10.308 empregados civis entre 35 e 55 anos e o estresse do trabalho foi avaliado pelo questionário da tensão do trabalho (Job Strain Questionnaire) e envolvido com: escasso suporte social no trabalho, demandas elevadas das tarefas e baixo controle de trabalho.
O estresse ocupacional foi associado com o risco aumentado de 1.73 vezes para a obesidade e elevação de circunferência da cintura (marcador de obesidade visceral) em 1.6 vezes. Havia relação entre o número dos relatórios referindo estresse e obesidade. Os homens sofreram mais os efeitos negativos da tensão do trabalho, em termos de obesidade, do que as mulheres. As mulheres não experimentaram um aumento significativo da obesidade e da cintura com estresse. A falta de apoio social era o fator singular e o mais importante da tensão do trabalho em aumentar o risco da obesidade, neste estudo.
O estudo seguiu analisando prospectivamente os indivíduos e empregando medidas na melhoria do estresse de trabalho para os participantes avançarem com suas carreiras. Entretanto, o estudo foi limitado, examinando um grupo muito específico dos empregados -- empregados civis -- em um país do primeiro mundo.
Obesidade + estresse no trabalho = risco de doença cardiovascular
Evidências apontam que não só o excesso de peso, mas também fatores relacionados com o estresse no trabalho aumentam a prevalência das doenças cardiovasculares. Em um estudo de quase 7.000 indivíduos, a prevalência de fumar elevou-se entre os indivíduos estressados no trabalho, e os trabalhadores com pequeno poder de decisão eram também os mais prováveis de serem sedentários. Entretanto, nenhum fator de ambiente do trabalho neste estudo foi relacionado independentemente a IMC aumentado. Uma análise de 609 trabalhadores na França encontrou que a tensão do trabalho aumentou o risco de desenvolver hipertensão. O aumento da hipertensão associou-se com estresse no trabalho num risco de 3.20 vezes mais nas mulheres e 2.60 nos homens.
Estudo de trabalhadores de fábrica corroborou com estes resultados. Os investigadores encontraram que a duração aumentada dos deslocamentos durante o trabalho esteve associada com o aumento da pressão sistólica entre homens acima dos 30 anos. O Estudo das enfermeiras mostrou que o IMC e a relação da cintura-quadril aumentou com duração crescente do deslocamento no trabalho. Em uma outra análise, Estudo II das enfermeiras concluiu que trabalhar fora do tempo estipulado foi associado com um risco aumentado de desenvolver o diabetes do tipo 2, e, quando as mulheres trabalharam menos de 20 horas por semana tiveram um risco mais baixo de diabetes.
Há marcadores séricos como: altos níveis de colesterol total, aumento da fração LDL colesterol, que se associam com um risco aumentado da doença cardiovascular e seguem relacionados com estresse de trabalho.
Um estudo com adultos suecos encontrou que os homens, que relataram o esforço elevado e a recompensa baixa no trabalho, tiveram níveis aumentados da relação colesterol total /HDL colesterol. Mulheres, cujos trabalhos requereram mais esforço, tiveram níveis mais elevados do LDL colesterol. As variações de IMC, hipertensão, níveis lipídicos são as evidências clínicas da relação entre o estresse de trabalho e a doença cardiovascular. Retomando ao estudo Whitehall II a doença coronariana esteve aumentada entre homens (aumento 1.43 vezes), mas não entre mulheres. Entretanto, os homens e as mulheres experimentaram riscos aumentados da doença coronariana com demandas mais elevadas no trabalho.
Este risco aumentado relacionou-se com estresse de trabalho em todas as classes de emprego na organização. Um estudo brasileiro realizado na cidade de Juiz de Fora, mostrou que os agentes penitenciários examinados exibiram maior nível de estresse, maior peso corporal, maior circunferência da cintura, além de níveis mais elevados de triglicérides e níveis mais baixos de HDL- colesterol, sugerindo que há relação entre o estresse ocupacional destes indivíduos, sob maior demanda psicológica no exercício de sua profissão, e a síndrome metabólica, condição que envolve altos índices de morbi- mortalidade ligadas, principalmente, à doença cardiovascular aterosclerótica.
Prevenindo o problema
Os efeitos do estresse no trabalho constituem uma preocupação da saúde pública. Como clínicos, o melhor que nós podemos fazer é aconselhar pacientes sobre os eventos cardiovasculares e metabólicos potenciais associados com os níveis elevados do estresse e incentivar escolhas saudáveis e mudanças de hábitos de vida para pacientes em risco.
Talvez seja utopia pedir que os empregadores reduzam o estresse de trabalho em todos os níveis em nossa economia tão competitiva, e estes mesmos empregadores devem compreender que a saúde de seus empregados é o segredo de seu sucesso.
Devemos incentivar também a implementação de programas para a redução do estresse no trabalho e monitoramento de pacientes de risco, torcendo pela melhora nos resultados metabólicos, cardiovasculares e emocionais dos indivíduos expostos.
Dra. Glaucia Duarte é médica endocrinologista (CRM/SP 91952), doutorada em Endocrinologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), da Sociedade Latino Americana de Tireóide e do ICCIDD (International Council for the Control of Iodine Deficiency).
Para saber mais, acesse: http://draglauciaduarte.wordpress.com