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Você conhece alguém que tem ou teve câncer de mama? Esse tumor maligno se desenvolve na mama a partir de alterações genéticas em algum conjunto de células, que passam a se dividir descontroladamente. Assim, ocorre o crescimento anormal das células mamárias, tanto do ducto quanto dos glóbulos.
Esse é o tipo mais comum de câncer entre as mulheres no Brasil e no mundo, depois apenas do câncer de pele não melanoma. Entre o total de novos casos de cânceres em mulheres, cerca de 28% dos diagnósticos são de tumores de mama. Os homens também podem ter a doença, mas o número é bem menor do que o delas: apenas 1% deles apresentam esse câncer. Segundo dados da Sociedade Brasileira de Mastologia, cerca de uma em cada 12 mulheres terão um tumor nas mamas até os 90 anos de idade.
Em geral, a doença surge após os 35 anos e, a partir dai, a incidência começa a crescer progressivamente, em especial após os 50 anos, de acordo com o Instituto Nacional de Câncer - INCA. A estimativa de novos casos de 2016 foi de 57.960. Já as mortes pela doença somaram 14.388, sendo 181 homens e 14.206 mulheres.
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Avanços trazem novas chances de cura e qualidade de vida
Apesar de os números assustarem, a perspectiva de tratamento e cura é cada dia mais positiva, o que faz com que pacientes e médicos sejam bastante otimistas. "O tratamento do câncer de mama tem evoluído drasticamente, é impressionante como melhorou em vários cenários. Hoje as cirurgias são muito menores e com um resultado muito bom", diz o oncologista Daniel Gimenes, do Centro Paulista de Oncologia.
Para a mastologista Karina Patrício Infante, diretora clínica do Instituto Brasileiro de Controle do Câncer, o cenário também é positivo. "Temos cada vez mais tratamentos individualizados, é analisado caso por caso, as terapias, em geral, são prescritas para cada tipo de doença. Antigamente tínhamos um tipo de quimioterapia para todos pacientes", lembra ela. Abaixo, conheça algumas das terapias mais recentes para o câncer de mama e outras técnicas utilizadas no tratamento para que os pacientes convivam com a doença com mais conforto e bem-estar:
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Ribociclib
"Temos duas grandes novidades que apareceram nos últimos anos para o câncer de mama. Existe um grupo de medicamentos inibidores de ciclina que estão disponíveis em outros países e no Brasil ainda aguarda aprovação. Entre o fim de 2017 e o começo do ano que vem eles já devem estar disponíveis", revela a oncologista clínica Laura Testa, do Instituto do Câncer de São Paulo Octavio Frias de Oliveira - ICESP.
O ribociclib é um desses medicamentos. Ele recebeu no começo de 2017 a aprovação da Food and Drugs Administration, reguladora de medicamentos americana, para ser um remédio de primeira linha contra o câncer RH+/HER2, no tratamento de tumores metastáticos. Em testes preliminares no estudo MONALEESA-2, feito pela Universidade do Texas, o uso do ribociclib junto com o medicamento letrozol foi capaz de reduzir em 44% o risco de evolução da doença e de mortalidade em comparação com a monoterapia com letrozol. Além disso, 53% dos pacientes com doença mensurável tratada com a dupla de medicamentos apresentou uma diminuição mínima de 30% do tumor.
Trastuzumabe
Produzido a partir de uma proteína do sistema imunológico, o trastuzumabe é um tipo de medicamento conhecido como anticorpo monoclonal. O método pode ser utilizado em mulheres com tumores que expressam a proteína HER2. Os tumores da mama que tem essa proteína em sua superfície tendem a se disseminar de forma mais agressiva. O trastuzumabe funciona se ligando a essa proteína HER2, retardando esse crescimento. Além disso, ele estimula o sistema imunológico a combater a doença com mais força.
Recentemente, o medicamento foi incorporado de forma mais ampla pelo Sistema Único de Saúde - SUS, por meio do Ministério da Saúde, passando a ser oferecido para pacientes e em casos de metástase. Esse remédio, que chega a custar R$ 10 mil cada dose, é usado no tratamento do câncer de mama subtipo HER2+, o mais agressivo e que afeta um quinto das mulheres com a doença. "No uso desse medicamento na doença já avançada, com metástase, é possível notar muitos benefícios. É comum ter respostas fantásticas, tenho pacientes que há 10 ou 15 anos teriam falecido, mas hoje eles têm outra opção", diz Gimenes.
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Palbociclib
"Para os cânceres luminais, o avanço está na doença com metástase. Deve chegar um remédio novo, o palbociclib, que agregou muitos benefícios na hormonioterapia com metástase. É um comprimido que vem para substituir a quimioterapia", revela Gimenes. A Food and Drug Administration aprovou esse medicamento com base nos resultados dos testes no estudo PALOMA-2. No Brasil, ainda não há a aprovação.
Em 2015, o medicamento teve aprovação do FDA em combinação com letrozol. Já em 2016, teve uma segunda indicação: o tratamento de câncer de mama RH+, HER2 ou avançado ou metastático em combinação com fulvestrant em mulheres com progressão da doença após a terapia endócrina. Atualmente, ele é o tratamento de combinação oral de primeira linha aprovado pela FDA para câncer de mama HR +, HER2-metastático.
Imunoterapia
"Aprovada para outros tipos de câncer, a imunoterapia mudou o paradigma de muitas doenças, mas em câncer de mama ainda estamos aprendendo quais pacientes terão o benefício. Ainda não entendemos quais são os que mais vão se beneficiar", explica Laura. A imunoterapia para o tratamento do câncer é, de uma forma bem simples, uma maneira de combater o problema utilizando o próprio sistema de defesa do corpo para atacar as células do câncer. Normalmente, o comportamento do tumor determina se será necessário tratamento e qual, uma vez que cada tipo de câncer pode responder melhor ou pior a um tipo de tratamento.
Alguns tipos de câncer são capazes de driblar o sistema imunológico usando uma espécie de "camuflagem" para não ser notado, ou então "desligando" os mecanismos do corpo responsáveis por identificar que há algo errado com aquela célula. O tratamento dá ferramentas para o sistema imune enxergar essas células e combatê-las mais fortemente, por meio de medicamentos orais ou injetáveis.
Oncoplastia
Não está diretamente envolvida no tratamento, mas a oncoplastia tem muito a oferecer para as pacientes quando o assunto é bem-estar e autoestima. As técnicas de reconstrução da mama trazem uma nova esperança de retomada da vida normal para as pacientes. "O que tenho visto nos últimos anos é a incorporação da oncoplastia cada dia mais comum, com resultados cada vez mais impressionantes. Antigamente, isso era feito cerca de dois ou até cinco anos depois da mastectomia e hoje isso é pensado muitas vezes no primeiro ato da cirurgia", alerta Gimenes.
Crioterapia
A crioterapia capilar é a forma utilizada atualmente para evitar a queda dos cabelos durante a quimioterapia. "Esse não é o ponto mais importante do tratamento, longe disso, mas posso afirmar que nunca vi tanta felicidade nos últimos 20 anos por causa dessa técnica. O fato da pessoa fazer o tratamento e não perder o cabelo acaba minimizando o estigma, o sofrimento, a parte social, hoje ela não precisa se esconder", relata o especialista do CPO.
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Menos efeitos colaterais na quimio
Por mais que eles ainda existam, hoje os efeitos colaterais da quimioterapia já foram muito minimizados. "Os tratamentos que incorporamos no dia a dia são espetaculares. A chance de náuseas e vômitos diminuiu absurdamente, anos atrás era necessário até internar para inibir os vômitos, mas hoje melhorou muito", conta Gimenes. Ele também afirma que hoje existe um risco muito menor, quase raro, de infecções e de internações por alguma complicação. A qualidade de vida aumentou muito para as pacientes e a perspectiva é de que essa progressão continue.
Medicina integrativa
Também se populariza cada vez mais o uso da medicina integrativa como forma de agregar qualidade de vida para a nova rotina dessas mulheres, que agora convivem com a doença. "O tratamento de suporte é fundamental para ajudar as pacientes e incentivamos muito todas as formas de cuidado", diz Laura.
"Essa linha vem agregando muito, principalmente a ioga. Temos pacientes para os quais indicamos a acupuntura, por exemplo, para aliviar os sintomas da doença. Essas estratégias podem somar bastante e crescem a cada dia", conta Gimenes. "Outro enorme avanço é que atividade física virou prescrição, tem que fazer. Isso, claro, dentro das condições da paciente, mas é possível e é desejável. Parece algo bobo, mas temos dados consistentes sobre o aumento da chance de cura e melhora da expectativa de vida dessas pacientes", completa ele.
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O que esperar para os próximos anos?
Uma coisa que os especialistas concordam de forma unânime é que o futuro do tratamento do câncer de mama é bastante promissor. "Enquanto não tivermos todas curadas, não vamos descansar. É fundamental reforçar os trabalhos de prevenção, orientar sobre o que fazer para não ficar doente. Em um futuro próximo teremos mais medicamentos, mas nós, pesquisadores, temos que continuar procurando outras alternativas que não sejam apenas os remédios", ressalta Laura.
"São realizadas muitas pesquisas aqui no Brasil, internacionais, temos pacientes com protocolos para custeamento de voos para análises fora do país, fazemos a biópsia e mandamos o fragmento para fora, existem muitos medicamentos novos. O cenário é muito bom", reforça Karina.
Para Gimenes, a busca também é por bons resultados na recuperação das pacientes utilizando menos medicamentos. "Temos um índice de sucesso muito alto e a expectativa é atingir esse mesmo sucesso com menos tratamento. Já atingimos isso no âmbito cirúrgico e vamos conseguir mais, mas na parte quimioterápica pode ser que consigamos no futuro. A cura de uma paciente com câncer HER já pode chegar a 98%, um resultado espetacular. O próximo passo é escalonar", finaliza.