Xi, isso é psicólogico. Com certeza você já escutou essa frase, dita quando nenhum motivo aparente parece justificar est...
iComeçar de novo e contar comigo,
Vai valer a pena ter amanhecido
Ter me rebelado, ter me debatido
Ter me machucado, ter sobrevivido
Ter virado a mesa, ter me conhecido
Ter virado o barco, ter me socorrido...
(Ivan Lins e Victor Martins)
A bela música Começar de novo traduz um pouco a mensagem de hoje. Espera-se que no ano novo as pessoas falem, escrevam e pensem nasnovas decisões para a vida, pois se não forem novas parecerá que nada foi acrescentado.
Esta semana me deparei com um grande conflito de uma pessoa que estava fortemente inclinada a retomar uma relação afetiva que não tinha dado certo. Ao invés de se ver tomando uma iniciativa com ousadia e coragem ela se via como
uma pessoa que não progredia nem evoluía.
Perceber que retomar uma história, apesar de factualmente terminada, não está no nosso íntimo é um ato de amor por nós e pelo outro, e a tentativa de reconstrução é parte integrante de nossa estrutura psíquica, senão a nossa vida seria construída apenas por um monte de destroços. Muitas querelas, principalmente de cunho afetivo, são conseqüências de ações impulsivas, infantilidade e a maioria pela overdose emocional que impede um raciocínio claro e tranqüilo sobre os reais motivos da separação.
E por que não dar outra chance, passados os momentos inflamados, alimentados pelo fogo da frustração, decepção ou ciúme? E se ambos sentem a necessidade desta retomada, qual razão impediria essa tentativa? Amor próprio? Orgulho? Preguiça?
Eu diria que esse momento é preciso e não deve ser perdido nem desperdiçado, pois seria o momento ideal para rever os contratos ou as bases em que essa relação fracassada se baseou. Desta maneira, as partes envolvidas têm a chance de reverem seus desejos reais, e não fantasiosos, aumentando a autoconsciência e auxiliando o desenvolvimento de cada um como pessoa e do casal por conseqüência.
Seria uma nova chance para o relacionamento, mudando padrões de funcionamento, não só nas promessas ou fantasia de um par perfeito; mas principalmente mudanças baseadas no desejo pessoal de ser mais feliz com consistência e responsabilidade.
Comecei esse artigo querendo, na verdade, dar dicas para viver bem o novo ano e, naturalmente, quando se fala em bem estar se fala em perdão a si e por não ser perfeito, errar e refazer o caminho e ao outro também. Pois harmonia familiar e amor construído são ótimos se viver, desde que sejam construídos com nossas ferramentas do cotidiano, ou seja, emoções boas e ruins.
Essa fórmula não abstrai outros momentos que não são amorosos e familiares. Até porque se a pessoa está equilibrada com os anseios afetivos e detém na própria mão suas deficiências, com certeza será mais tranqüila ao lidar com frustrações e decepções no trabalho, onde conviver com o diferente, de modo geral, traz uma grande dificuldade de lidar com os obstáculos. E se esse trabalho não estiver satisfazendo, haverá muito mais forças para mudanças, radicais ou não, se a pessoa se sentir amada e protegida.
E começar de novo, buscando tudo novo, amizades, amores, por que não? Desde que se tenha permitido com calma, respeitando todas as fases da possível reconstrução daquilo que se tinha e percebido que realmente não dava para fazê-lo, por que não? Mas nunca se esquecer que antes de chutar o balde é preciso ver se ele não vai quebrar o dedo do pé...
Pois o que vai resultar da empreitada de fazer planos e tomar atitudes no ano novo é a coerência de cada um com o seu real desejo.
Boa sorte!
Márcia Atik é psicóloga, terapeuta sexual e conferencista.