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Câncer. Que palavra difícil de pronunciar. Mais difícil do que falar é lidar com as mudanças que ele causa na nossa rotina, independentemente de ser paciente ou conhecer alguém que convive com ele. Ao primeiro contato, o câncer faz a gente acreditar que a areia da ampulheta da vida está caindo mais rápido e o tempo dali em diante é curto. Mas será que é assim para todo mundo? Ou será que esse medo que causa desconforto até em pronunciar a palavra não se dá pela nossa falta de preparo em falar sobre a doença?
Jussara Del Moral é uma dessas pessoas que não tem medo de falar sobre o câncer. Inclusive, ela fala sobre isso carregando sua marca registrada: o sorrisão no rosto e a malemolência da vida. Ela é paciente com câncer de mama metastático e convive há cerca de 10 anos com a doença.
Durante seu tratamento conheceu e fez amizade com outras mulheres que também fazem tratamento contra o câncer. Com uma longa experiência acumulada ao longo dos tratamentos que realizou, ela também aprendeu a ser um ombro carinhoso para mulheres que receberam um diagnóstico de câncer ou de metástase. Ela conversou com o Minha Vida e deu algumas dicas sobre como falar a respeito e ajudar uma amiga que tem câncer de mama.
Acolhimento e carinho fazem a diferença quando o mundo desaba
Quando uma pessoa descobre um câncer as emoções podem transbordar, por isso, ter um amigo por perto pode ajudar a amenizar o turbilhão de emoções. Jussara diz que não precisa vir com frases prontas. Aliás, ter um discurso preparado, na maioria das vezes, mais atrapalha do que ajuda.
Sendo assim evite frases como "vai ficar tudo bem", "cabelo cresce", "você esqueceu de fazer os seus exames?", "conheço uma pessoa que teve o mesmo câncer que você e se curou", "você tem que ser forte".
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A psico-oncologista Luciana Holtz e presidente da Oncoguia explica que, infelizmente, é comum haver um afastamento quando uma amiga é diagnosticada com câncer. "Às vezes é inconsciente e, por não saber o que fazer, por ter dificuldade de lidar com a notícia ou ter medo de perder a amiga, as pessoas acabam se afastando", conta. Segundo Luciana, muitas das mulheres que frequentam a Oncoguia dizem que estão magoadas porque as amigas sumiram.
Não tem problema não saber o que dizer ou não saber o que fazer. O melhor é ser verdadeira e acolher sua amiga, seja com um carinho, um abraço verdadeiro, um olhar amoroso; um gesto que mostre o quanto ela é importante para você. Se sentir vontade de chorar, chore. Sabe aquela famosa gíria "tamo junto"? Ela serve tanto para momentos de alegria quanto de tristeza.
Oferecer ajuda, na teoria, é bom, na prática é melhor ainda
Além de precisar lidar com a carga emocional do câncer de mama, a paciente oncológica precisa lidar com uma série de informações novas. Essa mudança costuma causar uma bagunça na rotina. E é aí que você pode oferecer ajuda à sua amiga. Soluções práticas como buscar as crianças na escola, fazer a compra no mercado, pagar uma conta, acompanhar na consulta ou na quimioterapia podem trazer mais leveza para a rotina de uma mulher que está com câncer. Se não der para ajudar dessa forma, também é possível ajudar nas tarefas de casa no fim de semana ou ser aquela pessoa que vai ajudá-la a se desconectar do câncer.
Luciana cita uma frase dita por muitas pacientes: "eu tenho câncer, mas não estou doente". Muitas pacientes diagnosticadas com câncer, dentro das suas possibilidades, continuam trabalhando e levando uma rotina parecida com a que tinha antes do câncer. Ninguém é coitado.
Sensibilidade é um sentimento genuíno, dó não
O tratamento oncológico tem altos e baixos e cada paciente lida com ele de um jeito, não dá para generalizar. Mas uma coisa que nenhum paciente quer, segundo Jussara, é que sintam pena dela. "A gente já tem tanta coisa para lidar, tantas novidades que precisamos nos acostumar. A última coisa que a gente precisa de alguém próximo é que tenha pena de nós", alerta. Ficar triste pela doença da sua amiga é normal, dar uma força é fundamental, mas não pense que o fato de sua amiga estar com câncer faça com que ela seja menos.
Buscar informações faz a diferença na vida de todas as pessoas
Hoje em dia tem muita informação na internet sobre câncer de mama que pode esclarecer as mais diversas dúvidas. Jussara mesmo tem um canal no YouTube com informações sobre o câncer: o SuperVivente. Além disso, existem sites e associações de confiança que fornecem explicações relevantes sobre o assunto.
Jussara explica que é importante para uma paciente com câncer de mama ter amigas informadas sobre o assunto, pois elas podem ajudar a entender melhor o que está acontecendo, podem ajudar fazendo perguntas nas consultas e auxiliar a paciente a ter mais qualidade de vida. A psico-oncologista Luciana explica que pesquisar sobre o assunto também dá mais segurança para contribuir com a rotina de tratamento da amiga.
Amizade entre pacientes: um aconchego diferente
Jussara convive com o câncer há cerca de 10 anos. Durante esse período formou uma rede de amigas que também convivem com o câncer de mama, algumas com câncer metastático, outras não. Para ela é normal e necessário que o paciente com câncer faça amizade com outros pacientes. Inclusive, ela contou que antes da entrevista com o Minha Vida, estava em um restaurante comemorando com suas amigas o resultado do exame de uma delas. "A gente fala a mesma língua, entende quando uma está feliz ou triste. Quem não tem câncer, por mais que se coloque no nosso lugar, nunca vai entender o que a gente passa", explica.
Como forma de apoiar outras pacientes com câncer metastático, Jussara trabalha como voluntária na Rede Mais Vida, da Oncoguia. O projeto visa auxiliar pacientes com câncer de mama metastático a lidarem com a nova etapa no tratamento. ?Quando a paciente descobre uma metástase ela fica perdida e muitas vezes não sabe o que fazer com tanta informação. Na Rede Mais Vida, procuramos desmistificar que o câncer metastático não é sentença de morte", conta.
Amigas também são cuidadoras
Muitas vezes a paciente com câncer pode sentir uma tristeza profunda e não notar que aquele sentimento pode indicar uma depressão. Nesse quesito, Luciana explica que as amigas podem fazer grande diferença e alertarem, por exemplo, ao médico que algo não vai bem. Em outras situações típicas do tratamento oncológico, como a perda dos cabelos, ter uma amiga por perto para aprender a amarrar o lenço ou escolher uma peruca torna o momento menos doloroso.
Lembre-se sempre que sua presença é fundamental para sua amiga seguir em frente
O câncer muda muitas coisas na vida de uma mulher, inclusive os sentimentos. Causa dor física e psicológica, mas ele não define ninguém. Sua amiga ainda está aí, tentando lidar com a situação da melhor forma que consegue. Contar com a parceria de pessoas queridas é o remédio que ameniza as dores da rotina e não tem efeito colateral.