Graduado em Medicina pela Faculdade de Medicina do ABC (1978) e doutorado em Psiquiatria pela Faculdade de Medicina da U...
iUma questão relevante quando o assunto é prevenção do uso de álcool por jovens diz respeito ao papel que os pais exercem na redução do risco de experimentação precoce e consumo excessivo de bebidas alcoólicas pelos filhos. A família influencia o comportamento dos jovens em relação ao uso de álcool?
Estudo recente, publicado no periódico Addiction, trouxe resultados importantes: quando os pais deixam bebidas alcoólicas acessíveis ou permitem o seu consumo em casa, os adolescentes têm mais chances de começar a beber mais cedo ou desenvolver problemas relacionados ao álcool. Por outro lado, o monitoramento dos pais é um dos principais fatores de proteção.
É imprescindível reforçar que os efeitos do álcool são especialmente nocivos para cérebros que ainda estão em desenvolvimento. Quanto mais precoce a experimentação de bebidas alcoólicas, maior o risco de desenvolver dependência no futuro. Por isso, é inaceitável o consumo de álcool por crianças e adolescentes.
No entanto, apesar da Lei nº 13.106/2015 tornar crime ?vender, fornecer, servir, ministrar ou entregar, ainda que gratuitamente, de qualquer forma, a criança ou a adolescente, bebida alcoólica ou, sem justa causa, outros produtos cujos componentes possam causar dependência física ou psíquica?, o número de estudantes entre 13 e 17 anos que já experimentaram álcool aumentou de 50,3% (2012) para 55,5% (2015), e 21,4% desses estudantes afirmaram já ter inclusive passado por algum episódio de embriaguez. Os dados são da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Fique atento a alguns sinais sutis que podem indicar o consumo de álcool pelos jovens: mudança brusca de comportamento sem razão aparente, isolamento, queda no rendimento escolar e falta de interesse em atividades que antes eram prazerosas, são alguns exemplos. É claro que esses sinais são típicos da adolescência, mas a atenção deve ser redobrada quando muitos deles são observados ao mesmo tempo ou começam a se intensificar progressivamente. Por isso é importante que você participe da vida do seu filho, conheça os seus amigos, os locais que frequentam e o que gostam de fazer! O estabelecimento de limites deve sempre partir de um diálogo franco e informativo.
Diante deste cenário, pais e familiares precisam assumir sua responsabilidade na formação de valores que protegem o jovem do consumo precoce e excessivo de álcool. Não apele para sermões. O diálogo aberto e amigável constitui uma importante ferramenta na proteção dos jovens. É importante estabelecer uma relação de parceria e confiança, explicar as consequências do uso do álcool na adolescência e estimular os jovens a ocuparem seu tempo com tarefas prazerosas e desafiadoras. Manter hábitos saudáveis em casa também faz parte das medidas protetivas. Afinal, os pais não poderão cobrar uma atitude de seus filhos se fizerem exatamente o oposto. Dar o exemplo não é uma das melhores maneiras de se ensinar algo, mas sim a única!
A prevenção começa na família e falar sobre o assunto contribui para que os jovens se sintam à vontade para tirar dúvidas e façam escolhas saudáveis. E para contribuir na prevenção e redução do uso nocivo de álcool, o Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA), organização não governamental que fundei em 2004, lançou uma série de quatro vídeos educativos, que tem entre os temas o diálogo entre pais e filhos. Fica o convite para acessarem o conteúdo no canal do CISA no YouTube!