Danilo Höfling é endocrinologista e doutor em ciências pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. É Membro...
iO crescimento da criança é uma das preocupações mais comuns na consulta ao endocrinologista. Na maioria das vezes, a apreensão aparece quando os pais comparam a altura de seus filhos com as demais crianças da sala de aula. Essa prática pode levar a erros de interpretação quando vários alunos da classe estão acima da média (o contrário também é verdadeiro).
Embora a genética seja o principal motivo da criança estar mais baixa que outras da mesma idade e sexo, o melhor caminho para o diagnóstico é estimar a velocidade de crescimento (VC). Ela é medida em centímetros por ano, desde o nascimento até o fechamento das cartilagens de crescimento.
Na avaliação de uma criança que parece estar mais baixa que a média, dois pontos são muito importantes: saber se a criança tem, de fato, baixa estatura e entender se a velocidade de crescimento é normal ou reduzida. O emprego de fórmulas para o cálculo da estatura-alvo utilizando a altura dos pais também é relevante.
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Como saber que a criança tem baixa estatura?
Para saber se a criança tem baixa estatura, deve-se medi-la com auxílio de um estadiômetro (equipamento desenvolvido para esse fim) e colocar o resultado em um gráfico de crescimento (em percentis ou desvios-padrões) para comparar sua altura com a de outras crianças da população de referência.
As crianças com baixa estatura são aquelas que se encontram abaixo do percentil 3 ou de -2 desvios-padrão, quando comparada aquelas com mesma idade e sexo.
Como saber se a criança está com uma velocidade de crescimento reduzida?
Para avaliar a velocidade de crescimento, novas mensurações de altura são realizadas em intervalos de 3 a 6 meses até completar, no mínimo, 12 meses ? daí importância do acompanhamento médico.
Os valores obtidos são colocados nas curvas de crescimento para comparar a velocidade de crescimento de uma criança com a de outras de mesmo sexo e idade.
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A velocidade de crescimento normal é o principal sinal de que a saúde do paciente é boa. Quando está normal para a sua idade cronológica, seguramente a criança não apresenta nenhuma doença naquele momento. A presença de baixa estatura associada à redução da velocidade de crescimento indica a necessidade de investigação para a causa do problema.
Baixa estatura idiopática
Os desvios da normalidade representam cerca de 90% das causas de baixa estatura. Este grupo de crianças é, atualmente, classificado como Baixa Estatura Idiopática (BEI), que, por sua vez, é composto por três subclasses: Baixa Estatura Familiar (BEF), Retardo Constitucional do Crescimento e Puberdade (RCCP) e a BEI. As crianças e adolescentes com baixa estatura idiopática têm:
- Estatura abaixo do percentil 3
- Velocidade de crescimento, peso e comprimento ao nascer normais
- Ausência de alterações psicossociais, doenças crônica e endócrina
- Proporções corporais normais
- e ingestão alimentar adequada.
Quando o problema é outro
São muitas as doenças que podem levar à diminuição do ritmo de crescimento e a baixa estatura. Nestes casos, habitualmente há presença de baixa estatura e redução da velocidade de crescimento. Embora as doenças endócrinas sejam a causa do problema na minoria das vezes, elas também devem ser investigadas, uma vez que podem promover grande redução da estatura final.
Dentre as doenças endócrinas, inclui-se a deficiência do hormônio de crescimento (DGH), que não é significativa logo após o nascimento, mas torna-se clara após o segundo ano de vida. Pode ser menos evidente quando a DGH é parcial e/ou aparece mais tardiamente na infância ou adolescência.
A DGH afeta uma em cada 4 mil crianças. O hormônio de crescimento passa a ter maior importância no crescimento a partir dos dois anos. Sua secreção ocorre em picos, com várias elevações durante o período de sono.
Ela pode variar desde casos típicos de deficiência total, até mínima carência ou ainda alterações do ritmo secretório de hormônio de crescimento (GH).
Além disso, o problema pode ser congênito, adquirido, isolado ou associado à deficiência de outros hormônios hipofisárias: TSH, ACTH, LH e FSH.
No caso da congênita, o crescimento lento é notado entre 18 e 24 meses e, na maioria das vezes, está associado a malformações do sistema nervoso central ou em outras estruturas, especialmente as da linha média da face.
Já nas deficiências de GH adquiridas, a curva de crescimento é normal após o nascimento e, depois de um período variável de tempo, começa haver redução progressiva da Velocidade de Crescimento, que leva à baixa estatura.
Podem ser destacados como causas principais de DGH: traumas, irradiação, quimioterapia, privação psicossocial, infecções do sistema nervoso central, aneurismas ou infartos hipofisários, histiocitose, tumores hipotálamo-hipofisários e idiopática.
Na suspeita de déficit de GH, geralmente são necessários testes específicos para a dosagem de GH no sangue antes e depois da administração de substâncias que estimulam o aumento deste hormônio. Nas crianças com deficiência, o GH sobe pouco após o estímulo com essas substâncias.
O tratamento é feito pela aplicação subcutânea de GH recombinante diária, que é calculada em função do peso da criança. Tal medicamento é considerado seguro para o tratamento de DGH, com raros efeitos colaterais graves. A monitorização do tratamento é de fundamental importância e deve ser realizada em consultas clínicas com intervalos de 3 a 6 meses.
O principal objetivo do tratamento com GH em crianças e adolescentes é o de aumentar a velocidade de crescimento, a altura final e a massa óssea.
Como diagnosticar isso tudo cedo?
O principal conselho aos pais é que levem os filhos ao pediatra a cada 6 meses para a avaliar a estatura e a velocidade de crescimento, pois assim qualquer alteração será identificada precocemente.
Lembrem-se que a velocidade de crescimento é um dos melhores parâmetros de saúde dos filhos. Na suspeita de DGH, as crianças serão encaminhadas ao endocrinologista. Quanto mais precoce for o início do tratamento com GH, melhor o prognóstico da estatura final.