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Ser mãe pode ser uma experiência transformadora na vida de uma mulher. Ter um filho altera nossas perspectivas, e nos faz descobrir características importantes que estavam ocultas dentro de nós. Quem vive o dia a dia materno sabe como é criar uma criança. Mas você já parou pra pensar no que muda quando você se torna mãe no Brasil?
Nosso país ainda apresenta diversas deficiências quando refletimos sobre a assistência às mães oferecida pelo governo. Além disso, ao analisarmos os dados, concluímos que a desigualdade de gênero influencia negativamente a experiência de ser mãe. Veja a seguir, sete fatos não tão legais sobre ser mãe no Brasil:
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1. Brasil tem 5,5 milhões de crianças sem pai no registro
De acordo com dados divulgados pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), levando em conta o Censo Escolar de 2011, nosso país tem 5,5 milhões de crianças sem o nome do pai na certidão de nascimento. O número equivale à população estimada da Finlândia.
O estado com maior número de abandono parental é o Rio de Janeiro, com 677.676 crianças sem registros do pai. São Paulo assume a vice-liderança, com 663.375 crianças apenas com o nome da mãe no registro.
Estes números apontam para problemas alarmantes, como o fato de muitas mulheres assumirem toda a responsabilidade de criarem um filho sozinhas, bancando despesas mensais excessivas, muitas vezes sem ter condições econômicas para isso.
Além disso, o direito à paternidade é garantido pela lei. Caso você deseje que seu filho tenha o nome do pai registrado em seus documentos oficiais mesmo que ele se negue, é possível solicitar a ação em um cartório de registro civil mais próximo de sua casa. Para maiores informações, acesse o site do CNJ.
2. Brasil tem mais de 20 milhões de mães solo
O termo "mãe solo" é utilizado para desvincular o papel de criar um filho sozinha ao estado civil. Segundo dados do instituto Data Popular, nosso país tem 67 milhões de mães, sendo que 31% delas criam seus filhos sem o parceiro. Estes números revelam o crescente número da ausência paterna em âmbito nacional. Entretanto, os dados também podem ser positivos, já que atualmente as mulheres têm maiores possibilidades de serem financeiramente autônomas.
O perfil das mães brasileiras (solo ou em uma relação estável) é formado por mulheres com idade média de 47 anos de idade, sendo 55% delas de classe média, 25% de classe alta e 20% de classe baixa. Neste último caso, as informações não são animadoras, visto que mulheres com baixa escolaridade e baixa renda podem estar vulneráveis, ao não terem o suporte necessário para criarem seus filhos.
A sociedade também costuma marginalizar essas pessoas, dificultando que elas consigam um bom emprego ou então tenham a oportunidade de estudar.
3. Cerca de 28% das mulheres deixam o trabalho após ter filhos (versus 5% dos homens)
É comum que empresas deixem de contratar mulheres pensando na possibilidade delas engravidarem. A dificuldade inicia-se antes mesmo da contratação para o sexo feminino. Entretanto, os maiores problemas surgem após o nascimento do filho, visto que segundo dados divulgados pela empresa de recrutamento Catho, as mulheres deixam o mercado de trabalho cinco vezes mais que os homens após se tornarem mães.
Enquanto 28% das mulheres deixam o emprego após a chegada do filho, isto acontece com apenas 5% dos homens. Após deixarem o trabalho, 21% das mães demoram mais de três anos para conseguirem se reinserir no mercado profissional, enquanto entre os homens, o fato ocorre em 5% das vezes.
Estes dados apontam para problemas ainda mais enraizados em nossa cultura, como a desigualdade de gênero. Existe a concepção de que criar um filho é um papel exclusivamente feminino, sendo que os homens também desempenham papel importante nos laços parentais, e ainda assim, conseguem seguir com suas vidas normalmente após se tornarem pais.
4. Direito a creche está relacionado à condição sócio-econômica da mãe
Dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que 64% das mulheres que colocaram seus filhos de até três anos de idade na creche estavam empregadas. Entre as mães com filhos que não estavam matriculados em creches, 41,2% estavam empregadas.
Os números mostram como o acesso à assistência materna está relacionado a questões sócio-econômicas das mulheres, já que não há suporte suficiente para que o sexo feminino possa cuidar de outras questões de suas vidas, sem estarem cuidando de seus filhos em tempo integral.
Em entrevista à Agência Brasil, Bárbara Cobo, coordenadora da pesquisa, afirma: "Com essas crianças matriculadas em creche, as mulheres conseguem ter uma participação mais efetiva no mercado de trabalho. O suporte de oferta de creches e escolas em tempo integral é fundamental para permitir que as mulheres consigam conciliar maternidade e estudo, ingressando no mercado de trabalho mais escolarizadas e tendo uma inserção mais qualificada no mercado de trabalho".
5. Brasil lidera ranking de gravidez adolescente na América Latina
Além disso, nosso país fica em segundo lugar no ranking mundial de gravidez na adolescência. Um relatório publicado pela Organização Mundial de Saúde informa que o Brasil tem 68,4 bebês nascidos de mães adolescentes para cada mil meninas entre 15 e 19 anos.
As populações mais afetadas com o fato são aquelas de baixa renda, em que o acesso a métodos contraceptivos é mais escasso. Mulheres negras e com baixo grau de escolaridade estão entre os casos mais recorrentes da gravidez precoce, o que pode perpetuar ainda mais a exclusão social nessa parcela da população.
O programa Saúde da Família do Ministério da Saúde fez com que o número de gestações na adolescência caísse em 17% entre meninas de 10 a 19 anos de idade, oferecendo métodos contraceptivos em regiões desfavorecidas economicamente. Porém, o número ainda continua alto. 66% dos casos de gravidez na adolescência são indesejados, e infelizmente, muitos deles são frutos de violência sexual.
6. Brasil é o país que mais faz partos por cesárea no mundo
Cerca de 84% dos partos acontecem via cesárea em hospitais privados. Já no SUS, o número é de 40%. Entretanto, o número recomendado de cesáreas em território nacional é de 15%, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS).
Atualmente, existem projetos de lei que pretendem limitar a prática apenas para partos de risco, visto que a intervenção causa riscos ao bebê e também à gestante. De acordo com dados do periódico American Obstetrics and Ginecology, o número de óbitos maternos é dez vezes maior em cesarianas, e para os bebês, as taxas de mortalidade se tornam 11 vezes maiores.
É importante reiterar que ser uma boa mãe independe da forma que seu parto foi realizado. Porém, é essencial que você acompanhe atentamente o processo de gestação, realizando os exames necessários para garantir a sua segurança e o bem estar do bebê.
7. Número de famílias chefiadas por mulheres dobrou nos últimos 15 anos
Em 2001, o número de lares comandados por mulheres era de 14,1 milhões em 2001. Esse número saltou para 28,9% milhões em 2015 (um avanço de 105%). As informações oferecem aspectos mistos: Por um lado, isto mostra que o mercado de trabalho está com mais oportunidades para o sexo feminino, proporcionando maior autonomia econômica.
Por outro lado, o número indica a ausência do sexo masculino na partilha de responsabilidades familiares, o que consequentemente faz com que as mulheres sejam obrigadas a arcar com diversos deveres sozinhas, o que pode causar sérios impactos físicos e psicológicos para elas.