Graduada em medicina pela Pontifícia Universidade Católica de Sorocaba em 1980. Especialista em Pediatria pelo Conselho...
iAs consultas pediátricas envolvem técnica, conhecimento acerca de doenças mas também do comportamento de nossos pequenos pacientes. Uma criança que nasce é um presente para o mundo e deve ser acolhida desta forma. O parto natural, o mamar no primeiro minuto e o aconchego são os primeiros passos para um desenvolvimento seguro.
Bebês e dependência
Os bebês mantêm sólidos vínculos com suas mães. Gerar e amamentar consolidam a vida toda de um indivíduo. De todos os mamíferos, o bebê humano é o de maior potencial neurológico mas o fisicamente mais frágil e mais dependente. Ele nasce reconhecendo sua mãe dentre todas as pessoas pelo odor, pelo sabor, uma infinidade de sensações. A mamada na primeira hora de vida firma um compromisso. Quando que a mãe deixa de ser mãe? Nem quando ficamos baixinhas perto deles!
Cada conquista da criança tem seu tempo certo. Fixar o olhar, sorrir, andar, pular, sair das fraldas? Tudo vem em seu tempo.
Nossa tarefa é ajudar nossos filhos para que cresçam confiantes e com todo o potencial. Dizer que o cérebro da criança é uma caixinha vazia onde vamos enchendo com novas informações e aquisições não é correto. O cuidar de uma criança é como construir uma casa. Sobre uma estrutura inicial apoiamos todo restante. Atenção, carinho e limite são nossas formas de dizer "eu me importo com você".
O cérebro desenvolve-se até os 3 anos muito mais do que em qualquer outro período de vida. Até os dois anos 80% da massa cerebral está formada, e qualquer deficiência pode refletir em toda a vida.
Crianças, principalmente até os 2 anos, expressam-se muito mais por gestos e sentimentos: choro, birra, desconforto. Crescer é muito difícil, imaginem só a quantidade de informações que a criança recebe e tem de administrar.
Apego a objetos
Até próximo dos dois anos, a criança imagina que ela e a mãe são um só indivíduo. A partir dessa idade a criança começa a ter sua própria individualidade e a perceber que a mãe e ela são duas pessoas, e que em alguns momentos estarão separadas. Esse seria um dos motivos para as mães que retornam ao trabalho após licença terem seus bebês acordando mais a noite. A criança sofre a ausência, fica insegura, e nesse momento pode tentar resolver apegando-se a um objeto ou incorporando um hábito.
Se tivermos o trinômio mãe, pai e bebê tranquilo de seus papéis, o processo é mais suave. Porém, se forem demais exigentes pode gerar intensa insegurança na criança. Soma-se a isso a escolinha precoce, bilíngue, aulas de natação, balé... enfim, uma super solicitação da criança.
Então, para sentir mais segurança, as crianças por vezes escolhem objetos para serem preferidos: um paninho, uma naninha, um bichinho, ou mexer repetidamente em uma parte do corpo: enrolar cabelo, mexer na orelha. Isso não deve ser subestimado, é importante, e a criança que escolhe. Eu tinha uma naninha (suja, é claro). Minha irmã, uma bonequinha.
É possível ajudar a criança a superar essa fase do objeto de transição de forma construtiva. Aí vão algumas dicas:
- Entenda que é natural (algumas crianças usam, outras não)
- Elas escolhem, é saudável e aumenta a segurança
- Lave o objeto quando necessário, o cheiro também é importante.
- O choro significa dificuldade. Não ignore a criança, ela está pedindo ajuda.
- Após um dia de trabalho, se os pais chegam em casa e vão cuidar de jantar, trabalhos que ficaram a fazer, para a criança a mensagem é ?tudo é mais importante?, aumentando o uso de outros objetos para consolo. Então, fique junto
Além de tudo, há alguns comportamentos do núcleo familiar que podem aumentar a insegurança:
- Imediatamente oferecer uma chupeta quando a criança chora
- Dar celular ou tablet após a criança fazer manha em local público
Essas formas são muito mais um "fique quieto" do que um consolo. Creio que as crianças têm pleno direito de chorar e fazer manha. Estar ao lado delas ensina a trabalhar e resolver seus lutos. Até uma correção é adequada, e a criança sente-se amada e cuidada. Amparando, elas crescem e passam a ser seres com individualidade dentro de seu núcleo familiar e na sociedade.