Médico especializado em angiologia e cirurgia vascular graduado pela Universidade Federal de Minas Gerais. Atualmente é...
iNo final do século XIX, o alemão Rudolf Virchow (1821-1902) criou uma teoria que é válida até hoje sobre os fatores que podem desencadear uma trombose. É baseada em três fatores, daí ser conhecida como tríade de Virchow. Lesão da parede do vaso, alterações do fluxo sanguíneo e alterações que deixam o sangue mais grosso (hipercoagulabilidade). Veja abaixo uma imagem de como funciona a teoria:
No caso de fraturas ou acidentes, o mais comum é junto da fratura acontecer uma lesão de um vaso. Se houver uma ruptura do vaso e consequentemente uma hemorragia, os processos normais de coagulação sanguínea vão entrar em ação para estancar a hemorragia. Porém esses processos ficam ativados e, no caso de fratura ou acidentes, entra em cena um segundo fator desencadeante de trombose, que é alteração do fluxo sanguíneo. Nesses casos a imobilização, que normalmente acontece após uma lesão e que deixa o fluxo sanguíneo mais lento, facilita a formação de trombos. Essa imobilização prolongada associada ao trauma pode desencadear uma trombose.
Às vezes, principalmente em casos de acidente, pode existir a necessidade da punção de veias para administração de soro ou sangue e essas punções venosas com cateteres que podem ficar por um tempo maior também podem ser um fator a mais no aparecimento de trombos. Além disso, a pessoa acidentada pode ter nascido com uma facilidade maior em fazer trombos, chamada de trombofilia. Normalmente é uma tendência familiar e é comum algumas pessoas da família relatarem episódios de trombose.
Outros momentos da vida da pessoa podem fazer o sangue ficar com maior tendência a formar trombo, por exemplo durante a gestação e no período pós-parto (puerpério).
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Além disso, certas doenças como neoplasias malignas, alguns tipos de doenças reumatológicas, pessoas que usam pílula anticoncepcional e são fumantes, portadores de varizes volumosas e obesos também podem ter mais facilidade de formar trombos. Quando existe a associação de mais de um fator da tríade, aumenta a chance de acontecer uma trombose.
Agora que sabemos o que ajuda a dar trombose, podemos agir para prevenir. Em caso de acidente ou fratura, é muito importante a mobilização precoce, ou seja, evitar ficar muito tempo parado. Se não for possível, e dependendo de cada caso, existe a possibilidade do uso de medicamentos antitrombóticos, que podem prevenir a formação de trombos, mas nem sempre podem ser utilizados pois podem aumentar o sangramento se as lesões ou fratura forem graves.
Outro ensinamento importante é cuidar sempre da saúde, tentando cultivar bons hábitos de vida, não fumar, manter o peso equilibrado, praticar atividade física regular para manter um tônus muscular adequado, cuidar das varizes, se for o caso, pois todos nós estamos sujeitos a um acidente e, se estivermos saudáveis, com a imunidade boa, a chance de desenvolver um problema como a trombose é muito menor.
Se apesar de todos os cuidados, como movimentação precoce, uso de medicação antitrombótica, cessação do tabagismo e hormônios, mesmo assim o paciente machucado tiver uma trombose, o tratamento será o habitual, com medicação anticoagulante, a não ser que haja muitas lesões com possibilidade de sangramento. Nesses casos existe a possibilidade da implantação de um filtro em uma veia no abdômen, chamada veia cava, que não vai tratar a trombose, mas evita que o trombo possa subir para o pulmão e causar um transtorno maior, como a embolia pulmonar.
Recado final: cuide bem de você, de sua saúde vascular e evite a imobilização prolongada.