Dr. Thiago Righetto é médico ortopedista com especialização em traumatologia do esporte e cirurgia do joelho; atua també...
i"Crianças não podem fazer musculação": Mito
Se realizada de forma correta, a musculação na infância pode gerar muitos benefícios. Como o equilíbrio e o controle postural atingem sua maturidade por volta dos 7, 8 anos de idade, o ideal é iniciar os treinos antes de atingir essa faixa etária, seguindo as orientações de exercícios e acompanhamento profissional, a fim de diminuir o risco de lesão.
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"É preciso consultar um médico antes": Verdade
Importante ressaltar que toda criança deve realizar uma consulta médica para avaliação pré-participação esportiva, até mesmo na musculação, de modo a constatar se ela possui alguma restrição na parte ortopédica, cardíaca ou pulmonar. Porém, ao contrário dos adultos, essa avaliação inicial dificilmente requer exames complementares como, por exemplo, eletrocardiograma.
"Crianças não devem ir à academia": Verdade
Sempre destaco que os responsáveis devem desencorajar os treinos em casa sem supervisão, principalmente nos aparelhos de academia. Afinal, há um maior risco de lesão e estiramento muscular em crianças e adolescentes que praticam exercícios sem supervisão.
Além disso, aparelhos de academia são feitos para adultos. Portanto, para as crianças, os exercícios com pesos livres são os mais indicados.
Treinos com levantamento de uma carga alta ou com movimentos rápidos também não são recomendados, pois é difícil avaliar e manter o movimento correto, e a sobrecarga na musculatura e na articulação podem ser maiores.
"É possível ter hipertrofia na pré-adolescência": Mito
Durante a fase pré-puberal (antes da puberdade) é possível realizar exercícios de fortalecimento muscular com sucesso, porém, não se espera que essas crianças tenham hipertrofia da musculatura por conta da parte hormonal.
Acredita-se que exercícios que envolvem pliometria (treinamento de salto) e treino neuromuscular (ativação de neurônios para contração muscular) com mudança de direção diminuem o risco de lesão, principalmente nas meninas.
Crianças nessa fase do crescimento não devem participar de treinamento ou competições de levantamento olímpico, halterofilismo ou treinos com uma repetição com carga máxima para ganho de força muscular.
"Musculação pode melhorar o rendimento escolar": Verdade
Os benefícios de atividades físicas na infância e adolescência são enormes, como melhora da capacidade cardiopulmonar, aumento da densidade óssea, melhora do perfil lipídico (colesterol e triglicerídeos) e melhora da saúde mental.
Saiba mais: Exercícios físicos na infância equilibram níveis de triglicérides e colesterol
A fase puberal (puberdade) é a mais importante para melhorar o estoque ósseo, o que é fundamental para prevenir a osteoporose futuramente. Sabe-se ainda que a prática de atividade física melhora, sim, o rendimento escolar. É um erro parar esse tipo de atividade no ano preparatório para o vestibular, pois o rendimento nos estudos pode ser prejudicado.
"Crianças também devem treinar 3 vezes por semana": Verdade
O indicado é pelo menos de 20 a 30 minutos de exercício, pelo menos 2 a 3 vezes por semana. Os treinos devem incluir todos os grupos musculares, exercícios para o "core" (abdômen, lombar, glúteos e músculos oblíquos) e devem ser feitos utilizando todo o arco de movimento.
Crianças devem treinar sem peso inicialmente, seguido de carga baixa. Já os adolescentes devem começar com uma carga baixa até que dominem a técnica do movimento de cada exercício.
Quando de 8 a 15 repetições são realizadas sem dificuldade, pode-se aumentar a carga em 10%. Um aumento no número de repetições também pode ser utilizado visando aumentar a resistência muscular para prevenção de lesão em esportes com movimentos repetitivos.
"Crianças com hiperfrouxidão são melhores na musculação": Mito
Muita gente associa a hiperfrouxidão ligamentar a movimentos com maior amplitude, pensando já nas jovens ginastas que conseguem colocar os pés na cabeça, por exemplo. Porém, essa condição é gerada devido a um fator genético de erro na produção de colágeno (ocorrendo a Hipermobilidade Benigna; ou a Síndrome Ehlers-Danlos, que se caracteriza pela frouxidão generalizada). Ou, até mesmo, surgir devido a uma fratura ou torção, resultado na frouxidão daquela articulação muscular. Isso de fato faz com que as pessoas tenham mais predisposição a movimentos incomuns, porém, têm maior risco de lesões, distensões e luxações.
Crianças com hiperfrouxidão ligamentar acentuada são aconselhadas a escolherem outra atividade e não a musculação, para evitar sobrecarga articular e luxação até melhorarem a força muscular. E, assim, estabilizarem melhor a articulação. Vale lembrar que mais de quatro treinos por semana não trazem benefícios e aumentam o risco de lesão de crianças e adolescentes com essa condição.
"Há casos em que crianças precisam ser liberadas para musculação": Verdade
Não existe uma contraindicação específica para crianças e adolescentes treinarem musculação. Os exercícios de fortalecimento não lesionam a placa de crescimento, não possuem efeito negativo ou efeito deletério cardiopulmonar.
Porém, crianças com histórico de hipertensão arterial, que realizaram tratamento para câncer, devem obrigatoriamente passar por avaliação médica para serem orientadas em relação ao tipo de exercício mais adequado.
Pacientes com doenças cardíacas, hipertensão pulmonar e Síndrome de Marfan também devem ser avaliados com cautela.
Crianças em tratamento para crise convulsiva não têm contraindicações desde que as crises estejam controladas.
Crianças com obesidade devem ser também acompanhadas de perto, pois geralmente não possuem uma musculatura bem definida.
"Existem precauções para a musculação infantil": Verdade
Por fim, as precauções são as mesmas para qualquer tipo de atividade física. As recomendações atuais da Academia Americana de Pediatria são:
- Deve-se seguir à risca as técnicas de segurança e realização dos exercícios de fortalecimento. O treino deve ser individualizado levando em conta o nível de habilidade que a criança já possui.
- Pré-adolescentes e adolescentes devem evitar treinos para levantamento olímpico, halterofilismo e treinos com carga máxima até que atinjam a maturidade esquelética e física para esses tipos de atividades.
- Não devem utilizar nenhum tipo de substância para aumentar o rendimento nos exercícios ou anabolizante. Devem ser educados sobre os riscos do uso de tais substâncias.
- Sempre fazer uma avaliação pré-participação esportiva com um médico do esporte ou pediatra.
- Sempre realizar de 10-15 minutos de aquecimento antes dos exercícios e recuperação pós-treino.
- Manter-se sempre bem hidratado.
- Os exercícios devem englobar todos os grupos musculares.
- Os profissionais da área devem ser habilitados para prescrever treinos para crianças e adolescentes.
"Há opções além da musculação para fortalecer os músculos das crianças": Verdade
Crianças não precisam necessariamente optar pela musculação. Aulas de pilates, de circo, além das atividades aeróbicas, são excelentes opções, já que também ajudam a fortalecer a musculatura. Lembrando que as atividades devem começar de maneira lúdica, envolvendo exercícios de fortalecimento muscular e propriocepção (capacidade de localização especial e orientação do corpo, bem como a força exercida pelos músculos).