Com experiência na cobertura de saúde, especializou-se no segmento de família, com foco em gravidez e maternidade.
Basta ligar a TV às quartas-feiras que um canal aberto exibe histórias de famílias que buscam confirmar a paternidade de uma criança por teste de DNA. O quadro traz o acontecimento como um espetáculo, e muitas vezes exibe homens preocupados e até inconformados caso o exame confirme que são pais.
Um levantamento do Conselho Nacional de Justiça descobriu que em 2011 havia 5,5 milhões de crianças sem pai no registro. Quando pensamos que, mesmo tendo o nome no RG do filho, é possível ser ausente do dia a dia da criança, percebemos que o número de pessoas que cresce sem pai é ainda maior.
Se, por um lado, a paternidade pode parecer tão assustadora para um homem, por outro, é comum ouvir relatos de mulheres ainda sobrecarregadas em relação à criação dos filhos. Trocar fraldas, fazer comida e acompanhar a agenda da escola ainda são tarefas consideradas apenas uma "ajuda" quando feita pelos homens, enquanto que para as mulheres ainda é obrigação.
Contra a corrente, há homens de diferentes gerações que vêm subvertendo este cenário. No final dos anos 90, o advogado Reinaldo Rodrigues, hoje com 58 anos, chegava do trabalho e continuava com as responsabilidades em relação aos filhos Hanna (23) e Kauê (22). Todos os dias, era ele quem dava banho, brincava e colocava para dormir.
Rotina de pai e filhos
Em todos os momentos em que não estava no escritório, Reinaldo fazia questão de estar acompanhado dos pequenos. "Aonde eu ia, eu levava os dois. Se eu ia jogar bola, eu levava", relembra. Hoje ele é avô, e acredita que a criação que deu para o filho fará com que Kauê também seja um pai participativo.
A rotina presente é mais desafiadora quando os pais não moram juntos. Desde que se divorciou, a rotina de Bruno Santiago, empreendedor social de 38 anos, é mais atribulada. Mas a separação não foi motivo para se distanciar do filho Samuel, que tem 6 anos. Hoje, o menino fica um dia com a mãe e outro com o pai. "Eu não abri mão de eu ter a mesma rotina com o Samuel. Afinal, a mãe dele também trabalha", argumenta.
Quando o cenário é o de pai e mãe separados, é comum que pais estejam com a criança apenas aos fins de semana, em momento de diversão, ou mesmo nas férias. Nesses dias, a alimentação pode ser menos regrada e a rotina não é "chata", com horários para acordar, tomar banho e ir para a escola.
Essa convivência pode contribuir para que os pais não sejam associados ao cuidado responsável de uma criança. Por isso costuma surgir, por exemplo, memes que brincam com a crença de que pais não sabem arrumar o cabelo nem tomar conta do filho. Ou, pior: há aqueles que afirmam que a mãe deixou o bebê "sozinho com o pai".
Meninos e cuidado
Após pensar sobre a criação que está dando para seu menino, Bruno percebeu que o estímulo ao cuidado deve vir desde cedo. "Somos criados para pagar as contas e ser fortes o tempo todo", reflete. Se, por um lado, as meninas são incentivadas à maternidade desde pequenas, com bonecas e mamadeiras de brinquedo, o que é considerado "de menino" são os objetos ligados a profissões e à liberdade, como carrinhos e ferramentas.
Talvez seja esse o motivo pelo qual meninos não falem sobre planos de ter filhos e famílias quando estão crescendo. Durante sua juventude, entre as décadas de 1970 e 80, Reinaldo desejava casar cedo e sonhava em ter uma filha. Isso fez com que seu círculo de amigos fosse menor.
Segundo Felipe Pontual, gerente de marketing de 31 anos, em sua geração o sonho em ter filhos também não era comum entre os meninos. A criação que dá ao seu filho Martin, de 1 ano, tenta mudar o cenário. "Quando você vê o instinto da criança brincando, percebe que é a gente que cria isso [o estigma]. Meu filho brinca de boneca e de carrinho. Tem os dois. Na minha geração, esse estímulo não existia", explica.
Quando a paternidade nasce?
Desde antes do exame positivo, um filho causa uma revolução no corpo e na vida das mães. As expectativas de engravidar são responsáveis até por adiar sonhos como mudar de emprego e fazer viagens. Quando o bebê vai crescendo no ventre, qualquer chute e soluço é sentido, e o amor vai aumentando junto.
Já para os pais, o vínculo precisa ser construído. Reinaldo sempre conversava com seus filhos barriga da mãe. "Depois do nascimento, foi uma alegria total! Veio a menina que eu tanto esperava e o cuidado era todo especial. No acompanhamento dos estudos, do crescimento... Sempre estivemos juntos", relata o advogado.
Bruno também percebeu que amava seu filho desde antes de ele existir, quando começou a investigar se tinha algum problema de fertilidade. Desde esse momento, a participação na criação do novo ser foi intensa, fazendo jus ao seu lema: "Pai tem que fazer de tudo". Esse também é o nome de seu projeto, que começou em 2015 como um blog e agora já é um empreendimento social.
Paternidade no papel
"Na época, eu pesquisava muito sobre como ser pai e tudo era voltado para as mulheres", reclama Bruno, que se incomodou com a escassez de conteúdo voltada para os pais. Após começar a escrever sobre as dores e dificuldades do processo, ele chegou a publicar um livro, de mesmo nome do projeto.
Felipe também escreve sobre a paternidade em seu blog "Sonhei ser pai", desde 2017, quando Martin ainda não era nascido. Durante esses anos, ele percebeu que o público maior ainda é de mulheres, mesmo quando se trata de paternidade. "Além disso, elas gostam de mandar mensagem e os homens são mais reservados quanto a isso", contou.
O caminho da mudança?
Todos os pais entrevistados concordam que a sociedade está mudando em relação ao papel do pai na criação dos filhos. No entanto, ainda há um longo caminho.
"Tem muita coisa pra ser mudada ainda para os outros entenderem que o papel vai muito além de pagar as contas. Estamos no processo de transformação de como o homem se vê nesse processo", conclui Bruno. Em seu projeto, ele luta para que estabelecimentos comerciais incluam fraldário no banheiro masculino, além de andar pelas ruas de Belo Horizonte com seu carro, transformado em "espaço família móvel".