Com mais de 40 anos de experiência, Dr. Paulo Chaccur é formado pela Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paulo. I...
iVocê toma remédios, mudou a dieta, inseriu atividades físicas na rotina, segue todas as orientações passadas e mesmo assim sua pressão continua alta? Saiba que você pode estar com a chamada Hipertensão Arterial Resistente (HAR).
Como o próprio nome já diz, a doença é definida quando a Pressão Arterial (PA) permanece acima das metas recomendadas, ou seja, com índices maiores que 140 milímetros de mercúrio (mmHg) em sua pressão sistólica (contração do coração) e 90 mmHg na diastólica (relaxamento entre um batimento cardíaco e outro) - o popular 14 por 9. E isso mesmo com os cuidados necessários com a alimentação e estilo de vida, além do uso diário de três medicamentos diferentes prescritos em suas doses máximas.
A hipertensão de modo geral, incluindo sua forma resistente, tem inúmeras causas. A mais importante delas é a dificuldade do indivíduo eliminar o sal. Os principais sintomas da doença são dor de cabeça (especialmente na nuca), falta de ar e palpitações. O grande problema é que muitas vezes eles não aparecem. Assim, caso a pessoa não vá ao médico ou não tenha o costume de fazer exames de rotina, a hipertensão pode permanecer sem o diagnóstico por anos.
No entanto, apesar de silenciosa, a pressão alta é perigosa, pois exige um grande esforço do coração para que o sangue seja distribuído pelo corpo. O sangue bombeado pelo órgão exerce uma força contra as paredes internas dos vasos, e estes oferecem certa resistência a essa passagem, determinando a pressão.
Em outras palavras podemos dizer que é uma sobrecarga para o sistema circulatório, para os rins (que precisam filtrar o sangue) e para o cérebro. Se nada for feito, em longo prazo, o risco de sofrer um infarto, acidente vascular cerebral (AVC), insuficiência cardíaca, doença renal crônica e até morte súbita aumenta consideravelmente.
Quem pode ter pressão alta resistente?
- Quem tem altos índices de pressão sem controle durante muito tempo
- Pessoas com problemas no coração e rins
- Histórico familiar da doença
- Estresse
- Pessoas com diabetes
- Obesidade
- Fumantes
- Pessoas que não praticam atividades físicas regularmente
- Pessoas que exageram na ingestão de alimentos ultraprocessados
- Pessoas que consomem muito sal e álcool.
Além disso, entre as características predominantes nos pacientes com HAR estão a idade mais avançada e a Hipertrofia Ventricular Esquerda (HVE) - uma resposta adaptativa à hipertensão arterial, que se caracteriza pelo aumento da musculatura do ventrículo esquerdo do coração.
Entre as consequências da HVE, podemos citar o desenvolvimento de insuficiência cardíaca, taquiarritmias ventriculares, acidente vascular encefálico isquêmico ou embólico e fibrilação atrial. No Brasil, a prevalência de HVE em indivíduos com Hipertensão Arterial Resistente é de aproximadamente 83%.
Diferença da hipertensão arterial resistente e pseudorresistência
Mas que fique claro: a HAR deve ser diferenciada de uma pseudorresistência, ou seja, aquela que ocorre quando um indivíduo não adere ao tratamento e medidas adequadas para o controle da pressão, quando é aplicada uma técnica inadequada de aferição da pressão arterial, prescrição de doses insuficientes ou até pelo efeito do avental branco - quando um paciente tem pressão arterial controlada no dia a dia mas, no consultório, ela fica elevada. Uma espécie de nervosismo que algumas pessoas sentem toda vez que vão medir a pressão em um ambiente médico.
Em casos assim, as variações podem ultrapassar 20 mmHg de diferença para a pressão sistólica e 10 mmHg para a diastólica. Por causa da síndrome um paciente com índices normais de pressão pode ser incorretamente diagnosticado como hipertenso. Para se ter ideia, estima-se que o efeito do avental branco está presente em cerca de 30% dos pacientes com HAR.
Outro fator que também gera confusão quando falamos de hipertensão resistente é a apneia do sono. Os danos vasculares causados pelas interrupções na respiração durante a noite interferem consideravelmente na passagem de sangue pelos vasos e pode manter os índices de pressão elevados.
A importância do diagnóstico correto
Por isso, para garantir que não haja distorções, é indicado a realização de um exame minucioso, avaliando todos os pontos mencionados, além de aferições durante 24 horas. A partir daí, se os resultados confirmarem a hipertensão resistente, é preciso verificar se o problema tem ainda causas secundárias, como uma obstrução na artéria renal, para ser indicado o tratamento adequado.
No Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde, aproximadamente 35% da população tem hipertensão, mas metade nem sabe disso. Das pessoas que têm conhecimento, 50% fazem uso de medicação, e dessas, apenas 45% têm a pressão devidamente controlada.
Check-up sempre!
A hipertensão é uma doença assintomática em grande parte dos casos, por isso é importante realizar exames periódicos, especialmente se há casos na família de pressão alta. E se for diagnosticado com o problema, é preciso fazer o controle adequado com orientação profissional. O mais importante no caso da hipertensão, seja a resistente ou não, é a prevenção e os cuidados diários.