Redatora de saúde e bem-estar, autora de reportagens sobre alimentação, família e estilo de vida.
Não importa se a gravidez foi planejada ou o bebê veio de surpresa: criar laços desde a gestação faz parte desse momento e é fundamental para ter uma conexão ainda maior depois do nascimento. No entanto, é preciso evitar romantizar o momento, já que o bebê pode não corresponder completamente às idealizações da gestação.
De acordo Tais Kelly da Silva, psicóloga da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo, é natural e saudável emocionalmente esse imaginário da mãe em relação ao bebê - e que isso já faz parte do processo de criação de vínculos.
"Essa fantasia está relacionada com os desejos e história de vida que se fundem no imaginário materno, como, por exemplo, qual o sexo, além de características e personalidade através dos movimentos do feto dentro do útero, aparência do bebê, entre outros aspectos", explica a especialista.
"Esse movimento imaginário é importante, mas é capaz de despertar ansiedade em muitas mães que, ao se prepararem para a chegada do bebê, também se sentem temerosas", diz. Tais acrescenta que a vinculação materna é responsável por fatores importantes ao longo da vida dessa criança, visto que essa relação é a primeira experiência social do bebê. "Ela propicia um amparo e desenvolvimento emocional, social e cognitivo para o sujeito que acabou de nascer", diz.
A coordenadora do pronto-socorro infantil do Hospital Leforte, Talita Rizini, explica que é natural que toda gestação seja cheia de expectativas. "A gestante e a família idealizam o bebê perfeito, com saúde, inteligente, bonito e mais uma lista infinita de predicados e, quando o bebê nasce, nasce um ser real com suas qualidades e defeitos que podem não condizer com o idealizado, gerando uma sensação de ruptura com o objeto de desejo", detalha. "Diz-se que, quando o bebê nasce, a mãe experimenta uma espécie de luto do bebê perfeito".
É por essa razão que é preciso evitar romantizar a gestação e a maternidade. "O vínculo deve ser feito pelo desejo de dar vida a um novo ser e cuidar dele independentemente de sua condição. É saudável imaginar e desejar a nova criança, mas não esperar dela a perfeição", aconselha Talita.
Como estimular o vínculo?
A criação de vínculos na gestação é feita por momentos de troca. "Sempre que a mãe compartilha sentimentos, conversa com seu bebê, escuta uma música que a emociona, toca na barriga com carinho e conversa com outras pessoas sobre o filho, o vínculo está sendo fortalecido", detalha Talita.
Tais acrescenta que os rituais para a chegada do filho, como as comemorações do chá revelação ou chá de bebê e planejar a rotina após o nascimento, por exemplo, também são formas de estabelecer esse vínculo.
"Vale ressaltar, entretanto, que o desejo da gravidez naquele momento, fatores econômicos, história de vida, entre outros fatores, podem influenciar na formação de vínculo, e a efetivação dessa relação pode acontecer a partir do concreto, que é o nascimento", diz Tais. "É de extrema importância que a rede de apoio da mãe respeite o ritmo psíquico para minimizar o jugo que a maternagem impõe a elas e assim dar condições favoráveis para que o vínculo aconteça".
O parto é também um momento de vínculo. "Criar um ambiente adequado para o nascimento e o primeiro contato da mãe com o filho é fundamental", diz Talita.
E quando o vínculo não acontece?
Talita conta que quando o vínculo não é formado já na gravidez, o puerpério pode ser mais difícil para a nova mãe. "Acontecem muitas modificações hormonais, além de todas as dificuldades de se ter um recém-nascido que exige cuidados integrais", diz a coordenadora do pronto-socorro infantil do Hospital Leforte.
"A vida muda completamente, e a ausência do vínculo com a criança pode gerar sentimentos de incompletude e tristeza. No entanto, não é impossível que esse vínculo seja criado após a gestação, na vivência do dia a dia", tranquiliza.