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Sabe aquela expressão que diz "o bebê está crescendo rápido demais?" Algumas famílias podem ter essa impressão ao notar os grandes avanços no desenvolvimento do bebê. Após poucos meses de vida, ele já responde a diferentes estímulos, sorri e interage mais.
Nestes momentos, é indicado que os pais estimulem ainda mais os movimentos e a independência do bebê. "Os primeiros anos de vida são os de maior importância, tanto que os primeiros três anos são conhecidos como a 'fase de ouro'. É neste período que a criança tem um maior desenvolvimento e crescimento cerebral por meio da participação de neurônios e sinapses, responsáveis pela percepção do mundo a sua volta, estimulando melhor o desenvolvimento físico, cognitivo, social e psicoafetivo para o futuro", explica Mariana Jordão, pediatra do Hospital Edmundo Vasconcelos.
Além disso, Letícia de Oliveira, psicóloga e fundadora do Núcleo Comportamental, completa: "é muito importante que os pais façam essa estimulação pela independência porque, quando eles incentivam a criança a ser independente, a testar e arriscar, eles estão dando condição para que ela tenha uma autoestima muito melhor, uma segurança e consiga, na vida adolescente e adulta, se posicionar melhor no mundo, tanto pessoalmente quanto profissionalmente".
Mas um ponto importante a ser lembrado é os processos e estímulos ao desenvolvimento se dão a partir da observação dos pais que identificam uma tentativa repetitiva e, aos poucos, ajudam e vão deixando a criança assumir aquela atividade. Além disso, cada criança e cada família têm seu próprio tempo de desenvolvimento, por isso é importante evitar comparações e pressão. Abaixo, separamos atividades e atitudes simples que podem ser inseridas na rotina e estimulam a independência da criança. Confira!
A interação é importante
Algumas atitudes simples já contam como estímulos e, de acordo com as especialistas, podem começar ainda nos primeiros meses da criança. "Os bebês entendem. Temos a ideia de que as crianças não nos compreendem, mas bebês e crianças são esponjas, eles percebem o ambiente, conflitos, mudança de regra e estimulação", esclarece a psicóloga.
Portanto, nesses três primeiros meses, é possível explorar principalmente a interação com os pais por meio do estímulo visual, auditivo e tátil, como reforça Mariana: "os mais importantes serão os visuais, estimulando o bebê pelo contato do olhar, imitando reações de expressão, como: bocejos e sorrisos, além da apresentação de brinquedos coloridos e de cores com contraste. Também é importante fomentar o estímulo auditivo com conversas, canto e brinquedos com efeitos de sons diferentes e o estímulo tátil, como o colo, pois esse contato pele a pele despertará o desenvolvimento do bebê, que sentirá o calor, o aconchego e a segurança".
Promova a segurança do bebê
Sentir-se seguro é importante em qualquer idade, mas na infância esse aspecto é ainda mais importante, como esclarece a psicóloga Letícia: "quando favorecemos a independência da criança, no fundo, passamos a mensagem que confiamos nela e que acreditamos na capacidade dela de fazer determinada atividade. E a primeira fonte de segurança, a segurança dos pais, é a que ela vai usar como modelo para o resto da vida. Então começa na infância, na relação com a família, essa primeira fonte de aceitação, segurança e de vontade de se desafiar, arriscar e fazer dar certo".
Outro detalhe fundamental é a segurança física, para este fim, recomenda-se que o ambiente seja supervisionado por um adulto, além de proteger tomadas, móveis pontiagudos e janelas. Vale ainda investir em objetos com cores e texturas diversas para que ele possa explorar e se desenvolver.
Tente ajudá-lo a engatinhar
O engatinhar é um marco do desenvolvimento infantil e da independência, pois quando o bebê ganha mobilidade, ele pode explorar os ambientes em que está e é capaz de escolher para qual lado da quarto ele deseja ir, por exemplo. Além disso, o engatinhar é benéfico para a estrutura muscular, do cérebro, da visão e para uma série de funções.
Apesar de ser um processo natural infantil, a família é parte importante dessa fase, já que nem todas as crianças têm o mesmo processo, como aquele bastante tradicional de apoiar os joelhos e as mãos no chão. É possível que o bebê engatinhe se sustentando com as mãos e andando de marcha ré, somente com três apoios, entre outros jeitos. Por esse motivo, os pais não devem interferir no modo como o filho está engatinhando porque corrigir pode atrapalhar a evolução, mas é possível estimulá-lo.
Em um ambiente seguro e com o chão plano, os pais podem posicionar o bebê de barriga para baixo, colocar brinquedos que a criança goste como forma de estimulá-la a ir buscá-los ou até mesmo chamar o bebê para os próprios braços. Outra técnica é engatinhar junto com a criança para que ela entenda como se mover.
Os bebês começam a engatinhar com aproximadamente 7 ou 10 meses, mas algumas crianças o iniciam um pouco mais tarde, aos 12. Porém, se o bebê completou um ano e ainda não esboçou nenhuma prática parecida com engatinhar ou andar, as mães devem levá-lo ao médico para investigar.
Ofereça novos sabores e possibilidades
A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que a amamentação seja feita de forma exclusiva até os seis meses de idade. Após esse período, é possível induzir o bebê a conhecer novos sabores. "Dos 6 meses aos 9 meses é uma fase de atenção maior e introdução alimentar, por isso a importância de estimular o paladar com sabores e texturas diferentes. Somado a isso, deixar o bebê ter contato manual com os alimentos a fim de desenvolver a autonomia e o conhecimento dessas novas texturas", recomenda Mariana Jordão.
Nesse sentido, a psicóloga Letícia de Oliveira ressalta: "os pais têm a tendência de superproteger os filhos, de facilitar, porém a criança sente essa atitude como uma inabilidade ou uma incapacidade dela de reproduzir aquele comportamento. Então, favorecer a independência e estimular comportamentos é essencial, como quando o bebê está comendo. Tudo bem ele derrubar um pouco, os pais podem se preocupar mais com a criança entender que é capaz de evoluir do que com a sujeira".
Com o passar do tempo e evolução da dentição, por exemplo, é possível introduzir alimentos picados no lugar das papinhas. Além disso, se você percebe que a criança já procura agarrar a mamadeira, tente, por exemplo, segurá-la com uma mão e deixar o bebê apoiando com a outra. Já próximo aos dois anos, a criança já consegue segurar a colher com mais firmeza e nesta fase a família pode incentivá-la a se alimentar de forma mais independente, mas sob a supervisão de um adulto.
Invista em brincadeiras
Até mesmo aqueles brinquedos coloridos, montáveis e brincadeiras simples são benéficos para o bebê, principalmente para o desenvolvimento da coordenação motora, lembrando de respeitar a idade da criança.
"Existem diferentes formas de conseguir isso, no caso da coordenação motora grossa, escolha tarefas e brincadeiras divertidas, como correr, brincar de pega-pega, esconde-esconde e utilizar brinquedos como bola, cordas, etc. Para estimular a coordenação motora fina, procure atividades que exijam o uso da musculatura fina, como atividades que trabalhem com as mãos, o uso de lápis, giz, tintas, barbantes", explica a pediatra.
A coordenação grossa é aquela ligada aos aos impulsos físicos de força, ou seja, ajudam a andar, correr e pular. Enquanto a fina está relacionada a pequenos músculos, principalmente dos pés e das mãos, o que estimula, por exemplo, a escrita e pintura.
Ajude-o a guardar objetos
Isso mesmo, até a organização é uma forma de ajudar o bebê a ser mais independente. "Brincadeiras de esconde-esconde ou guardar objetos fazendo aparecer novamente são alternativas que ajudam no desenvolvimento e independência da criança. Elas trarão uma percepção de que pessoas ou objetos existem mesmo que fora do seu campo de visão, ajudando futuramente nas adaptações escolares ou do retorno ao trabalho de seus pais, conferindo-lhes segurança de que mesmo fora de seu campo visual não deixaram de existir e irão retornar, diminuindo sofrimentos", comenta Jordão.
Apesar das possibilidades, a pediatra Mariana Jordão ressalta que "cada criança terá seu ritmo de desenvolvimento, e por isso é importante ressaltar essa individualidade e não criar expectativas ou check list. Indicamos manter uma estimulação adequada para cada fase e um acompanhamento pediátrico".