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Toda mãe carrega consigo uma grande história de maternidade. Nem sempre ela acontece depois da gestação. Às vezes, vem depois de uma turbulenta burocracia e papelada.
A maternidade, na verdade, está nos pequenos detalhes do dia a dia, naquele gesto genuíno de carinho, naquele bilhetinho escondido na mochila do filho, naquelas longas conversas com a criança que ainda está em processo de alfabetização, naquele abraço apertado, no lanchinho feito com amor e até mesmo na típica frase: "não esquece o casaco, porque vai esfriar".
Hoje existem 9.231 crianças e adolescentes cadastrados para adoção, segundo levantamento do Cadastro Nacional de Adoção (CNA). Os motivos que levam uma mulher a se tornar mãe de adoção são diversos, e vão desde o desejo antigo de adotar até um problema de saúde que a impede de engravidar.
No entanto, cada mãe tem a sua própria história de maternidade e superação diária. Histórias lindas, mas que sempre contam tentando tirar o foco delas mesmas. Porque dizem que mãe é assim... pensa primeiro no filho para depois pensar em si.
Conheça três histórias de mães que, por meio da adoção, puderam entender a maternidade.
Mamãe Elen Lunardi
Elen morava em um pequeno apartamento com dois cães e uma gata, sem a menor pretensão de se casar e ser mãe. Até que um dia conheceu Marcio, que morava na mesma cidade, em Sarandi (Rio Grande do Sul).
Os dois tinham algo em comum: amavam video game. Elen acreditou que dali nasceria uma bela amizade e combinou de jogarem juntos na casa dele - mal sabia ela que naquele dia sentiria amor à primeira vista. Não por Marcio a princípio, e sim por Ana Vitória, filha dele, que na época tinha nove meses.
A mãe biológica de Ana Vitória havia falecido em decorrência de um câncer, poucos meses depois que a bebê nasceu. A gravidez foi descoberta durante um dos exames que ela realizava por conta da doença. Os tratamentos contra o câncer poderiam afetar a gestação e, por isso, ela optou por não realizá-los.
O relacionamento de Elen e Marcio passou de uma simples amizade para um namoro, assim como o carinho por Ana Vitória aumentava cada dia mais. Depois de casados, Elen tentou adotar Ana como filha, mas o processo era mais complicado do que imaginava.
A adoção faria com que o nome da mãe biológica sumisse do registro de Ana. "Eu queria que ela tivesse no registro o nome das duas mães. A mãe biológica da Ana deu a vida por ela, deixou de se tratar para gestar a menina, e eu não queria que o nome dela sumisse do documento", relata.
O processo só finalizou no ano passado, em 2019. Mas a maternidade se fez presente no dia em que estava arrumando o quarto da bebê e decidiu pendurar uma placa na porta com o nome de Ana Vitória.
Foi ali, naquele simples momento, que um sentimento gigante tomou conta de seu coração, pois jamais tivera a intenção de participar de forma passageira da vida de Ana. Ela queria estar nos detalhes, assim como as mães sempre estão.
Na primeira apresentação de dia das mães da escola, Elen não aguentou as emoções e se desabou no choro. "Eu chorava de soluçar, foi a coisa mais linda que me aconteceu...", ressalta.
Hoje Ana tem 6 anos e Elen se tornou mãe pela segunda vez quando engravidou de Clara, de 1 ano. As três adoram dançar ballet juntas.
Mamãe Joelma Araújo
Por conta de um entupimento nas trompas, Joelma não conseguia engravidar. O médico sugeriu que ela tentasse após o tratamento de desobstrução, mas talvez custasse muito tempo de espera.
Após um incentivo de sua irmã a adotar, não pensou duas vezes e entrou para a fila. Foi quando conheceu Sara, que na época tinha apenas 11 meses de vida, em um orfanato.
Depois de mostrar interesse pela menina, deu entrada no processo para ficar com ela. Dois anos depois, em 2001, veio a grande notícia. Quando chegou no juizado e entregaram Sara nos braços de Joelma, a pequena agarrou-a como se tivesse encontrado refúgio em meio ao caos - porque é assim que os filhos se sentem nos braços da mãe.
Joelma sabia que a partir dali seria a mãe que Sara precisava ter. No dia seguinte à adoção, levou sua filha ao hospital e, depois de realizar alguns exames, descobriu que Sara estava com anemia hipocrômica.
Além da condição, a menina não havia tomado nenhuma vacina e, por conta disso, o médico deu uma bronca na mãe, a acusando de irresponsável. Mas como toda boa mãe, Joelma não se calou diante de tamanha insensibilidade, e fez o médico se desculpar logo quando contou sua história.
Ela só queria ver sua filha saudável e não mediu esforços para cuidar dela. Depois de três meses de adoção, ela precisou retornar ao juizado, quando todos os funcionários fizeram uma roda em volta dela. Estavam abismados com Sara, que parecia outra criança. "Ela já tinha engordado, o cabelo tinha crescido, era a coisa mais linda pra mim, foi a realização de um sonho", afirma.
Quando escutou 'mamãe' pela primeira vez sentiu uma felicidade que não cabia no peito. O sentimento de maternidade transbordou pelos olhos. Hoje, Sara tem 20 anos.
Mamãe Ana Carolina
Ana Carolina sempre teve uma vida muito corrida e cheia de responsabilidades. Não tinha vontade de ter filhos nem costume de brincar com crianças. Mas sua vida mudou quando conheceu Layara.
A irmã e a mãe de Ana cuidavam de Layara quando ela tinha apenas 6 meses de vida, e a pequena passava dias longe da mãe biológica, que também não mostrava interesse e apego pela menina.
Layara nasceu de uma prima de Ana Carolina. A presença da menina na casa já era comum, mas levou um tempo até que Ana se aproximasse dela. No começo a enxergava apenas como prima.
Aos poucos as duas foram se aproximando e, quando Layara precisava de cuidados, lá estava Ana Carolina. Em novembro de 2016, ela começou a cuidar da criança com mais frequência. Mas foi em dezembro, na virada do ano novo, que sua ficha caiu: já estava apegada demais. "Eu fazia mais parte da vida dela do que podia imaginar", conta.
Foi então que tomou a decisão de pedir a guarda de Layara para a prima, mãe biológica da criança, que não cogitou negar. Afinal, a pequena já estava vivendo na casa de Ana e também tinha os cuidados dela.
Em maio de 2017, começou a dar entrada no processo de guarda e só depois de quase um ano recebeu uma carta para comparecer à Defensoria Pública para assinar o termo de guarda definitiva.
Olhando para aquele papel, Ana Carolina ficou gelada, começou a tremer e o choro veio à garganta. Quando assinou, ligou para sua mãe e contou a novidade, chorando de felicidade.
Ana já chamava Layara de filha e não demorou muito para ser chamada de mãe. A menina gritou 'mamãe' pela primeira vez ao vê-la chegando do trabalho. Ana não conseguiu esconder a cara de mãe boba. Logo ela, que não imaginava ser mãe, descobriu que seu coração era enorme.
Hoje, Layara tem 5 anos e as duas adoram conversar quando se deitam para dormir. São conversas sem caminho, muitas vezes sem sentido, é apenas o sentimento de mãe que sempre escuta o filho.