Psicóloga e pós-graduanda na Fundação Oswaldo Cruz
Redatora especialista em bem-estar, família, beleza, diversidade e cuidados com a saúde do corpo.
O que é pansexualidade
A sexualidade é uma questão que vem sendo cada vez mais explorada e estudada com o passar dos anos. Nesse sentido, já é de conhecimento público que entender a atração sexual como algo que só acontece entre sexos opostos é uma atitude errônea e ultrapassada.
Assim, junto com novos termos criados para definir sentimentos existentes há anos, surgiu também a expressão pansexualidade. A palavra, que tem origem grega, define de maneira simplória o que está por trás do conceito: "pan" significa tudo ou todos.
Logo, ser pansexual indica que a pessoa é capaz de sentir atração sexual, amorosa ou afetiva por qualquer sexo ou gênero, incluindo indivíduos não binários (ou seja, aqueles que não se encaixam apenas nas identidades de gênero masculina ou feminina).
Sexo, gênero e identidade
Para entender melhor o que significa ser pansexual, é preciso compreender que existem diferentes identidades de gênero e tipos de sexualidade. Nem todo mundo se reconhece como "homem" ou "mulher", assim como nem todas as pessoas sentem atração ou desejo sexual por alguém.
Portanto, confira as definições básicas de alguns termos, elaboradas pela Gay & Lesbian Alliance Against Defamation (GLAAD), organização não-governamental norte-americana que é referência na defesa dos direitos da comunidade LGBTQIAP+:
- Cisgênero: são pessoas que se identificam totalmente com o gênero relacionado com seu sexo biológico, se considerando homem ou mulher
- Transgênero: é um termo guarda-chuva que abrange todas as pessoas que não se identificam, em diferentes graus, com o seu sexo biológico
- Não-binário: indivíduos não binários entendem que sua expressão de gênero não se limita às categorias "masculino" ou "feminino", podendo até mesmo se encontrar entre esses dois polos
- Gênero fluido: são pessoas que, em diferentes momentos da vida, podem "flutuar" por outras identidades de gênero, se identificando como mulher em algum momento e homem em outro, por exemplo
- Agênero: são pessoas que não possuem um gênero, se identificando como neutras
Assim, uma pessoa considerada pansexual pode se sentir atraída por qualquer indivíduo dentro dos diferentes termos presentes no grupo LGBTQIAP+ ou por pessoas heterossexuais.
É importante ressaltar que, ao contrário de muitos mitos, pessoas no espectro pansexual não sentem atração por crianças, animais ou objetos. Esse tipo de associação vem de uma tentativa de "demonizar" esse grupo, invalidando sua sexualidade.
A psicóloga Thais Lourenço explica que esses preconceitos podem prejudicar significativamente a vida de uma pessoa, seja no campo psíquico ou social, como dentro de sua família e também na escola, trabalho e comunidade de um modo geral.
"Identidades de gênero, expressões de gênero e orientações sexuais que não seguem um padrão heteronormativo ainda são vistos socialmente como um problema psicológico, que precisam de tratamento e cura. Mas não existe cura para o que não é doença", aponta a especialista.
Diferença entre bissexual e pansexual
Também não é raro que se faça a confusão entre bissexualidade e pansexualidade. O primeiro termo é definido como uma orientação sexual onde a pessoa se sente atraída por dois gêneros, o feminino e o masculino.
Já a pansexualidade abrange a atração por todos os tipos de identidade de gênero, expressões de gênero e orientações sexuais. A atração ocorre, simplismente, por pessoas. Portanto, um indivíduo bissexual encara o gêneros de uma forma diferente da pansexual, que não faz distinção entre as pessoas ao se sentir atraída por elas.
De acordo com Thais Lourenço, a psicologia vê a pansexualidade como mais uma forma de ser e existir no mundo. "Não há nada de anormal em pessoas que sentem atração sexual ou afetiva por todos gêneros, identidades e sexualidades. Assim como não há anormalidade em pessoas que se identificam como assexuais e não sentem atração sexual por outras pessoas, mas podem ter atração afetiva por elas", conta.
A psicóloga explica ainda que falar abertamente sobre sexualidade pode contribuir para a desmistificação de tabus, preconceitos e, consequentemente, na diminuição do sofrimento emocional de pessoas que não se identificam com a ordem determinista cisgênera e heteronormativa.