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O implante contraceptivo, muitas vezes associado ao termo "chip da beleza", é uma alternativa para quem deseja evitar uma gravidez não planejada. Com um índice elevado de eficácia, o produto se junta a outros métodos de uso hormonal, como o DIU, anel vaginal, pílula anticoncepcional, entre outros.
Como funciona
O implante contraceptivo consiste em um pequeno bastonete (de 3 a 4 centímetros de comprimento), que pode ser aplicado na parte interna do braço, no abdômen ou glúteos. A título de comparação, Flavia Torelli, médica ginecologista e especialista em reprodução humana da Huntington Medicina Reprodutiva, afirma que o produto é semelhante a um palito de fósforo.
No mercado, há diferentes tipos de hormônios utilizados na produção do implante, como o etonogestrel (um tipo de progesterona sintética conhecido como Implanon), a gestrinona (outro derivado da progesterona) e a testosterona.
Segundo Flávia, ao ser aplicado no corpo da mulher, o implante bloqueia a ação do hormônio folículo estimulante (FSH) e do hormônio luteinizante (LH), que são liberados pelo cérebro e atuam no processo de ovulação na mulher. Assim, a possibilidade de gravidez é inibida.
Como é a colocação do implante contraceptivo?
Para a aplicação do implante, a mulher recebe uma anestesia local na região em que o contraceptivo será colocado - seja no glúteo, braço ou antebraço. Uma pequena incisão é feita após a ação da anestesia e o bastonete é aplicado no tecido subcutâneo. Em geral, este procedimento é realizado em consultório médico ou clínica.
Eficácia e duração dos implantes
Atualmente, há implantes de longa duração, que agem no corpo da mulher por um ano ou mais, e os de curta duração, que se mantêm no organismo por até seis meses. Depois que o prazo expira, alguns implantes necessitam de procedimentos para que sejam retirados, enquanto outros se desfazem no próprio corpo da mulher.
Além disso, Flávia afirma que certos modelos de implantes chegam a ter eficácia com índices altíssimos. "A camisinha é sempre recomendada para evitar ISTs. Mas o implante enquanto método contraceptivo, falando especificamente da opção à base de etonogestrel, tem eficácia de mais de 99%. É melhor que laqueadura", afirma a médica.
Vantagens do implante contraceptivo
Fabricio La Rubbia, médico ginecologista do Hospital São Luiz Morumbi, explica que a principal vantagem do implante frente a outros métodos contraceptivos hormonais é que a medicação vai direto para a corrente sanguínea, não ocorrendo uma passagem pelo fígado ou estômago.
"É uma boa indicação para pacientes pós-bariátricas, que têm contraindicação ao uso de medicação oral, por exemplo", diz o ginecologista. Outra vantagem é a praticidade, pois tira da mulher a obrigatoriedade do consumo diário e contínuo das pílulas ou a manutenção dos adesivos e anéis vaginais.
Para Flávia Torelli, outro benefício do implante é que ele tem uma ação direta nos hormônios do cérebro para bloquear a ovulação. Já o DIU hormonal, por exemplo, opera apenas localmente para tornar o útero um local hostil para o espermatozoide. "Mas os dois métodos realizam uma alteração de muco", esclarece a médica.
Quem pode usar o implante contraceptivo
Em geral, o implante contraceptivo é indicado para todas as mulheres que desejam evitar uma gravidez e buscam por praticidade no dia a dia. Porém, além de ser um método anticoncepcional eficaz, ele também pode ser usado no tratamento de endometriose e no alívio dos sintomas de TPM.
Além disso, o implante não tem restrição etária, isto é, pode ser usado por mulheres de todas as idades e é indicado, principalmente, para aquelas pacientes que não se adaptaram com os métodos tradicionais.
"A recomendação para a aplicação do implante é que a paciente esteja no período menstrual e é preciso descartar todas as chances dela estar grávida. No caso de lactantes, porém, o implante só poderá ser colocado após cessar a amamentação", explica o ginecologista e obstetra Fernando Prado, diretor técnico da Clínica Neo Vita.
Contraindicações do implante
Por ser um método hormonal, o implante contraceptivo possui algumas restrições de uso. Mulheres grávidas, por exemplo, não devem utilizar o bastonete durante a gestação. "No caso dos implantes que aumentam os níveis de hormônio masculino, pode haver má formação do feto", explica a médica Flávia.
Mulheres com diagnóstico de câncer de mama também também não devem usar os implantes. Já pessoas com histórico de trombose, lúpus e doenças hematológicas têm contraindicação relativa, ou seja, deve-se estudar junto a um especialista se o custo-benefício entre o risco e as melhorias trazidas pelo produto vale a pena.
Efeitos colaterais do implante contraceptivo
De acordo com os especialistas, os efeitos colaterais oferecidos pelo implante contraceptivo são poucos. Normalmente, nos primeiros meses, a mulher pode apresentar sangramento irregular. Poucas deixam de menstruar completamente - quando mulher entra na chamada amenorreia.
Algumas pacientes também podem apresentar maior oleosidade de pele e, em casos mais raros de uso abusivo da gestrinona, a paciente pode ter queda de cabelo e alteração da voz. Existe ainda a possibilidade de algumas mulheres desenvolverem resistência à insulina e problemas com colesterol.
Implante contraceptivo emagrece ou engorda?
Entre os impactos provocados no corpo da mulher, o implante contraceptivo pode levar ao ganho de peso, de acordo com o ginecologista Fernando Prado. Entretanto, não é um aumento exorbitante.
"O implante libera doses de progesterona bem baixas e por um período bem prolongado. Então, o ganho de peso é minimo, cerca de um ou dois quilos - isso quando a mulher tem uma predisposição", diz.
Por outro lado, esse método também pode fazer o efeito contrário: levar ao emagrecimento. "Alguns tipos de implante podem levar à perda de peso quando carregam testosterona na fórmula. Isso porque eles acabam queimando gordura e aumentam proporcionalmente a massa magra da mulher. Mas, lembrando, que esses implantes têm uma série de efeitos adversos que devem ser levados em consideração", aponta Prado.
Implante contraceptivo causa enxaqueca?
Episódios de dores de cabeça também são possíveis após a inserção do implante no corpo. A incidência da enxaqueca com o uso de implantes, entretanto, depende muito de cada mulher. De acordo com Prado, existe até mesmo a possibilidade de algumas mulheres usarem o método contraceptivo como tratamento para cefaleias recorrentes.
"O que leva à enxaqueca menstrual é a variação hormonal, principalmente o estradiol. Os implantes com progesterona podem diminuir a incidência da dor de cabeça, porque se a mulher não ovula e fica com os níveis de progesterona constantes, quando ela está com o implante, a tendência é que a enxaqueca melhore bastante. Agora, se ela tem um implante com estradiol e, dependendo da suscetibilidade dessa mulher, ela pode, sim, desenvolver enxaqueca", afirma.
Valor do implante contraceptivo
Diferente de outros métodos anticoncepcionais, atualmente, o implante não é oferecido no Sistema Único de Saúde (SUS) em nível nacional - apenas na cidade de São Paulo (SP) é que ele foi disponibilizado de forma gratuita, conforme a lei municipal 16.806/18.
Na rede privada, o custo médio dos implantes varia de R$ 900 a R$ 7 mil. Essa grande margem de preço é causada pela variação da quantidade de implantes que são colocados, conforme o peso da paciente. O procedimento para colocar o bastonete deve ser realizado em consultório pelo próprio médico ginecologista.
Implante contraceptivo e "chip da beleza"
Não é raro notar que o implante contraceptivo é bastante relacionado ao termo "chip da beleza". Na verdade, essa ligação entre o dois termos deriva dos efeitos de um dos hormônios usados no contraceptivo: a gestrinona.
De acordo com a ginecologista Flávia Torelli, ao usarem o implante à base dessa substância, algumas mulheres notaram que seus corpos começaram a ganhar massa muscular quando iam à academia e mudavam a alimentação. Entretanto, o implante não deve ser utilizado para fins estéticos, segundo a médica.
"'Chip da beleza' é um nome que os ginecologistas não gostam, porque o implante deve ser usado como um hormônio se você precisa dele, seja para a contracepção, tratamento da endometriose ou porque você não quer menstruar", diz a especialista.
Além disso, o médico Fabrício La Rubbia acrescenta que os efeitos estéticos do hormônio são secundários. "A gestrinona reduz a gordura corporal, favorece o ganho de massa magra e pode diminuir a celulite. No entanto, isso só é atingido sem associações com uma boa dieta e rotina de atividade física", alerta o médico.
Em nota oficial, a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) desaconselha o uso do implante à base de gestrinona. De acordo com a entidade, o hormônio foi estudado por uso de via oral e tratamento de endometriose, mas não há estudos que comprovem sua eficácia quando aplicado via implante.
"Não há, disponível no mercado brasileiro, implante hormonal aprovado pela Anvisa, exceto o implante anticoncepcional composto por etonogestrel. A Comissão Nacional Especializada em Climatério da Febrasgo desaconselha o uso de quaisquer tratamentos, hormonais ou não, que não possuam aprovação pela Anvisa", afirma o comunicado.
Fontes consultadas
Flavia Torelli, médica ginecologista e especialista em reprodução humana da Huntington Medicina Reprodutiva - CRM: 129.511
Fabricio La Rubbia, ginecologista do Hospital São Luiz Morumbi - CRM: 126.509
Fernando Prado, Médico ginecologista e obstetra, especialista em reprodução humana, doutor pelo Imperial College London e pela Universidade Federal de São Paulo, diretor técnico da Clínica Neo Vita - CRM: 103.984