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Cercada por muitos tabus e preconceitos, a psicoterapia tem sido cada vez mais aceita e procurada pela população. Importante ferramenta de autoconhecimento e tratamento de transtornos mentais, o método apresenta diferentes tipos de abordagem. Por isso, é importante conhecê-los para selecionar a vertente que melhor atende cada caso.
Para que serve a psicoterapia
A psicoterapia é uma forma de ajudar as pessoas a lidarem com uma série de problemas psicológicos ou dificuldades emocionais, auxiliando os indivíduos a terem um conhecimento melhor sobre si mesmos. Ela também é altamente recomendada no tratamento de doenças ligadas à saúde mental, como:
- Depressão
- Ansiedade
- Anorexia Nervosa
- Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC)
- Transtorno de Personalidade Borderline
- Transtorno Bipolar
- Demência
- Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH)
- Esquizofrenia
- Transtorno do Espectro do Autismo (TEA)
- Estresse pós-traumático
Tipos de terapia
Por conta da ampla gama de situações em que o método pode ser utilizado, foram criadas várias abordagens possíveis de psicoterapias. Conheça a seguir nove tipos de terapias, com suas metodologias aplicadas nas sessões e para quem cada uma é mais indicada:
Psicanálise
Segundo a psicóloga Laysa Barreto Alves, do grupo Prontobaby, a psicanálise é a primeira escola da psicoterapia e teve o médico neurologista e psiquiatra Sigmund Freud como grande precursor, no final do século 19.
Na terapia psicanalítica, de acordo com Laysa, o trabalho do terapeuta é auxiliar o paciente a resgatar e reintegrar conteúdos do seu inconsciente, desde os que aparecem em sonhos até aqueles que nunca são acessados. A ideia é que, a partir do contato com o seu inconsciente, a pessoa possa compreender e lidar com os conflitos que vivencia no presente.
Para isso, é utilizada a técnica de associação livre, que conduz o indivíduo a verbalizar livremente todos os pensamentos que invadem sua mente (não importando o teor do discurso). "Esse método pode fazer emergir fatos reveladores, que não eram de conhecimento consciente da própria pessoa", diz a especialista.
É na psicanálise que também são trabalhadas as pulsões humanas - uma energia mental que ajuda a estruturar os três aparelhos psíquicos tão debatidos pelo estudioso: o id, ego e superego.
Terapia cognitivo-comportamental
A terapia cognitivo-comportamental tem como origem a terapia cognitiva ou behaviorismo. Seu precursor foi o psiquiatra estadunidense Aaron Beck que, a partir de testes com as hipóteses de Freud sobre a depressão, notou que a cognição (pensamentos, percepções de mundo) estava relacionada com os processos de adoecimento psicológico.
"Beck compreendeu que cada pessoa possui uma forma de ver o mundo. São padrões de pensar e agir que se constroem e se cristalizam de acordo com as experiências vividas. São exatamente os pensamentos disfuncionais que produzem emoções negativas e desencadeiam comportamentos inadequados ou autodestrutivos", explica Laysa.
A TCC é uma abordagem bastante diretiva e que pode ser aplicada em todos os tipos de transtornos com efetividade, segundo a psicóloga. Para isso, o terapeuta cognitivo avalia os padrões e esquemas mentais do paciente até chegar à sua crença central, que dá origem às disfunções comportamentais.
Com as ferramentas da terapia, o psicólogo, então, propõe uma reestruturação cognitiva e ajuda o paciente a modificar suas crenças e assumir um novo repertório de pensamentos e comportamentos.
Análise Junguiana
Além de Freud, Carl Gustav Jung foi outro grande nome para a psicanálise. Porém, a abordagem da análise junguiana é diferente do método clássico. Na linha psicoterapêutica desenvolvida por Jung, os sonhos são investigados como uma personificação do inconsciente. "Ele acreditava que vivemos narrativas e assumimos determinados personagens quando sonhamos", afirma Laysa.
Diferente de Freud, no lugar da associação livre, a análise junguiana aposta na técnica da imaginação ativa, na qual o paciente aprende a liberar suas fantasias e conhecer os outros personagens que habitam em sua mente - por meio da prática de artes, como desenhos, pinturas, entre outras.
Behaviorismo
A psicologia comportamental, ou behaviorismo, analisa e modifica o comportamento do indivíduo. Seu fundador foi B. F. Skinner, que comprovou que nossas ações dependem das seguintes relações funcionais: estímulo antecedente, uma resposta comportamental e uma consequência.
Para essa abordagem, o comportamento humano é modificado de acordo com os estímulos do ambiente em que estamos inseridos. Dessa forma, a terapia comportamental é um processo mais diretivo. O analista avalia quais são as necessidades do paciente e propõe técnicas que o ajudem a modificar seus padrões de ação.
Psicologia humanista
A corrente humanista foca na autoestima do indivíduo e em como todo ser humano possui uma tendência à realização. Nessa abordagem, criada pelo psicólogo estadunidense Carl Rogers, na década de 1950, o papel do terapeuta não é o de tratar neuroses ou identificar as causas de um problema, e sim o de proporcionar um ambiente acolhedor para que o indivíduo consiga crescer e alcançar o melhor de si.
Para isso, um dos pilares da psicologia humanista é a aceitação incondicional. "Segundo essa visão, o indivíduo só consegue mudar a partir do momento que ele se aceita como realmente é. Um exemplo disso é visto em casos de recuperação de dependentes químicos, que apenas buscam tratamento quando admitem que têm um problema", esclarece Laysa.
Não se trata de uma admissão da culpa ou algo nesse sentido, mas de uma abordagem de ajudar o cliente (a pessoa não é tratada como paciente) a compreender e reconhecer um poder dentro de si de que pode ser melhor do que é naquele momento.
"É um acompanhamento eficaz para pessoas com problemas causados pela autocrítica, baixa autoestima, entre outros. O terapeuta humanista fornece uma atmosfera de apoio, empatia e confiança que permite ao indivíduo compartilhar seus sentimentos sem medo de julgamento. É uma abordagem terapêutica não-diretiva e centrada na pessoa. Parte-se do pressuposto que é o indivíduo que possui a responsabilidade pela condução e pelo sucesso do tratamento", diz Laysa.
Fenomenologia
Uma das principais abordagens terapêuticas, a fenomenologia foi fundada por Edmund Husserl no século 19. Segundo Laysa, ela entende o indivíduo como um "ser no mundo", que não escolhe as condições existenciais às quais é lançado na vida. Mas isso não quer dizer que ele é totalmente passivo.
"Ele é consciente de suas intenções e, por isso, tem plena responsabilidade sobre quem ele é e o que faz. Em outras palavras: não vivemos como gostaríamos, mas temos que assumir a culpa por nossas escolhas e angústias", elucida a psicóloga.
Dessa maneira, o método ajuda o indivíduo a compreender o significado de sua existência e se tornar responsável pelo seu destino. "Trata-se de uma abordagem que envolve consciência, autoanálise, autoconhecimento e ações intencionais", acrescenta Laysa.
Terapia Gestalt
A Gestalt-terapia, desenvolvida pelos teóricos Fritz Perls, Laura Perls e Paul Goodman, na década 1940, tem como objetivo fazer com que o indivíduo crie maior consciência, evidenciando aspectos de si que ainda estão pouco revelados e promovendo a aceitação de sua experiência de estar no mundo.
"Os terapeutas gestaltistas não têm o objetivo de mudar seus clientes. Na verdade, os clientes são incentivados a se concentrarem em se tornarem mais conscientes de si mesmos, permanecendo presentes e processando as coisas no aqui e agora", diz Laysa.
Um dos trabalhos feitos, por exemplo, é o crescimento pessoal com experiências dolorosas. Como explica a psicóloga, é comum que uma pessoa crie bloqueios ou empurre as experiências para fora da consciência - principalmente as mais difíceis. Entretanto, esse tipo de mecanismo acaba sendo problemático, uma vez que nos "tornamos mais compartimentalizados e fragmentados em nosso senso de si e de nossas experiências".
"O aumento da conscientização do cliente permite que esses bloqueios sejam identificados, devidamente desafiados e saiam do caminho para que possamos encontrar a cura e crescimento pessoal", diz a especialista.
Outro aspecto que essa vertente psicoterápica trabalha é a possibilidade de entender como aceitar e abraçar as responsabilidades. "Os clientes obtêm um maior senso de controle em suas experiências e aprendem a regular melhor suas emoções e interações com o mundo", pontua Laysa.
Terapia familiar
Por vezes, o atendimento psicoterápico não é voltado apenas ao indivíduo, mas a uma relação. É o que acontece na terapia familiar. O método apresenta um olhar sistêmico, cujo foco é o relacionamento entre as pessoas. Essa ideia de terapia foi concebida pelo biólogo e filósofo austríaco Ludwig von Bertalanffy, no final da década 1960.
"Ele utilizou o conceito de sistema como um 'complexo de elementos em interação' para, mais tarde, aplicá-lo no âmbito terapêutico até se transformar no modelo predominante nos estudos de família e relacionamentos", explica Laysa.
De acordo com a especialista, os psicólogos sistêmicos adotam uma ideia geral: um sistema, seja ele qual for (familiar, de um casal ou social), é formado por um ou mais elementos ligados entre si, de tal maneira que uma mudança no estado vai ser seguida por uma mudança no sistema, podendo chegar a conhecer aspectos fundamentais da patologia individual de um dos membros do sistema.
Segundo Laysa, a terapia familiar, normalmente, é indicada quando o paciente ou o psicólogo notam dificuldades profundas de interação entre membros da família. "É importante saber que cada dinâmica familiar tem naturalmente alguns conflitos e problemas, Mas, em alguns casos, existem questões emocionais e comportamentais que demandam a ajuda de um profissional", acrescenta.
Terapia de casal
A terapia de casal também é uma forma de terapia sistêmica. Neste caso, porém, ela é indicada quando os envolvidos não conseguem resolver os problemas do dia a dia na relação, além de cuidar dos indivíduos e da relação amorosa para o bem-estar dos parceiros.
Segundo Laysa, vale a pena buscar a terapia de casal quando as questões que despertam interesse por uma busca à psicoterapia têm a ver com o relacionamento ou resvalam nele. "Por exemplo, o ciúme excessivo de um dos pares do casal. Por mais que seja um problema sério de uma das pessoas, é o caso de ser conversado em dupla com o terapeuta. Em casos como esse, nada impede que o ciumento faça terapia individual também, inclusive é o mais indicado", diz.
É importante ainda que o casal tenha clareza do que o leva ao consultório para que as sessões de terapia não se transformem em conversas sobre o dia a dia. De acordo com a psicóloga, casais que procuram esse tipo de terapia nunca vão escutar ou devem esperar do psicoterapeuta sugestões como o fim da relação. "Essa é uma decisão a ser tomada pelos pacientes, jamais pelo terapeuta. Ele deve auxiliar no processo de conversa", diz.
Há casos em que apenas um dos pares procura o terapeuta. Nesta situação, é importante analisar o motivo e é mais interessante que ele busque atendimento individual.
Como escolher o melhor tipo de terapia
Cada abordagem e tratamento psicoterapêutico se desenvolveu ao longo do tempo e carrega consigo seus próprios conceitos e ferramentas. Desse modo, segundo Laysa, não se pode apontar se existe uma linha mais ou menos efetiva. "Todas são guiadas pelo mesmo propósito: o de ajudar o paciente na compreensão e resolução de seus conflitos. O que muda de um processo para o outro é apenas o caminho percorrido", diz.
Outra diferença é a forma como o terapeuta vai olhar para o seu paciente e trabalhar o problema apresentado.
"É importante também considerar os objetivos do indivíduo, o que ele quer tratar, quais mudanças está disposto a realizar e em quanto tempo espera ver resultados", diz a psicóloga sobre os aspectos a serem considerados na hora de escolher a abordagem terapêutica.
"Vale ressaltar que todos deveriam experimentar a psicoterapia como forma de obter autoconhecimento, saber lidar com suas emoções e desenvolver o melhor de si. Isso porque mesmo as pessoas que se consideram mais equilibradas e bem resolvidas, vez ou outra, são afetadas por sentimentos e pensamentos incômodos", aponta Laysa.
Quanto tempo a terapia demora para fazer efeito
Como em qualquer tratamento, saber o tempo que ele começa a surtir efeito é uma pergunta comum. Segundo o psicólogo Ricardo Milito, o impacto da psicoterapia não demora muito. "O efeito de qualquer psicoterapia pode ser sentido já na primeira sessão, quando o paciente tem a chance de compartilhar suas queixas, angústias e problemas. Ao ser acolhido e ouvido pelo psicólogo, o paciente já se sente mais aliviado", afirma.
A duração do tratamento terapêutico, entretanto, depende da gravidade do problema, das queixas e do engajamento do paciente. No caso das terapias de casal, por exemplo, alguns terapeutas estipulam um número exato de sessões para o par realizar. Outros, porém, trabalham de acordo com o tratamento do casal e do percurso dos encontros.
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