Redatora especialista em bem-estar, família, beleza, diversidade e cuidados com a saúde do corpo.
O autoconhecimento é um dos fatores principais na hora de entender o que sentimos e como agimos. Ao entrar em um relacionamento amoroso, é comum que ocorra uma mistura de sensações que faz com que algumas pessoas se esqueçam de olhar para si mesmas como um indivíduo, não apenas como parte de um casal.
Esse foco voltado exclusivamente para o outro pode acabar gerando uma carência interna e ser tornar algo problemático, tornando a relação seja desgastante e, até mesmo, abusiva. Depositar em alguém (ou na ideia de encontrar uma pessoa) a razão da sua existência e felicidade é um sinal de que há um vazio que precisa ser observado e cuidado.
Quando alguém se encontra preso em um relacionamento abusivo, não é raro desenvolver uma dependência emocional do outro para viver. De acordo com o psicanalista Ronaldo Coelho, a associação de "amor" é feita na infância, quando aprendemos a palavra, mas não sabemos exatamente o que ela significa - pois fala de um sentimento, algo que não se pode medir externamente.
"Então, nós vamos criando associações, muitas delas inconscientes, entre comportamentos, sensações, situações e sentidos para compreender o sentimento, mas não nos damos conta que, assim, estamos construindo a nossa concepção de amor e paixão, e não entendendo o que são. Com o tempo, sempre que uma situação remeter a esse conjunto de fatores, sentirei que estou apaixonado ou que amo alguém", explica.
Importância da autoestima
Cuidar da autoestima, que é considerada o valor que alguém dá ou não a si mesmo, é uma etapa essencial para que haja uma força interna capaz de diferenciar amor de abuso, construindo uma relação saudável não só com outra pessoa, mas também consigo mesmo.
Ronaldo Coelho afirma que esse valor pode ser baixo ou alto o suficiente para que a pessoa não tenha uma relação destrutiva consigo mesma. Quando a autoestima se torna extremamente baixa, fazendo com que o indivíduo ache que não possui valor e que sua vida não tem importância até mesmo para si próprio, é difícil pensar em como ele pode sair dessa situação sozinho.
"O caminho tem que ser o de entender como ela foi parar aí e quais recursos ela tem pra conseguir sair desse buraco. Alguns grupos fazem papel terapêutico importante nesse sentido. É o caso dos movimentos negros, LGBTQI+, feministas e todos os outros que tem por objetivo resgatar o orgulho de ser quem se é. Muitas vezes, a baixa autoestima vem de uma herança social", conta o psicanalista.
Lidando com o medo da solidão
Um dos maiores medos que impedem que muitas pessoas saiam de relacionamentos ruins é a preocupação em ficarem sozinhas. A baixa autoestima faz com que o indivíduo se sinta insuficiente, preferindo estar acompanhado de alguém, mesmo que não haja uma relação de amor e confiança com o outro.
Para o psicanalista Ronaldo Coelho, uma das formas de lidar com esse receio é compreendendo que tudo e todos na vida podem ser tirados de nós. "Você pode ser abandonada por qualquer pessoa, mas só você mesma pode abandonar você. A única relação que se pode ter 100% de certeza de que o outro não vai abandonar é aquela onde você consegue realmente garantir a si mesmo que nunca vai desistir de você", afirma.
Passar um tempo sozinho é essencial para entendermos nossos gostos e preferências. Ao nos conhecermos melhor, desenvolvemos um senso de afeto com nossa independência, fazendo com que se crie uma autossuficiência extremamente importante, capaz de nos ajudar a compreender o papel do outro em nossas vidas.
"Muita gente acha que ter amor próprio é gostar de quem você é, mas isso é equivocado. Amor próprio é não desistir de si. É não se abandonar, mesmo que você não goste do que fez ou de quem é. É poder dizer a si mesmo que não vai desistir de ser uma pessoa melhor para que você tenha orgulho de si um dia. Isso só você pode fazer por você mesmo", finaliza o psicanalista.