Evelyn Vinocur é doutora em Pediatria, graduada em 1978 pela Universidade Federal Fluminense (UFF), especialista em Pedi...
iMilhares de crianças, adolescentes e adultos, portadores do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, também conhecido como TDAH, e seus familiares, padecem diariamente em virtude do impacto adverso gerado pela presença do transtorno não tratado. E pior, na maior parte dos casos, tanto a família como o portador sequer ouviu falar do TDAH. E a vida dessas pessoas segue arrastada , cheia de tropeços e dificuldades, ano após ano, sem que nenhuma medida seja tomada, até porque é muito comum as pessoas acreditarem que a vida é assim mesmo, que o sofrimento faz parte da vida, e que viver não é fácil. Mas o que não era nem cogitado é que toda aquela vida difícil e ruim pudesse ser a retratação de um estado de adoecimento, e o melhor, com todas as chances de um tratamento bastante eficaz.Lamentavelmente, o desconhecimento do TDAH ainda é muito grande, não só no Brasil, mas em todo o mundo. Essa idéia de que as nossas crianças e os nossos adolescentes são hipermedicalizadas é uma idéia errônea acerca do TDAH e que não retrata a nossa realidade. As pesquisas mostram que só um pequeno percentual de crianças é medicado no
Brasil e ainda assim, que a maior parte delas é submedicada, ou seja, tomando subdoses do medicamento específico, o metilfenidato, que é o medicamento padrão ouro e de alto poder de eficácia para o tratamento do TDAH. Vale dizer que o metilfenidato é um medicamento aprovado pelo FDA e ANVISA para o tratamento do TDAH em crianças maiores de seis anos. No Brasil, temos o metilfenidato com os nomes comerciais de Concerta e Ritalina. O primeiro, de ação prolongada, e o segundo, com duas apresentações, uma de ação rápida e outra de ação prolongada.
Assim, no intuito de se saber o real grau de conhecimento do TDAH no Brasil, um grupo brasileiro de especialistas de referência em TDAH, realizou uma pesquisa em todos os estados, tanto nas capitais como em cidades do interior (Jornal Brasileiro de Psiquiatria, volume 56, suplemento 1 2007; 9-13). A conclusão foi muito aquém do esperado, ou seja, todos os participantes revelaram idéias equivocadas e não respaldadas cientificamente sobre o TDAH, fato que possivelmente contribui para um maior atraso nos diagnósticos e tratamentos adequados. A pesquisa foi dividida entre a população geral, entre os educadores, entre os psicólogos e entre médicos (neurologistas e pediatras). Mais de cinqüenta por cento de todos os grupos acharam que o TDAH seria causado por problemas de educação por pais ausentes e sem limites. E mais da metade dos grupos concordaram que o TDAH poderia ser tratado só com psicoterapia ou através de esportes. Diante de tantos mal-entendidos, torna-se urgente a criação de meios de divulgação cientificamente validados para toda a sociedade de um modo geral, sobre o que é o TDAH, como ele se manifesta no dia-a-dia e como lidar com o transtorno em casa e na escola ou no trabalho.
Hoje, já se sabe que uma educação sem regras e limites não causa TDAH, para alívio dos papais e das mamães que durante tantas décadas foram culpabilizados por serem a causa do transtorno em seus filhos. O que ocorre é que, sendo o TDAH uma condição biopsicossocial, o mesmo vai depender da interação de fatores genéticos (90% predominantes) e ambientais, desde que a pessoa tenha predisposição genética para o TDAH. O que pode ocorrer em alguns casos é que se a dinâmica familiar for muito desestruturada, essa condição pode servir de gatilho para o aparecimento dos sintomas de TDAH, mas nunca a sua causa.
O site da Associação Brasileira de Déficit de Atenção é um local confiável de acesso a todas as informações sobre o TDAH.
Evelyn Vinocur é psicoterapeuta cognitivo comportamental. Atua na área de saúde mental de adulto e é especializada em saúde mental da infância e adolescência.
Para saber mais, acesse: www.evelynvinocur.com.br