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Ter menos tempo de televisão na hora das refeições pode ser melhor para o desenvolvimento da linguagem das crianças. Essa é a conclusão de pesquisadores do Inserm do Centro de Pesquisas em Epidemiologia e Estatística - Universidade de Paris (CRESS), na França.
O estudo, publicado no Scientific Reports, mostrou que crianças que assistem televisão durante uma refeição em família têm níveis de linguagem mais baixos em média, levando-as a pensar mais no uso da tela do que o usual.
Embora muitos pesquisadores tenham identificado ligações entre o tempo de tela e o desenvolvimento cognitivo em crianças, poucos examinaram o contexto em que as telas são usadas.
Para os cientistas, esse fenômeno pode ser explicado por um efeito vindo do receptor da criança: "A estimulação auditiva e visual pode aumentar as distrações das crianças e dos pais em seu ambiente familiar, aumentando as dificuldades para a criança extrair da paisagem de fundo as distinções fonológicas e características sintáticas da linguagem", resumem os pesquisadores.
No entanto, de acordo com os autores, esse atraso não parece irremediável e pode não persistir, já que o QI e o nível de linguagem mudam com o tempo. Os cientistas agora estão trabalhando "no monitoramento de crianças para ver se isso pode afetar outros aspectos da saúde".
A linguagem na infância
Nas últimas décadas, as telas tornaram-se parte essencial da vida. Mesmo crianças pré-escolares passam uma quantidade considerável de tempo na frente delas. Entre três a seis anos de idade, as crianças passam em média duas horas por dia em frente às telas.
"Sabemos que uma grande quantidade de tempo em frente às telas pode estar associada a um pior desempenho na linguagem", explica Jonathan Bernard, principal autor do estudo e pesquisador do Instituto Nacional Francês de Saúde e Pesquisa Médica.
Um dos pesquisadores do estudo esclarece que a linguagem da criança não parecia diretamente ligada ao tempo em que elas passam diante das telas, mas sim mais referente ao tempo gasto em frente à televisão - especificamente durante as refeições -, que está associado a piores resultados de linguagem.
Para medir o tempo e o contexto de uso de tela, os pesquisadores se basearam em questionários preenchidos pelos pais das crianças, que foram acompanhadas aos dois, três e cinco anos e meio, observando-se quantas vezes a televisão estava ligada durante as refeições. Para o tempo de tela das crianças, foi levado em consideração apenas o tempo passado em frente à televisão, ao computador e jogando videogame.
A pesquisa também considerou outras variáveis, incluindo as características socioeconômicas da família.
Um outro estudo, este publicado nos EUA, chegou a apontar que muito tempo em frente à tela pode gerar menos curiosidade e estabilidade emocional em crianças e adolescentes, especialmente.
Reduzindo o tempo em frente à tela
A recomendação de muitos especialistas é que, até os três anos de idade, a criança seja exposta minimamente às telas, como televisão, celulares, tablets e videogames.
Também se sabe que a exposição exagerada às telas pode levar a problemas hormonais, como a alteração da liberação do hormônio cortisol - uma resposta semelhante ao estresse.
Dessa forma, é indicado que os pais procurem limitar a exposição das crianças, podendo considerar até retirar a televisão do quarto a fim de que reduzir as horas de tela.
Em tempos de pandemia e aulas virtuais, também é importante que os pais ajudem as crianças e adolescentes a realizarem pausas durante o uso dos dispositivos eletrônicos.
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