Jamal Sobhi Azzam é médico formado pela Faculdade de Medicina da USP em 1986 e especialista em Otorrinolaringologia pelo...
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A tosse é um reflexo natural do aparelho respiratório para eliminar micro-organismos que estejam afetando as vias aéreas — seja nariz, garganta ou pulmões. Porém, nem sempre o sintoma é igual ou surge sozinho.
É importante analisar os diversos aspectos da tosse para ajudar a entender se trata-se de um quadro alérgico leve ou do sintoma de algo mais grave, como pneumonia ou faringite.
A seguir, o MinhaVida explicou as principais características da tosse e quando é o momento corto para buscar ajuda médica.
Tosse seca: o que pode ser?
A tosse seca é um tipo de tosse que gera bastante incômodo entre as pessoas. Essa tosse não faz barulho de secreção — nem na garganta, nem nos pulmões -, mas o sintoma quase sempre afeta pessoas com alguma alteração no sistema respiratório, como:
- Rinite alérgica
- Faringite aguda irritativa, viral, bacteriana ou fúngica
- Amigdalite viral ou bacteriana
- Laringite irritativa, viral ou bacteriana
- Traqueítes ou laringotraqueítes virais ou bacterianas
- Crise de asma/bronquite aguda
- Pneumonia viral ou pneumonia bacteriana
- COVID-19 (doença causada pelo novo coronavírus)
- Uma causa grave e que pode levar à risco de morte é a embolia pulmonar.
Entretanto, a tosse também pode ocorrer como sintoma de outras doenças. "Ela pode ser sintoma de alterações cardiovasculares, reumatológicas ou gastroenterológicas, assim como de tumores benignos e malignos ou então um efeito colateral de medicamentos", explica o otorrinolaringologista Jamal Azzam.
Além disso, muitos quadros virais ou bacterianos — como um resfriado ou gripe — podem manifestar tosse seca no final ou após o final do tratamento. "A pessoa tem congestão nasal, secreções e cerca de uma semana depois tem tosse".
O especialista afirma que se a tosse seca estiver acompanhada de febre alta persistente, mal-estar intenso no corpo e dores nos olhos, é necessário buscar ajuda médica. Além disso, é importante entender que fazer o uso de medicamentos sem orientação médica pode causar complicações, e, em alguns casos, o uso excessivo de pastilhas pode piorar a tosse.
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Tosse produtiva: entenda as suas causas
Na tosse produtiva, é expelido o muco (mais conhecido como catarro), que pode ser claro, espesso, branco, verde, amarelado ou em alguns casos acinzentado. Ele é produzido por pequenas glândulas que ficam abaixo da mucosa, uma camada que reveste internamente as vias aéreas.
Segundo o pneumologista Ciro Kirchenchtejn, o muco é composto por água (90% a 95%), glicoproteínas, sais e restos celulares. Sua função é proteger as vias aéreas do ataque de vírus, bactérias e outros micro-organismos que podem infectar o corpo.
Justamente por isso, a cor, consistência e até mesmo o odor do muco podem indicar se há algo de errado, uma vez que para eliminar os organismos invasores ele poderá ficar mais concentrado, com sangue ou mesmo cheirar mal.
"Quando existe catarro, a sugestão é que não seja somente uma doença irritativa, e sim viral ou bacteriana", explica Jamal. Da mesma forma que a tosse seca, a tosse produtiva também pode ocorrer após o tratamento de algumas doenças, uma vez que o organismo ainda está eliminando os micro-organismos.
Segundo os especialistas, sintomas como falta de ar e cansaço constante para atividades físicas leves devem motivar uma consulta médica.
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Tosse que produz gosto ácido ou amargo na boca
Doenças como gastrite e refluxo gastroesofágico podem gerar uma tosse com gosto amargo na boca. Isso ocorre quando há um retardo no esvaziamento dos alimentos do estômago, que sofrem uma fermentação por ação de bactérias, liberando odores desagradáveis, conforme explica o gastroenterologista Décio Chinzon, do Laboratório Pasteur, em Brasília.
"Algumas sintomas associados à tosse levantam suspeita para um problema gastroenterológico, como azia, irritação constante na garganta, sensação de que tem algo parado na garganta, ardor na garganta ou na boca e queimação na língua", enumera o otorrinolaringologista Jamal.
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Tosse por tabaco
O tabagismo provoca uma tosse crônica, persistente e bastante incomodativa. A secreção liberada na tosse do tabagista costuma ser escura e amarronzada. "O tabaco é um importante irritante das vias aéreas, tanto nasais como brônquicas, e pode estimular as glândulas a produzirem mais muco", diz o pneumologista Ciro.
Parar de fumar aumenta as chances desse tipo de tosse diminuir com o tempo. No entanto, pessoas que fumam há anos dificilmente irão parar de tossir, uma vez que a irritação de toda árvore respiratória é crônica e sequelar.
Tosse com sangue
A presença do sangue na tosse pode indicar uma infecção viral, fúngica ou bacteriana. "Outras causas de tosse com sangue incluem ruptura de vasos do sistema respiratório, tumores, tuberculose, entre outros", afirma Jamal. Segundo o especialista, toda a tosse com sangue deve ser investigada, principalmente se associada à rouquidão persistente.
Por que a tosse piora à noite?
Pessoas com tosse crônica ou que estão passando por um quadro agudo podem notar que a situação tende a piorar à noite, principalmente durante o sono. Segundo Jamal, o sistema de proteção contra as inflamações e infecções fica mais debilitado durante a noite.
"A causa é que o hormônio anti-inflamatório e antialérgico, o corticoide natural, é liberado uma vez por dia, somente de manhã, então à noite esse hormônio já foi consumido — causando uma piora no quadro de diversas doenças", diz. Essa situação é especialmente comum em crianças que apresentam alergia. Nesses casos, a tosse começa cerca de uma hora depois do sono e pode perdurar a noite toda.
Além disso, a posição deitada prejudica a drenagem das secreções das vias respiratórias, o que favorece seu acúmulo e estimula a tosse. Investir em travesseiros mais altos durante as crises de tosse pode ser uma alternativa para reduzir o problema.
Diferenças entre tosse aguda e crônica
De acordo com os especialistas, a tosse aguda é aquela que dura até 3 semanas. Já a tosse crônica dura mais de 8 semanas e deve ser investigada independente dos sintomas relacionados. "Entre as tosses aguda e crônica, existe a tosse subaguda, que já deve ser tratada com atenção", afirma Jamal. Por isso, muito cuidado: tosse persistente por mais de 10 dias já é justificativa para uma consulta médica.
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