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A amamentação é essencial para o desenvolvimento do bebê e ainda garante alguns benefícios diretos para a mulher, como a aceleração da recuperação do corpo no pós-parto e até a diminuição das chances de se ter câncer de mama. Entretanto, não é incomum que as mães enfrentem dificuldades para amamentar - e o motivo pode estar relacionado com a ansiedade.
Durante os anos de 2018 e 2019, a pesquisadora Luciana Melo, da Universidade de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto, acompanhou a performance na amamentação de 186 mães que realizavam o acompanhamento da gestação no Sistema Único de Saúde (SUS).
A cientista aplicou diversos questionários de caracterização de comportamento psicológico e realizou pesquisas em torno do comportamento emocional dessas mulheres. Diante dos dados coletados, foi constatado que a ansiedade e a depressão eram "fortes determinantes" na prática de amamentação.
Ansiedade como causa de desmame precoce
No estudo, a pesquisadora observou que, livres desses transtornos, as mães mostravam maiores níveis de autoeficácia para a amamentação - ou seja, se sentiam mais seguras e capazes de amamentar seus bebês. Nesses casos, as chances de manter o aleitamento materno exclusivo por mais tempo eram maiores.
Em contrapartida, a cientista notou que a ansiedade materna é um fator importante que pode levar ao desmame precoce de bebês. Dessa forma, a atenção à saúde mental da mulher no período pós-parto poderia promover resultados positivos significativos não só no puerpério, mas também na amamentação em si - principalmente no início, quando a mãe enfrenta uma série de dificuldades.
"A amamentação é algo complexo, que envolve a conexão da mente com o corpo. Se a mente não estiver a favor, seja por medo, insegurança, mitos, tabus ou falta de informação, essa amamentação provavelmente será comprometida", salienta a ginecologista e obstetra Giovanna Noznica.
Não é só a mãe que pode sofrer com as novidades do pós-parto: o bebê também pode enfrentar dificuldades para se alimentar, afinal, ele ainda está "aprendendo" a comer e a respirar fora do útero.
"Às vezes, achamos que se trata de apenas posicionar o bebê, mas não. Ele pode não possuir o reflexo inato de só respirar. Às vezes, os bebês adormecem durante o momento que tomam leite ou não sabem como respirar e sugar o leite", destaca Isabella Thomé Lopes, psicóloga do Hospital e Maternidade Santa Joana.
O período pós-parto também marca enormes mudanças corporais e hormonais que podem resultar no surgimento ou na revelação de um quadro pré-existente de ansiedade ou até mesmo de depressão. Muitas vezes, a mãe pode não ter sofrido de ansiedade na gravidez, mas sofrer de ansiedade ou depressão pós-parto.
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"Existem muitas alterações hormonais pós-parto. É só pensar que todos os hormônios que foram produzidos durante os meses de gestação deixarão de ser produzidos", lembra a psicóloga. E essas mudanças afetam também o estado psicológico da mãe.
E como um corpo estressado reage ao produzir leite materno?
"O estresse pode, de fato, interferir na quantidade de leite materno produzido pela mãe. Em situações de estresse, o corpo libera algumas substâncias que diminuem a produção da prolactina, que é um dos principais hormônios responsáveis pela lactação", explica Giovanna Noznica.
Como lidar com a ansiedade pós-parto
Uma mulher que enfrenta dificuldades como a ansiedade e a depressão necessita de uma rede de apoio que favoreça sua saúde mental, como forma de combater esses males - para, consequentemente, sentir-se plena, capaz e disposta a amamentar.
Família, amigos e profissionais da saúde devem ter paciência com a mãe e o bebê. É necessário recordar que a chegada de uma nova vida marca também a chegada de mudanças e transformações complexas.
Além disso, a psicoterapia aliada a cuidados com a saúde do corpo, como acompanhamento nutricional e endócrino, pode promover melhoras significativas no quadro emocional da mãe. Portanto, é importante buscar ajuda ao identificar qualquer alteração de ordem mental ou psicológica após o nascimento do bebê.