Enfermeira desde 2008, parteira, especialista em obstetrícia pela Universidade Anhembi Morumbi, consultora de aleitament...
iQuando me formei em enfermagem obstétrica, li diversos protocolos a respeito da amamentação e, como resultado desse conhecimento, a tendência foi me tornar uma profissional por vezes engessada em fluxogramas e processos “alinhados”. Tudo isso mudou, porém, quando me tornei mãe: a melhor coisa que aconteceu na minha vida me fez evoluir como ser humano e me permitiu enxergar muitas questões que os livros não contam.
Quando o assunto é amamentação, aprendi que não é uma prática simples e única, inata à mulher e prazerosa desde o início. A romantização da amamentação me incomoda, afinal, usualmente não amamentamos nossos bebês recém-nascidos com uma bela roupa, perfeitamente maquiadas e lindamente sentadas em uma poltrona confortável. Essa ideia passada pela mídia muitas vezes causa uma sensação de incapacidade, um sentimento de culpa por não estar tão feliz e de bem com a vida como a modelo ou a atriz que é fotografada amamentando e exibida com destaque em revistas famosas.
Portanto, é importante saber que além dos benefícios do leite, é fundamental falar sobre a romantização desnecessária do aleitamento materno. Nesse tempo de formada, presenciei amamentações leves e também acompanhei aquelas desafiadoras, sendo que a segunda opção tende a ser a maioria delas. Choro, cansaço, sentimento de culpa, frustração, esgotamento físico são frequentes, porém o que mais preocupa é o esgotamento mental. Como é difícil para a mãe!
A amamentação é muito solitária na maioria das vezes. O ato em si não pode ser delegado. Não é possível se dirigir ao companheiro e pedir para que ele amamente naquela semana para que seja possível descansar.
Saiba mais: 8 métodos para estimular a produção de leite materno
A mãe ainda precisa lidar com uma sociedade cruel que a julga a todo instante e diz que o filho está magro, que o leite é fraco, que julga a mulher que optou por mamadeira e que cobra que aquela que está amamentando exclusivamente ofereça fórmula infantil ao filho. Para completar, existem profissionais da área materno-infantil que julgam as mães sem tentar entender o que essa mulher está passando. Logo, para que essa mãe se sinta acolhida, é fundamental ter uma rede de apoio.
Na consultoria de amamentação percebo algumas vezes que o profissional quer que a mãe amamente a todo custo, enxergando-a como uma usina produtora de leite sem ouvir o que aquela mulher está desesperada para dizer.
Enxergo a amamentação como um processo em construção desde o primeiro minuto de vida do recém-nascido que, desde que seja acolhido, floresce na parceria entre mãe e bebê. O processo precisa, dentro do possível, da criação de memórias positivas, já que os desafios são inúmeros. Principalmente, não deve ser julgado, mas compreendido pela rede de apoio e pelos profissionais envolvidos.
Para você que é mãe e está com desafios que não consegue lidar, procure ajuda. Só você sente o peso do processo que está enfrentando, portanto fale a respeito com quem você confia e também com profissionais comprometidos.
Leia também: 5 benefícios incríveis da amamentação que talvez você não conheça