Graduado em Medicina pela Faculdade de Medicina do ABC (1978) e doutorado em Psiquiatria pela Faculdade de Medicina da U...
iOs dados preocupam e são um alerta para as famílias e profissionais da saúde: seis em cada dez estudantes brasileiros, entre 13 e 17 anos, já beberam álcool alguma vez na vida, sendo que mais de um terço deles tomaram a primeira dose antes dos 14 anos e 47% revelaram ter tido episódios de embriaguez*.
Lembrando que no Brasil, desde 2015, a Lei nº 13.106/2015 criminaliza a oferta (vender, fornecer, servir, ministrar ou entregar) de bebidas alcoólicas, mesmo que gratuitamente, a menores de 18 anos de idade.
Não é por acaso que a Organização Mundial da Saúde (OMS) é taxativa na restrição total de bebidas alcoólicas para menores de 18 anos. Os efeitos do álcool são especialmente nocivos para cérebros que ainda estão em desenvolvimento, que é o que ocorre com crianças e adolescentes até essa idade.
As vias neuronais podem se tornar mais suscetíveis aos danos causados pelo álcool, levando ao comprometimento de várias funções e a consequências de curto prazo, como queda no rendimento escolar, gravidez precoce e indesejada, violência e acidentes. Isso acontece porque, sob efeito do álcool, os jovens ficam mais propensos a comportamentos de risco.
Também podem ocorrer prejuízos de longo prazo nas funções cognitivas (aprendizagem verbal, memória e atenção) e nas habilidades socioemocionais (autocontrole, motivação e julgamentos). Ainda, quanto mais precoce a experimentação de bebidas alcoólicas, maior o risco de desenvolver dependência no futuro.
Estudos apontam que a experimentação antes dos 15 anos aumenta em quatro vezes o risco de desenvolver dependência. Além disso, o uso de álcool na adolescência é associado ao maior consumo e abuso de outras drogas e mais comportamentos impulsivos na vida adulta.
Então, como proteger nossos filhos do uso precoce de álcool? Diversas pesquisas indicam que o primeiro contato com o álcool ocorre, frequentemente, nas próprias casas dos adolescentes, por oferta dos pais e parentes, ou pelo fácil acesso às bebidas.
Portanto, a postura dos pais ou responsáveis em relação ao álcool é um dos fatores decisivos para definir a própria relação dos filhos com a bebida. As crianças e adolescentes ouvem o que o adulto diz, mas também observam o que ele faz.
Assim, estar atento a suas próprias atitudes é fundamental para oferecer modelos positivos de comportamento. Afinal, o exemplo não é a melhor forma de ensinar alguma coisa para alguém; é a única! Desse modo, faça escolhas saudáveis.
Outra orientação importante é conversar sobre o assunto com os filhos naturalmente, do modo mais simples possível, explicando as consequências do consumo de bebida na adolescência. O diálogo aberto e amigável constitui uma ferramenta relevante na proteção dos jovens, por isso, não use tom autoritário e evite sermões.
O acesso a ambientes virtuais, como as redes sociais, também deve ser monitorado. Evidências científicas têm demonstrado que a exposição a conteúdos sobre álcool nessas plataformas pode estimular percepções positivas do álcool e influenciar o seu consumo.
Nem sempre é uma tarefa simples, mas o envolvimento afetivo, a boa comunicação e o estabelecimento de limites são atitudes totalmente acessíveis aos pais e responsáveis e que contribuem diretamente para a prevenção do uso precoce de álcool.
* Pesquisa nacional de saúde do escolar: 2019 / IBGE, Coordenação de População e Indicadores Sociais. - Rio de Janeiro: IBGE, 2021.