Formada em Medicina na Universidade Federal de Uberlândia, fez Residência Médica de Ginecologia e Obstetrícia em Ub...
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O que é pré-natal?
O pré-natal é o acompanhamento médico realizado durante a gravidez em que se avaliam a saúde materna e o desenvolvimento do bebê. Através dele, é possível prevenir e/ou detectar precocemente patologistas tanto maternas como fetais, reduzindo os riscos da gestante e contribuindo para uma gestação favorável. Além do obstetra, outros profissionais podem auxiliar nesse processo, como nutricionistas e psicólogos.
O pré-natal é um direito assegurado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente para todas as mulheres.
Como funciona o pré-natal?
Durante toda a gravidez, a gestante deverá realizar consultas regulares para o esclarecimento de quaisquer dúvidas. "É também uma oportunidade de promover bons hábitos de saúde, prevenindo complicações e reforçando o vínculo entre paciente, familiares e os profissionais da equipe, além de preparar toda a família para o parto", afirma a ginecologista Sofia de Mota Paiva.
Na primeira consulta, o especialista irá investigar tudo que pode influenciar ou atrapalhar o bom andamento da gestação, conforme explica Karen Rocha de Pauw, médica ginecologista, obstetra e especialista em reprodução humana. Isso infere:
- Pressão arterial
- Peso corporal
- Altura do útero
- Perímetro abdominal
- Ultrassom para avaliar o feto.
Além disso, serão solicitados exames para monitorar o estado geral da mãe, além de determinar a idade gestacional e iniciar um plano de cuidado obstétrico continuado.
Segundo Fábio Broner, médico ginecologista do Hospital Albert Sabin de São Paulo (HAS), o calendário de atendimento pré-natal deve ser programado em função da idade gestacional na primeira consulta e dos períodos mais adequados para a coleta de dados clínicos.
No Brasil, o Ministério da Saúde recomenda que sejam realizadas, no mínimo, seis consultas no pré-natal - uma no primeiro trimestre da gravidez, duas no segundo e três no terceiro trimestre.
Em artigo escrito ao Minha Vida, o ginecologista e obstetra Alessio Calil Mathias esclarece que as consultas são mensais até a 32ª/33ª semana, quinzenais, até a 37ª, e semanais a partir da 40ª semana de gestação. Após esse período, a gestante deve ser acompanhada pelo obstetra a cada dois ou três dias.
Quando deve começar o pré-natal?
O pré-natal deve ser iniciado assim que a gestação é confirmada. A primeira consulta de planejamento da gestação é essencial para que se iniciem precocemente os exames necessários e a administração de medicação.
Tipos de pré-natal
Existem dois tipos de pré-natal. São eles:
- Pré-natal de baixo risco ou risco habitual: esse pré-natal é destinado a gestantes que não possuem nenhum tipo de comorbidade ou doença que possa se agravar durante a gestação
- Pré-natal de alto risco: é destinado à mãe que desenvolve algum tipo de patologia durante a gravidez, que pode comprometer tanto a sua saúde quanto a do bebê, como hipertensão arterial e pré-eclâmpsia. Nesse caso, a gestante precisará de um acompanhamento rígido e da presença de outros especialistas, a depender do problema
Exames realizados durante o pré-natal
Hemograma completo
O hemograma é o exame realizado para avaliar todos os componentes presentes no sangue, como os glóbulos vermelhos (hemácias), glóbulos brancos (leucócitos) e as plaquetas (coagulação sanguínea). São exames laboratoriais básicos e de rotina, essenciais para avaliar se a gestante está com anemia, por exemplo.
O hemograma pode detectar diversas patologias, tais como:
Glicemia
O exame de glicemia em jejum serve para medir a quantidade de glicose presente na circulação sanguínea e é utilizado para investigar um possível caso de diabetes gestacional. A condição, que ocorre em aproximadamente 4% de todas as gestações, torna a gravidez mais arriscada, de modo a causar problemas à saúde do feto.
Embora a queda da glicemia (chamada de hipoglicemia) também possa trazer riscos à gestante e ao feto, ela é mais rapidamente diagnosticada e tratada devido a seu tipo de sintomatologia.
Os principais sintomas de queda de glicemia na gestante incluem:
Para a realização do exame, é necessário estar de 8 a 12 horas de jejum, sem consumir nenhum tipo de alimento ou bebida, somente água. Porém, também é possível realizar a curva glicêmica, que avalia os níveis de açúcar no sangue após duas horas de ingestão do alimento.
Sistema ABO e fator Rh
Os exames de tipagem sanguínea servem para identificar o tipo sanguíneo da mãe e são necessários em casos de possíveis transfusões de sangue. O sistema ABO indica classificações existentes do sangue humano: A, B, AB e O. Já o fator Rh busca indicar se o sangue possui Rh positivo ou negativo.
Em entrevista prévia ao Minha Vida, o especialista em ginecologia e obstetrícia Fábio Rosito explicou que mães que sejam fator negativo e tenham bebês com fator positivo podem obter um quadro chamado eritroblastose fetal. Segundo ele, durante o parto, quando os sangues entram em contato, são formados anticorpos anti-Rh no corpo da mãe, que podem destruir as hemácias do próximo bebê Rh+ que ela tiver.
Sorologia para HIV e VDRL
O exame para HIV busca saber quando a gestante é soropositiva para o HIV, ou seja, se ela possui chances de desenvolver AIDS. O exame de sorologia para VDRL, porém, indica se a mãe está contaminada com a Treponema pallidum, bactéria causadora da sífilis. Enquanto o HIV ataca diretamente o sistema imunológico, os riscos de sífilis congênita incluem:
- Parto prematuro
- Bebê com baixo peso
- Aborto
- Surdez
- Manchas na pele
- Meningite.
Em caso de resultado positivo, é importante que a paciente seja tratada rapidamente para evitar a transmissão da infecção para o bebê. Com um diagnóstico precoce e o tratamento adequado, a contaminação pode ser evitada.
Reação para toxoplasmose e para rubéola
Os exames para toxoplasmose e para rubéola indicam se a paciente já teve contato com os causadores dessas doenças. O diagnóstico de toxoplasmose e rubéola é normalmente sorológico pela dosagem de IgM e IgG. Desse modo, é possível saber se há uma infecção recente, antiga ou se a paciente está imune.
Sorologias para hepatite B e C para citomegalovírus
Esse exame indica se a mãe possui hepatite B e C para citomegalovírus, que podem afetar o desenvolvimento do feto. Embora seja rara, a doença citomegalovírus pode causar malformações no bebê. Já as hepatites B e C podem ser transmitidas na gestação.
Exame de urina
O exame de urina, também chamado de exame de urina tipo 1 ou exame EAS (Elementos Anormais do Sedimento), permite identificar doenças do trato urinário como pedra nos rins, insuficiência renal e infecções — mesmo que a gestante não apresente sintomas. Assim, o obstetra pode avaliar o melhor tratamento a fim de evitar futuras complicações na gestação, como parto prematuro.
Exame de fezes
O exame parasitário de fezes é capaz de detectar parasitas intestinais (verminoses), que podem acarretar em quadros de anemia. Dependendo da gravidade, algumas verminoses precisam ser tratadas, pois podem afetar a gravidez e prejudicar a qualidade de vida da gestante.
Ultrassonografia
A ultrassonografia é um exame de imagem que possibilita a observação em tempo real do bebê no útero para avaliar a sua saúde e como ele está se desenvolvendo. Através dela, é possível datar a idade gestacional e determinar a quantidade de fetos. Caso haja diagnóstico de gêmeos, é possível determinar o tipo de gestação gemelar. São elas:
- Monocoriônica-monoamniótica, em que os gêmeos dividem uma placenta e uma bolsa amniótica
- Monocoriônica-diamniótica, em que os gêmeos dividem a placenta, mas estão em bolsas diferentes
- Dicoriônica-diaminótica, em que os gêmeos possuem uma placenta e uma bolsa para cada.
No geral, são quatro os ultrassons indicados durante a gravidez, cada um importante para determinada fase. São eles:
- Ultrassom inicial transvaginal: realizado no primeiro trimestre da gestação, é necessário para avaliar se o feto está realmente dentro do útero, determinar sua idade gestacional e se trata-se de uma gestação gemelar ou múltipla
- Ultrassom morfológico com Doppler colorido: realizado normalmente entre as semanas 11 e 12, avalia como está o desenvolvimento do bebê, como membros, coração, entre outros. Essa ultrassonografia também é capaz de medir a pressão arterial da mãe e, desse modo, calcular o risco de pré-eclâmpsia
- Ultrassom morfológico com medida de colo uterino: realizado no segundo trimestre, entre as semanas 20 e 24, ele avalia a morfologia do bebê novamente, avaliando o desenvolvimento de rins, pulmões, sistema nervoso e outros órgãos. É possível verificar se houve má formação dos membros. Além disso, o exame pode avaliar os riscos de parto prematuro
- Ultrassom obstétrico com Doppler colorido: realizado por volta da 32° semana, serve para conferir a posição fetal, a quantidade de líquido amniótico e o peso do bebê.
Benefícios do pré-natal
O acompanhamento pré-natal é essencial para garantir um parto saudável e sem complicações, além de orientar as futuras mães sobre temas importantes referentes à maternidade, como a amamentação. Outros benefícios incluem:
- Orientar a gestante sobre hábitos saudáveis de vida
- Preparar as mães psicologicamente para a chegada do bebê
- Promover o bem-estar físico e emocional ao longo da gestação
- Prevenir doenças e outros problemas que possam trazer riscos à saúde da gestante e do bebê.
"O pré-natal é capaz de detectar um grande número de patologias congênitas e anomalias do desenvolvimento, podendo levar a uma melhora na capacidade terapêutica e, por conseguinte, a uma mudança no manejo obstétrico", explica Fábio Broner, médico ginecologista do Hospital Albert Sabin de São Paulo (HAS).
Ademais, o acompanhamento também permite a detecção de doenças já existentes no organismo da mãe, mas que evoluem de forma silenciosa, como:
- Anemias
- Sífilis
- HIV
- Doenças cardiovasculares
- Diabetes gestacional
- Hipertensão arterial
- Infecção urinária
- Hepatites virais B e C para citomegalovírus.
Pré-natal psicológico
O pré-natal psicológico (PNP) se propõe acompanhar e preparar a gestante psicologicamente durante esse período com o objetivo de prevenir situações adversas decorrentes na gravidez — como a depressão pós-parto, por exemplo.
A gravidez é marcada por transformações físicas, emocionais e sociais na vida da gestante. Então, é comum que a futura mãe seja bombardeada de sentimentos e emoções diferentes ao mesmo tempo, como alegria, medo, insegurança e ansiedade.
Um acompanhamento psicológico pode ajudá-la a entender como lidar com as mudanças gestacionais e com possíveis medos que tenha, especialmente de mulheres com perdas gestacionais anteriores e doenças preexistentes. Outras condições externas também podem afetar psicologicamente a gestante, como no caso de uma gravidez indesejada ou inesperada, problemas financeiros ou a falta de apoio da família.
Entre os principais benefícios do pré-natal psicológico, é possível destacar:
- Minimiza os riscos de depressão pós-parto e baby blues
- Prepara a mãe para a maternidade
- Alivia sintomas de estresse
- Propicia um ambiente tranquilo até o fim da gestação e o nascimento do bebê
- Fortalece o vínculo entre o casal.
Leia também: Dicas para conseguir uma amamentação mais tranquila
Como funciona o pré-natal de gêmeos?
Devido às maiores complicações da gemelaridade, como abortamento, malformações e mortalidade, pressupõe-se a necessidade de um acompanhamento pré-natal intensificado, segundo Broner. Porém, o especialista ressalta que não há um protocolo definido para acompanhamento da gestação gemelar.
"Os fatores relevantes para um bom acompanhamento pré-natal são diagnóstico precoce da gemelaridade, determinação da idade gestacional e data provável do parto, assim como determinar se a paciente possui uma ou duas placentas e uma ou duas bolsas amnióticas", aponta.
Como rotina, são recomendadas consultas mensais até a 26° semana, quinzenais até a 33° semana e pelo menos semanais a partir da 34° semana de gestação - uma vez que, segundo o ginecologista e obstetra Cláudio Basbaum em artigo escrito ao Minha Vida, 50% dos gêmeos nascem com prematuridade, antes de 34 semanas.
"O obstetra deve estar ciente dos riscos e das patologias possíveis de serem desenvolvidas. A paciente deve ser orientada sobre o risco de prematuridade para que, em casos de contrações precoces, procure avaliação médica", acrescenta Fábio Broner.
Leia mais: Pré-natal de gêmeos: quais são os cuidados e exames necessários?
Uso de medicamentos na gravidez
O uso de medicações é avaliado de acordo com os sintomas da gravidez e os resultados de exames. Recomenda-se suplementar com ácido fólico no início da gestação, vitamina importante para evitar malformações neurológicas, DHA na prevenção do parto prematuro, e ferro na segunda metade da gestação para evitar anemia.
Pode ser necessária suplementação de vitamina D, além de AAS em mulheres com alto risco de pré-eclâmpsia ou restrição de crescimento fetal. Mulheres com risco de parto prematuro também podem necessitar do uso de progesterona.
A idade da gestante influencia no pré-natal?
De acordo com Fábio Broner, as gestações nos extremos da idade reprodutiva apresentam piores desfechos perinatais. Entre as mais jovens, abaixo dos quinze anos, os riscos de complicações maternas e fetais incluem, segundo Sofia:
- Prematuridade
- Pré-eclâmpsia
- Restrição do crescimento fetal
- Depressão pós-parto.
Já nas mulheres mais velhas, a especialista destaca:
- Maior risco de aborto espontâneo
- Hipertensão gestacional
- Diabetes gestacional
- Maior risco de síndromes genéticas
- Malformações fetais.
"Além disso, após os 35 anos, (as gestantes) podem apresentar com maior frequência doenças crônicas, estando mais propensas a desenvolverem condições que podem afetar o sucesso da gestação", finaliza Broner.
Referências
Sofia da Mota Paiva, ginecologista, CRM 1002732.
Fabio Broner, médico ginecologista do Hospital Albert Sabin de São Paulo (HAS).