Priscilla Martins atua como psicóloga no Instituto Castro. Graduada em Psicologia e specialista em Terapia Cognitiva Com...
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O uso da expressão antissocial é regularmente empregado nos dias de hoje para definir indivíduos que optam por uma vida mais reservada, evitando normalmente locais que exigem interação social.
Mas, ao contrário do que muitos pensam, o termo trata de uma patologia, mais conhecida como transtorno de personalidade antissocial (TPAS) - caracterizada por um padrão comportamental marcado pelo desprezo e violação dos direitos do outro.
Em formas mais graves do transtorno, é possível observar casos de indivíduos com diagnóstico de sociopatia ou psicopatia. A princípio, é comum que haja confusão quanto aos dois termos, pois ambos compartilham muitos traços comportamentais do TPAS. Todavia, existem diferenças significativas capazes de distingui-los, especialmente no que diz respeito ao modo que eles se desenvolvem.
O que caracteriza um psicopata?
A pessoa com um diagnóstico de psicopatia apresenta um comportamento definido pelo padrão invasivo de desrespeito e violação das normas da sociedade, com total descaso pelas consequências.
Sendo assim, o psicopata tende a ser extremamente manipulador, calculista e sedutor, incapaz de formar qualquer vínculo emocional com outras pessoas. Na verdade, muitas de suas relações são superficiais.
Marina Vasconcellos, psicóloga pela PUC-SP e terapeuta familiar e de casal pela UNIFESP, refere-se ao psicopata como um predador social. "Ele está sempre interessado em algo para ele, que satisfaça o seu ego, ao eu. Não existe o outro na vida dele [...] Não importa o que vá provocar no outro, se irá causar algum transtorno, se vai ofender. Não importa, porque não há empatia".
Algumas das características mais marcantes do psicopata incluem:
- Incapacidade de sentir empatia
- Egocentrismo
- Falta de remorso
- Atitudes frias e calculistas
- Boa lábia
- Mentiroso patológico
- Descaso com as consequências de seus atos
- Comportamento controlado e calculado
- Falta de controle da raiva.
"[O transtorno] se inicia na infância ou começo da adolescência e continua na idade adulta. Esse transtorno pode acontecer devido a alterações cerebrais, fatores genéticos e traumas na infância, como abuso sexual ou emocional?, explica Priscilla Martins, psicóloga do Instituto Castro.
Os psicopatas, segundo estudos, correspondem a 1% da população geral.
Leia mais: O que está por trás da mente de um psicopata (e como ajudá-lo)
Como diagnosticar a psicopatia?
A psicopatia é um dos transtornos mais difíceis de diagnosticar e, por isso, é imprescindível um acompanhamento e uma análise minuciosa de um psiquiatra. Através de uma análise comportamental, é possível identificar alguns pontos característicos do distúrbio, como o desrespeito pelas leis e a ausência do sentimento de remorso ou culpa.
Além disso, segundo Marina Vasconcellos, é possível realizar o diagnóstico com o auxílio de testes de personalidade. Um deles é o Teste de Rorschach, também conhecido como teste das manchas, utilizado pelos psicólogos para avaliar as características da personalidade e o funcionamento emocional do paciente.
Também é possível utilizar a escala de Robert Hare para a verificação da psicopatia. No teste, um especialista entrevista um potencial psicopata e o classifica em 20 critérios, como "impulsividade" ou "comportamento violento", por exemplo. Em cada critério, o paciente é classificado em uma escala de 3 pontos. Somadas, elas criam uma classificação de zero a 40. Se o sujeito obtém 30 pontos ou mais, ele é provavelmente um psicopata.
O que caracteriza um sociopata?
O sociopata é caracterizado como um indivíduo de comportamento volátil e propenso a explosões de raiva. Podem ser charmosos, espontâneos e de fácil comunicação, exercendo fascínio e encanto nas suas vítimas. Apresentam também distinta capacidade de argumentação e articulação para conseguirem o que querem, sem pesar as consequência.
"Geralmente, eles buscam dominar e manipular as demais pessoas sempre para obter vantagens para si próprio, como bens materiais, dinheiro, parceria para negócios, sexo, reputação, e assim por diante", aponta Priscilla Martins. "Mas os sociopatas podem também querer dominar o outro apenas pela sensação de poder e controle".
As principais características do sociopata são:
- Comportamento impulsivo e irresponsável
- Temperamento explosivo e volátil
- Despreza as regras sociais e o comportamento padrão
- Na maioria dos casos, não sente remorso pelas suas ações e conduta
- É bastante autoconfiante e teimoso.
Atualmente, os sociopatas correspondem a 4% da população geral.
Como saber se uma pessoa é sociopata?
Segundo o DSM-5, o diagnóstico de sociopatia é realizado apenas em pacientes maiores de 18 anos de idade, mas eles devem ter evidências do problema desde os 15 anos.
O diagnóstico é realizado quando os sintomas do transtorno se mantêm por um período prolongado, mesmo após mudanças no estilo de vida ou punições devido a atos criminais, por exemplo.
Logo, o indivíduo apresenta completo desprezo pelas regras e direitos de outras pessoas, sendo imprudentes e facilmente irritáveis. Porém, mesmo com o tempo, esse comportamento permanece.
Principais diferenças entre psicopatas e sociopatas
A forma como se desenvolvem é a principal diferença entre a psicopatia e a sociopatia.
A psicopatia é considerada uma condição inata, ou seja, a pessoa já nasce psicopata. Embora alguns estudos sugiram que ela possa ser hereditária, estudos apontam que os psicopatas apresentam uma estrutura cerebral diferente.
No geral, pessoas com esse transtorno têm menos conexões entre o córtex pré-frontal ventromedial e a amígdala, estruturas responsáveis por regular as emoções e o comportamento social - o que pode explicar a insensibilidade de muitos psicopatas.
Já a sociopatia é desenvolvida ao longo da vida do indivíduo, sendo associada à educação e às relações sociais da pessoa. De acordo com Priscilla Martins, é possível observar que antissociais normalmente são pessoas que tiveram experiências relacionadas à negligência, violência, opressão, instabilidade e abuso durante a infância.
Além disso, por ser uma condição adquirida ao longo da vida, o sociopata é capaz de sentir culpa ou remorso por machucar outras pessoas, ao contrário do psicopata, podendo também estabelecer laços com pessoas próximas, como amigos e familiares. Porém, devido a seu comportamento explosivo, as relações tendem a ser difíceis. Inclusive, é difícil para os sociopatas se manter em um único trabalho.
É possível tratar a sociopatia e a psicopatia?
Não existe tratamento específico para a sociopatia e a psicopatia. "Cada indivíduo passa por um processo de tratamento que varia de acordo com sua idade, gravidade da doença e possível presença de outros transtornos de personalidade", esclarece Martins.
Ainda segundo a especialista, o tratamento de pessoas que foram diagnosticadas como psicopatas está sempre relacionado ao uso de medicamentos psiquiátricos, acompanhados pela psicoterapia e pelo apoio familiar. Porém, trata-se de um transtorno que não têm cura, haja vista que os psicopatas adotam seus comportamentos como sendo um modo de ser.
Para o caso de sociopatas, a terapia, o uso de medicamentos e alguns métodos de intervenção física são as opções mais utilizadas atualmente para tratamento.