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A participação regular dos filhos em tarefas domésticas pode ser benéfica para seu desenvolvimento cerebral, segundo uma nova pesquisa realizada pela Universidade La Trobe, na Austrália.
O estudo, que foi publicado na revista Australian Occupational Therapy, aponta que crianças que ajudam em atividades como cozinhar ou fazer jardinagem apresentam melhores funções executivas — que consistem em um conjunto de habilidades necessárias para o controle da vida social humana, e incluem atenção, percepção, memória de trabalho, controle e flexibilização.
Embora pesquisas anteriores mostrem que envolver as crianças em atividades apropriadas à faixa etária pode promover o sentimento de autonomia, a pesquisa atual liderada por Deanna Tepper é a primeira a analisar a associação entre a realização de tarefas regulares e desenvolvimento cognitivo infantil.
"As crianças que cozinham uma refeição em família ou limpam o jardim regularmente podem ser mais propensas a se destacar em outros aspectos da vida, como trabalhos escolares ou resolução de problemas", disse a especialista.
Como foi feito o estudo
O estudo analisou os pais ou responsáveis de 207 crianças com idades entre 5 e 13 anos de idade. Esses familiares preencheram questionários em 2020 sobre o número de tarefas que os pequenos realizavam no dia-a-dia e o nível da função executiva deles.
A partir disso, os pesquisadores descobriram que o envolvimento das crianças em tarefas de autocuidado, como preparar uma refeição, estava diretamente relacionado com a memória de trabalho e inibição, que consiste na capacidade de pensar antes de agir.
Segundo Teppes, isso ocorre pois a maioria dessas tarefas exige autorregulação, atenção e planejamento dos pequenos, o que dá suporte ao desenvolvimento de suas funções executivas. “Normalmente, essas habilidades começam a se desenvolver na primeira infância e continuam até o final da adolescência e início da idade adulta", disse Tepper.
A especialista ainda explica que os prejuízos e atrasos no desenvolvimento das habilidades infantis podem levar a diversos problemas quando adultos, como dificuldades na capacidade de autorregulação, planejamento e resolução de problemas. No geral, isso também impacta no desempenho acadêmico no fim da infância.
Como incentivar a autonomia da criança
Estimular a independência e incentivar a autonomia ainda na infância são atitudes essenciais para o futuro, além de contribuir para um desenvolvimento mais saudável. Desse modo, a criança é capaz de tomar decisões importantes, fazer boas escolhas e ainda adquirir aprendizados importantes para encarar a vida adulta.
Embora promover a autonomia dos pequenos não seja uma tarefa fácil para os pais, algumas pequenas atitudes fazem toda a diferença na rotina. Isso pode envolver atividades simples, como escolher a própria roupa, arrumar a cama, ajudar nos cuidados do pet ou arrumar o próprio material escolar. Ajudar a preparar a refeição também pode despertar o sentimento de responsabilidade desde cedo.
É importante destacar que essas práticas devem ser apropriadas para a faixa etária da criança, de modo que ela possa aproveitar o momento ao mesmo tempo em que entende suas limitações. Para colocar isso em prática, o pai ou responsável pode:
- Elogiar a criança e incentivá-la durante a tarefa;
- Não refazer a atividade;
- Não exigir perfeição;
- Não atrasar a realização da atividade;
- Não ser inconsistente nas demandas.
"Situações como estar diante de muitas pessoas ou fazer uma tarefa difícil exigem, a todos nós, segurança e confiança em nossa capacidade de realização", considera a psicanalista Joana de Vilhena Novaes, pós-doutora em Psicologia Social (UERJ), em entrevista prévia ao Minha Vida.
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