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Uma pesquisa realizada pelo Instituto Locomotiva e analisada pela Agência Tatu mostra que quatro em cada 10 mulheres da região Nordeste sofrem com pobreza menstrual. Ou seja, elas enfrentam dificuldade no acesso a direitos e a itens de higiene íntima e específica para pessoas que menstruam, como absorventes.
De acordo com o levantamento, entre janeiro e fevereiro deste ano, 43% das mulheres nordestinas precisaram pedir absorventes ou dinheiro emprestado porque não tinham condições financeiras para comprar os produtos durante o fluxo menstrual.
Além disso, 45% das entrevistadas afirmou que o gasto com esses insumos pesa no orçamento e elas precisam economizar esses itens. Já 30% das meninas e mulheres da região tiveram que usar outros produtos para conter a menstruação, já que não possuíam condições de comprar absorventes.
Papel higiênico é o principal item de substituição
Segundo o levantamento, o papel higiênico é o principal item utilizado para substituir o absorvente íntimo, sendo utilizado por 76% das entrevistadas que já precisaram usar outros produtos no fluxo menstrual. Em segundo lugar, 41% das mulheres disseram utilizar panos e tecidos para conter o sangramento.
Menstruação atrapalha a rotina de 74% das mulheres
Outra análise, feita pelo estudo do Instituto Locomotiva, mostrou que 74% das mulheres do Nordeste concordaram que a menstruação atrapalha a rotina. Além disso, 61% das entrevistadas afirmaram que trocariam os absorventes com maior frequência se o item fosse distribuído gratuitamente (o custo mensal médio com absorvente é de R$ 16,56, de acordo com o Procon Maceió).
Segundo especialistas, a recomendação é trocar o absorvente externo a cada quatro horas para evitar o abafamento e a concentração de bactérias. "Ficar muito tempo com o absorvente externo pode causar odores e vazamentos", afirmou a ginecologista Flávia Fairbanks, em entrevista prévia ao MinhaVida.
Já o absorvente interno deve ser trocado a cada quatro ou cinco horas. “A troca evita que as bactérias se proliferem no local, se ficar mais tempo do que seis horas, pode vazar”, explica a ginecologista.
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Pobreza menstrual: números além do Nordeste
Pobreza menstrual é um termo usado para caracterizar inúmeros desafios enfrentados no acesso a direitos e a insumos de saúde para meninas, mulheres, homens trans e pessoas não binárias que menstruam, de acordo com o relatório “Pobreza Menstrual no Brasil: desigualdade e violações de direitos”, feito pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA).
Nesse sentido, a pobreza menstrual é a falta de acesso a absorventes, saneamento básico, coleta de lixo, banheiros, recursos para higiene, medicamentos para administrar problemas menstruais e/ou carência de serviços médicos ou conhecimento do próprio corpo para cuidar do período menstrual.
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Esse cenário está presente em outras regiões além do Nordeste. De acordo com o relatório da UNICEF e UNFPA, 62% das pessoas de 13 a 24 anos já deixaram de ir à escola ou a outros lugares por causa da menstruação. Além disso, 3% das estudantes brasileiras frequentam escolas que não possuem banheiro em condições de uso - sendo 37,8% delas localizadas no Nordeste.
Além disso, 11,6% do total de alunas brasileiras não têm à sua disposição papel higiênico nos banheiros das escolas em que estudam, sendo 66,1% dessas alunas pretas/pardas, segundo o relatório. A situação é mais delicada para meninas da região Norte em comparação com a região Sudeste: o primeiro grupo tem um risco 271% maior de estudar em escolas sem este insumo em relação ao segundo grupo.