Enfermeira Obstetra e Consultora de Amamentação.
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Uma das preocupações mais comuns das mães que amamentam é ter uma baixa produção de leite materno. Seja pelo comportamento do bebê ou por outros fatores, a dúvida pode levar ao uso desnecessário de suplementação, com leite de fórmula, ou a métodos ineficazes de aumentar a oferta de leite.
Por isso, é fundamental que a lactante esteja atenta aos sinais para evitar a perpetuação de mitos que podem prejudicar a amamentação e levar ao desmame precoce, situação em que o aleitamento materno é interrompido antes que o bebê complete seis meses de vida.
O que causa a baixa produção de leite materno?
A princípio, é preciso entender que processo de lactação está relacionado à produção de dois hormônios: a prolactina e a ocitocina.
A prolactina, hormônio responsável pela produção de leite, é estimulada pela sucção da mama pelo bebê. Já a ocitocina, conhecida como “hormônio do amor”, é encarregada pela ejeção do leite e afeta diretamente a saúde mental e emocional da lactante.
Diversos fatores podem impactar a ação desses hormônios e, consequentemente, influenciar na produção de leite materno. Segundo Francine Branco, enfermeira obstetra e consultora de amamentação, as causas vão desde o processo fisiológico que ocorre no cérebro até práticas inadequadas de amamentação, como a pega incorreta do bebê.
Segundo Francine Branco e Carla Iaconelli, médica ginecologista especialista em Reprodução Humana, as principais causas para a baixa produção de leite materno incluem:
- Síndrome do Ovário Policístico
- Diabetes
- Alterações na tireoide e outros distúrbios hormonais
- Cirurgias mamárias
- Uso de antigripais e antialérgicos
- Hipoplasia mamária, condição rara em que não há tecido glandular mamário suficiente
- Fissura mamilar
- Estresse
- Dificuldade na pega adequada do bebê
- Alimentação e hidratação inadequada.
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Como estimular a produção de leite materno?
Caso a lactante tenha alguma doença ou condição pré-estabelecida que esteja afetando o aleitamento, ressalta-se a importância do atendimento com profissionais da saúde, que poderão recomendar o tratamento adequado.
No entanto, na ausência de quadros clínicos, a adoção de hábitos saudáveis e práticas adequadas de amamentação podem contribuir para aumentar a produção de leite. Confira alguns deles a seguir.
1. Amamente em livre demanda
A amamentação em livre demanda, recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), é uma das principais práticas capazes de estimular a produção de leite — uma vez que a sucção do bebê é o fator que mais estimula as mamas a produzirem o alimento.
Além disso, o ato de permitir que bebê seja amamentado quantas vezes ele quiser é uma forma bastante eficaz de prevenir o ingurgitamento mamário (leite empedrado) e evitar outros problemas durante a amamentação, como mastite e obstrução de ducto.
O aleitamento materno deve começar logo na sala de parto. Imediatamente após o nascimento, o ideal é que o bebê seja colocado pele a pele com a mãe, onde ele buscará pelo seio para iniciar a sucção. Quanto melhor a sucção, mais correta a pega e maiores o estímulo e a produção de leite materno.
2. Beba água!
A produção de leite materno está diretamente relacionada à hidratação da lactante. Em função disso, o ideal é que seja consumido entre 3 e 4 litros de água por dia. A alimentação também é uma forma de contribuir para a hidratação. Além da água, a lactante também pode consumir alimentos ricos em água, como morango e mamão, além de chás, sucos e sopas. Confira 6 ítens para te incentivar a beber mais água.
3. Observe a pega do bebê
Como a sucção do bebê é capaz de estimular diretamente a produção de leite, a pega incorreta pode fazer com que ele não esteja sugando leite o suficiente. Isso pode ocasionar em alguns problemas que interferem na amamentação, como fissuras nos mamilos e mastite.
Por isso, a lactante deve estar atenta aos sinais que indicam se o bebê está conseguindo sugar o leite corretamente. Em casos de pega incorreta, observa-se que a boca do bebê não consegue envolver toda a aréola, os lábios ficam virados para dentro e o queixo não encosta na mama. Também é possível ouvir sons de estalidos quando a criança mama.
Vale destacar que, se ela não estiver mamando de forma adequada, a mãe pode notar uma perda de peso aparente, além de irritabilidade e momentos de choro após a mamada — que podem guiar para o desmame precoce.
Normalmente, problemas como pega incorreta ocorrem nas primeiras semanas após o parto e podem ser corrigidos a partir da manutenção de técnicas de amamentação, guiadas por um especialista.
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4. Fique de olho nas fissuras mamilares
Dor no início da amamentação é normal, mas é preciso observar para ver se não há o surgimento de rachaduras nos mamilos. A pega incorreta do bebê e o posicionamento inadequado da lactante são algumas das principais causas da fissura mamilar — que pode, inclusive, interromper a amamentação.
Em casos de fissuras, é importante buscar ajuda de um médico especialista, que poderá diagnosticar e recomendar o melhor tratamento. Ressalta-se que receitas caseiras (como casca de banana nas mamas) devem ser evitadas, pois, além de poderem piorar o quadro, podem prejudicar a amamentação e trazer problemas à saúde do bebê.
5. Mantenha uma alimentação equilibrada
Não existem alimentos específicos ou chás capazes de estimular a produção de leite, segundo Francine Branco. O importante é se alimentar de forma saudável e manter o corpo hidratado.
A dica é investir em uma rotina alimentar rica em proteínas, além de vitaminas, nutrientes e fibras, como grãos e cereais integrais, frutas e verduras. Gorduras saturadas, como frituras, manteigas e alimentos congelados, devem ser evitadas, já que não oferecem nutrientes importantes para a saúde da mamãe.
“A alimentação é uma das bases da saúde. Proteína, saladas, verduras e frutas. [...] Uma dieta balanceada em legumes ajuda a produzir vitaminas fundamentais para a vida saudável do bebê”, explica Carla Iaconelli.
6. Mantenha-se relaxada
A mãe que amamenta precisa estar relaxada, pois eventos estressantes podem inibir a produção láctea. "Estresse, insegurança, dor por conta de alguma fissura, cansaço etc. podem liberar hormônios que bloqueiam a produção e a ejeção do leite materno", afirmou Alexandra Marinho, nutricionista materno-infantil, em entrevista prévia ao MinhaVida.
Ainda que a rotina seja atarefada, o ideal é que a lactante mantenha o sono em dia, organizando as tarefas diárias e reservando um tempo para relaxar e repor as energias. Além disso, evite tarefas domésticas, especialmente se elas exigem muito esforço.
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7. Olhe para o bebê enquanto amamenta
Olhar o bebê é um método interessante para estimular a produção de leite. Quando a mãe vê o filho, o organismo libera a ocitocina na corrente sanguínea. O hormônio também é produzido naturalmente pelo corpo quando a lactante está relaxada e segura, e sua produção pode ser estimulada por meio do contato físico com o bebê.
8. Massagens e compressas mornas ajudam
Táticas como massagens e compressas de água morna podem ajudar a estimular a região das mamas e favorecer a vasodilatação e a atividade das glândulas mamárias, contribuindo para maior produção de leite. Outra vantagem é que a lactante sentirá menos incômodo pelos seios ingurgitados, além de evitar possíveis fissuras.
A massagem nas mamas é ainda mais necessária durante o período de apojadura (conhecida como descida do leite), especialmente entre nas primeiras 48 ou 72 horas após o nascimento do bebê, em que o fluxo de leite tende a ser pequeno. Isso ocorre em razão de a sucção do recém-nascido não ser tão efetiva ainda. Apesar de pouca, a quantidade já é o suficiente para satisfazê-lo.
E se a mãe não conseguir amamentar?
O leite materno é o alimento mais recomendado para o bebê, mas sua produção difere de uma mãe para a outra. Uma vez que cada corpo trabalha de forma diferente, a adoção de técnicas para estimular a lactação pode funcionar para algumas lactantes — mas não para todas.
Segundo Francine Branco, é importante que a mãe saiba que, se a produção de leite não for suficiente, há outras formas do bebê ser alimentado e crescer saudável, como os bancos de leite humano e complementação prescrita pelo pediatra.
Todavia, todo o processo deve ser feito sempre com orientação médica e acompanhamento. É comum que, por não conseguir amamentar, a mãe apresente sentimentos de culpa e quebra de expectativa. Ter uma rede de apoio é essencial para que ela entenda que o aleitamento artificial não faz com que haja menos dedicação e amor do que no ato de amamentar.