Nutricionista do Centro de Diabetes e Núcleo de Obesidade e Cirurgia Bariátrica do Hospital Sírio-Libanês;Educadora em D...
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O surgimento de uma série de novos produtos lácteos no mercado brasileiro vem chamando a atenção dos consumidores por conta de algumas características significativas, porém pouco compreendidas. Com embalagens e rótulos que muito se assemelham a velhos conhecidos do público, esses alimentos trazem fórmulas diferentes, feitas com ingredientes mais baratos e, em alguns casos, menos nutritivos.
É o caso do soro de leite, que agora pode ser encontrado na gôndola próxima ao leite integral ou desnatado. Além dele, há também o composto lácteo em pó, que aparece como uma opção ao leite em pó, e a mistura láctea condensada de leite, que passou a dividir a prateleira com o tradicional leite condensado. Mas por que isso está acontecendo?
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Em reportagem da BBC News Brasil, que também expôs essas novidades, a pesquisadora Kennya Beatriz Siqueira, da Embrapa Gado de Leite, em Juiz de Fora (MG), explicou que as movimentações recentes da indústria dos produtos lácteos têm a ver com a crise financeira, a inflação e a escassez de matéria-prima no Brasil, um cenário que aumentou consideravelmente o custo de produção do leite e de seus derivados.
Diante disso, a indústria passou a substituir uma parte do leite presente na composição de produtos lácteos por outros ingredientes. E a venda desses produtos foi regulamentada nos órgãos reguladores, como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
Porém, que novos componentes são esses e quais são os itens que estão aparecendo cada vez mais nas prateleiras dos supermercados? Eles são, de fato, saudáveis? Eles têm a mesma funcionalidade em receitas? Entenda a seguir.
Quais são os novos produtos lácteos?
Entre os ingredientes usados para substituir o leite em produtos lácteos, estão o soro de leite, o amido, a gordura vegetal e os aditivos químicos (como emulsificantes, adoçantes e aromatizantes). Agora, eles aparecem nos seguintes itens:
- Bebida láctea: alternativa ao leite ou ao iogurte;
- Mistura láctea condensada de leite: alternativa ao leite condensado;
- Mistura de creme de leite: alternativa ao creme de leite;
- Mistura alimentícia de queijo: alternativa ao queijo ralado;
- Pó para preparo de bebida sabor leite: alternativa ao leite em pó;
- Mistura láctea sabor requeijão: alternativa ao requeijão cremoso;
- Alimento à base de manteiga e creme vegetal: alternativa à manteiga;
- Doce de soro de leite: alternativa ao doce de leite.
Diante das novas opções, a nutricionista Marcela Taleb Haddad, do Centro de Diabetes e Núcleo de Obesidade e Cirurgia Bariátrica do Hospital Sírio-Libanês, explica qual é a diferença entre esses itens e os produtos lácteos tradicionais.
“Tratam-se de produtos que são constituídos por misturas de vários tipos de ingredientes. Por exemplo, o leite é o próprio leite, enquanto uma mistura láctea vai ter, também, soro de leite, açúcar, amido, gordura e, por isso, não pode ser chamado de leite”, esclarece a especialista.
O soro de leite é um composto que, antigamente, era descartado durante a fabricação de queijos. Agora, ele é associado ao Whey Protein (ou proteína do soro de leite), que é um produto mais puro, usado principalmente para a construção de massa muscular.
Essas novas formulações são saudáveis?
Por contarem com ingredientes mais baratos, o preço final dos novos produtos é mais acessível para o consumidor - logo, se tornam mais atrativos. Porém, será que esses alimentos são saudáveis? De acordo com Marcela Taleb Haddad, justamente por apresentarem menos quantidade de leite em suas composições, essas alternativas são menos nutritivas.
“Esses substitutos contam com soro de leite, amido e açúcar. Então, além de perderem nutrientes, proteínas e vitaminas, eles contam com aditivos que não são benéficos para a saúde”, afirma a nutricionista. “Claro, há uma pequena quantidade de leite, mas esses ingredientes adicionais não vão agregar nutricionalmente”, completa.
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De acordo com Marcela, a consequência desse menor aporte de nutrientes será percebida a longo prazo. “A redução do consumo de proteína pode levar à perda de massa muscular e prejudicar a imunidade. Ao não suprir a necessidade de cálcio, o risco de osteoporose ou osteopenia também é maior. Com a adição de açúcar e gordura, é possível o desenvolvimento de doenças crônicas, como obesidade e diabetes”, elenca Marcela.
É claro que esses efeitos serão sentidos quando o consumo desses produtos for contínuo e frequente por anos. Além disso, a alimentação como um todo também deve ser observada.
“A soma do consumo de produtos lácteos pobres em nutrientes com o consumo de outros produtos industrializados é o que vai levar a um prejuízo na saúde, não só o fato de substituir um leite por outro item”, reitera a especialista.
Como fazer boas escolhas para o bolso e para a saúde?
Diante da crise econômica, com o preço do leite inflacionado - de acordo com o Índice de Preços ao Consumidor (IPCA), o leite longa vida acumula uma alta de 57% no ano -, é compreensível que os consumidores busquem alternativas mais baratas no mercado, como esses novos produtos lácteos. Porém, como fazer uma escolha que seja boa tanto para o bolso, quanto para a saúde?
Para Marcela, a lista de ingredientes é o fator mais importante a ser considerado. “Quanto menor a quantidade de ingredientes, menos aditivos o produto tem”, afirma. “Por exemplo, iogurtes que possuem apenas leite e fermento na composição são mais naturais do que aqueles que possuem leite, amido, açúcar, corante e sabor artificial”, exemplifica a nutricionista.
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Além disso, a ordem em que os ingredientes aparecem na lista também influencia na qualidade do produto. “Eles são listados daqueles que estão presentes em maior quantidade para aqueles que estão em menor quantidade; então, se o primeiro ingrediente é açúcar, o que mais vai ter naquele item é, justamente, açúcar”, explica Marcela.
A profissional também alerta para o fato de que existem diferentes tipos de açúcar que podem ser adicionados em produtos, podendo confundir o consumidor. “Ele pode aparecer de forma disfarçada, como xarope, néctar, frutose, dextrose, que, na verdade, são todos açúcares”, afirma.
É possível substituir esses produtos?
Uma saída para quem quer (ou precisa) reduzir o consumo de produtos lácteos devido ao preço dos mesmos é escolher a melhor opção entre os novos produtos que surgiram no mercado. Outra alternativa é fazer substituições inteligentes na dieta, consumindo outros alimentos que sejam ricos nos mesmos nutrientes presentes no leite.
“Em relação à proteína, os ovos e as leguminosas são boas opções, além das proteínas de origem animal, como carne, frango e peixe”, elenca a nutricionista. Já em relação ao cálcio, a profissional cita o gergelim, a sardinha, as folhas verdes escuras e o tofu como boas fontes do nutriente.
Entretanto, ainda é necessário avaliar toda a alimentação. “Às vezes, vale a pena comprar um leite ou um iogurte de melhor qualidade e restringir outros tipos de alimentos para economizar. Por exemplo, algumas frutas são mais baratas do que produtos industrializados, como biscoitos, salgadinhos e refrigerantes, além de serem mais saudáveis”, finaliza.