Graduada em Medicina pela FMUSP, é doutora e livre docente em Pediatria Neonatal pela Escola Paulista de Medicina-UNIFES...
iAtualmente, não pairam mais dúvidas de que o consumo de álcool pelas gestantes é lesivo para o feto e traz inúmeras consequências deletérias para a vida futura do indivíduo. É a mais importante causa PREVENÍVEL de dano cognitivo conhecida no mundo!
E ainda pior é o fato de que não se identificaram níveis ou momentos de ingestão de álcool pela gestante que sejam seguros para o feto em desenvolvimento. Por outro lado, as ações do álcool ingerido por uma lactante sobre o bebê que ela amamenta ainda são motivo de muita pesquisa.
Os motivos para o consumo de bebidas alcóolicas durante a amamentação podem ser o mito de que o álcool estimula a produção de leite, falta de conhecimento sobre os efeitos maléficos da exposição do bebê ao álcool, para celebrar eventos ou até para melhorar o humor.
No entanto, os níveis de álcool no leite materno são muito semelhantes aos níveis sanguíneos da mãe, ocorrendo um pico depois de 30 a 60 minutos da ingestão da bebida alcoólica.
Possíveis malefícios do álcool na amamentação
Amamentar depois de ingerir um ou dois drinks pode diminuir de 20 a 23% a ingestão de leite pelo bebê, e ele pode apresentar agitação, bem como alterar seu padrão de sono. É importante lembrar que um drink equivale a uma lata de cerveja, uma taça de vinho ou um shot de destilado.
Sabe-se também que o álcool inibe o reflexo de ejeção do leite e provoca uma diminuição temporária na sua produção. E vale alertar que o recém-nascido metaboliza o álcool na metade da velocidade de um adulto, portanto, a substância fica presente em sua corrente sanguínea por mais tempo.
A ingestão pesada de álcool pela mãe que amamenta pode causar no bebê: sedação excessiva, retenção de líquidos e desequilíbrio hormonal. Ainda é descrito risco maior da performance escolar da criança ser afetada negativamente. Mas não foi encontrada associação com autismo ou desordem de atenção e hiperatividade (TDAH) entre as crianças cujas mães ingeriram bebidas alcoólicas durante a amamentação.
Há alguns estudos, contudo, que assinalam que a ingestão de um ou mais drinks por dia pela mãe que amamenta pode afetar negativamente o crescimento e as funções motoras de seu filho.
Em um estudo caso-controle, crianças cujas mães ingeriram bebidas alcoólicas no pós-parto mostraram ter significativamente notas de QI verbal mais baixo, menor peso e um maior número de anomalias em comparação a um grupo controle para exposição pré-natal ao álcool.
Se beber, o que fazer?
Algumas regras são disponibilizadas para tentar minimizar os efeitos do álcool para o bebê amamentado por mães que não conseguem evitar sua ingestão. Algumas orientações importantes são: que a mãe aguarde 2 a 2 horas e meia por drink antes de amamentar e que mantenha a ingestão de álcool casual, se for absolutamente imprescindível.
Concluindo, os efeitos a longo prazo da ingestão diária de álcool pela mãe sobre a criança ainda não são bem claros. Portanto, a recomendação é que a mãe que amamenta evite ao máximo sua ingestão, garantindo segurança e saúde para seus filhos.