Diretor da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Regional de São Paulo (SBEM-SP). Possui graduação e...
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A cada semana, surgem novas manias nas redes sociais que oferecem promessas milagrosas e são um tanto quanto perigosas para a saúde. Para se ter uma ideia, a mais recente delas tem causado a escassez de um medicamento importante para o tratamento de diabetes tipo 2 nos Estados Unidos: o Ozempic.
Isso está acontecendo devido ao intenso efeito emagrecedor do remédio, tanto é que a hashtag #Ozempic já alcança mais de 400 milhões de visualizações no TikTok. E no Brasil, a tendência parece estar se repetindo, conforme avalia Márcio Krakauer, diretor da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia - Regional São Paulo (SBEM-SP).
Mas será que o uso do medicamento para pessoas sem diabetes, visando o emagrecimento, é de fato eficaz e seguro? Quais são os riscos e os possíveis efeitos colaterais dessa prática? Entenda a seguir:
O que é Ozempic e como funciona?
O Ozempic é o nome comercial da semaglutida, uma molécula desenhada para o tratamento do diabetes tipo 2. Essa substância aumenta a produção de insulina pelo pâncreas, ajudando a manter a glicose no sangue em níveis adequados.
“Essa molécula ajuda na perda de peso por diminuir o apetite e reduzir o esvaziamento gástrico do estômago, fazendo com que a pessoa coma menos e que a glicose pós-refeição, que chamamos de pós-prandial, fique mais branda”, explica Márcio Krakauer.
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É por isso que o Ozempic despertou o interesse daqueles que buscam o emagrecimento. “A semaglutida tem uma ação nos neurônios do cérebro que inibe o apetite e, juntamente com isso, aumenta a saciedade, reduzindo a vontade de comer compulsivamente e de comer doces em geral”, completa o diretor da SBEM-SP.
É seguro usar Ozempic para emagrecer?
Apesar de ter esse efeito emagrecedor, o uso do Ozempic para o combate à obesidade não é suficientemente eficaz e não é indicado para esse uso. Isso porque a dosagem usada para o tratamento do diabetes é de apenas 1 miligrama (mg) por semana.
“Os estudos feitos com a semaglutida para o tratamento da obesidade em pessoas sem diabetes já foram concluídos, mas eles foram conduzidos na dose de 2,4 mg por semana. Por isso, ao utilizar o Ozempic que é indicado para diabetes, o medicamento não vai atingir a efetividade que nós queríamos para o tratamento de obesidade”, afirma o médico.
Por outro lado, o diretor da SBEM-SP ressalta que o uso da semaglutida para perder peso é seguro. “Não há indicação restrita médica, mas, de qualquer maneira, não há nada que possa fazer mal às pessoas sem diabetes na dose de 1 mg por semana. Se na dose de 2,4 mg por semana é seguro, em uma dosagem menor certamente também é”, diz.
Mesmo assim, alguns efeitos colaterais podem ser percebidos, como náuseas, azia, diarreia e constipação. “São efeitos adversos previstos e, com uma boa orientação médica, podem ser melhorados com facilidade”, avalia Márcio.
Medicamentos seguros para obesidade
Com o boca a boca, propagandas de influenciadores e vídeos viralizando nas redes sociais, o uso do Ozempic para emagrecimento pode causar o desabastecimento do medicamento nas farmácias devido à alta procura - como tem ocorrido nos Estados Unidos. Porém, já existem medicamentos com semaglutida e outras moléculas parecidas que são aprovados e seguros para tratar a obesidade.
Um deles é o Wegovy, também composto por semaglutida e aprovado pela Food and Drugs Administration (FDA), agência reguladora estadunidense. No Brasil, esse medicamento não está disponível, porém, há outras opções com funcionamento parecido por aqui.
É o caso da Saxenda, composto por liraglutida, a mesma molécula que compõe o medicamento Victoza, uma das opções para o tratamento da diabetes tipo 2. “O Saxenda é uma caneta com dosagem de até 3 mg por semana, específico para o tratamento da obesidade. Já o Victoza tem dosagem de 1,8 mg e é indicado para tratamento da diabetes”, esclarece Márcio Krakauer.
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Existe o risco de voltar a ganhar peso se parar de tomar o medicamento?
Com um efeito tão forte para o emagrecimento, uma dúvida fica: será que, ao interromper o uso dos medicamentos com semaglutida e liraglutida, existe o risco de voltar a ganhar peso? De acordo com o diretor da SBEM-SP, isso pode acontecer, mas apenas se não houver outras formas de tratamento contra a obesidade associadas ao uso do remédio.
“O medicamento é uma das ferramentas para o processo de perda de peso e não é o único tratamento da obesidade. A atividade física, a dieta, o sono de qualidade, a hidratação, os cuidados com a saúde mental, tudo isso deve ser visto em comum acordo. O risco da pessoa ganhar peso tem a ver com a própria doença e com a pessoa deixar de se tratar, com remédio ou sem remédio”, completa Márcio.
Outras alternativas para diabetes tipo 2
Na falta do Ozempic, é importante que as pessoas saibam que existem várias opções que podem substituir o medicamento no tratamento do diabetes tipo 2 - desde que sejam indicadas e prescritas pelo médico. As principais são:
- Diamicron MR;
- Glibenclamida;
- Gliclazida;
- Glifage;
- Glifage XR;
- Glimepirida;
- Galvus;
- Galvus Met;
- Metformina;
- Victoza.
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