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A infecção urinária é uma condição séria que atinge a população de modo geral. Mas, de acordo com a Sociedade Brasileira de Nefrologia, ela costuma ser mais frequente em mulheres e idosos. Por ser um quadro normalmente causado por bactérias, é bastante comum que ele seja tratado com antibióticos.
Contudo, o uso inadequado desse tipo de medicamento – que envolve ações como não tomá-lo no intervalo de tempo indicado ou parar o tratamento antes do período prescrito - pode trazer diversos riscos à saúde, como a resistência bacteriana.
E para orientar sobre os cuidados necessários com o antibiótico e como ele age no organismo na hora de tratar infecções, o MinhaVida bateu um papo com a geriatra Maisa Kairalla¹ e a ginecologista Patricia de Rossi². A seguir, confira as principais perguntas e respostas da transmissão realizada em parceria com Zambon:
1. Os antibióticos são indicados para infecção urinária?
Patricia de Rossi: A indicação do antibiótico na infecção urinária está baseada na origem da própria infecção, que, quando falamos de infecções urinárias, são praticamente as bactérias. E os antibióticos são usados para eliminar essas bactérias.
Maisa Kairalla: Também existe infecção urinária por fungo. Mas é importante estar sempre pautado pelo exame e pelo quadro clínico. Então, não é correto você tomar antibiótico só porque é uma infecção bacteriana, só porque há presença de um germe.
Patricia de Rossi: Isso é um detalhe muito importante, Dra. Maísa. Porque, às vezes, nós temos presença de bactérias na urina em exames variados, exames simples ou cultura de urina, mas que não estão causando sintomas. Exceto em gestantes - nas quais nós precisamos sempre erradicar as bactérias -, apesar da angústia das pessoas de verem as bactérias na urina, elas podem estar em equilíbrio com o organismo, sem causar nenhum dano à saúde.
2. Por isso que o antibiótico não é vendido sem prescrição médica?
Maisa Kairalla: Exatamente. Afinal, o uso abusivo do antibiótico aumenta consideravelmente o risco de resistência a bactérias. E é o que está acontecendo hoje. Como geriatra, observo um grande número de idosos que precisam ser internados para receber antibiótico na veia, porque não é mais possível fazer essa administração por via oral, já que estão muito resistentes. Isso é uma grande preocupação.
Inclusive, por causa da COVID-19, mesmo sendo virose, foram administrados muitos antibióticos, o que causou uma reação de maior resistência para esses idosos na hora de tratar outras infecções, como a urinária. Então, é isso mesmo: prescrição do antibiótico deve ser feita por médico, obedecendo a dosagem e horário indicados.
3. Como que o organismo cria essa resistência bacteriana? É de tanto consumir antibióticos?
Maisa Kairalla: É exatamente isso. É como se você estivesse sem bactérias sensíveis, e aí toma antibiótico, muitas vezes, com a posologia inadequada. Por exemplo: a gente prescreve de 8 em 8 horas, de 12 em 12 horas, mas a pessoa pula algumas vezes, toma durante um período menor do que o indicado… E isso vai selecionando os germes mais resistentes. Afinal, a bactéria, o vírus e o fungo querem sobreviver.
Fazendo um paralelo, vimos isso agora com as cepas da COVID-19. O vírus começa a sofrer mutações para que possa sobreviver. E acontece a mesma coisa com as bactérias. Então, a indicação correta do antibiótico pelo antibiograma, o tempo necessário de tratamento e a posologia são extremamente necessários para evitar esse tipo de resistência bacteriana - que nada mais é do que a sobrevivência de alguns germes àquele antibiótico.
4. O que leva uma pessoa a interromper ou falhar na tomada do antibiótico?
Patricia de Rossi: As doses iniciais já conseguem eliminar grande parte das bactérias. Só que foram feitos estudos científicos mostrando qual o tempo mínimo necessário para que o medicamento funcione, podendo ser dose única, cinco dias, sete dias ou até mais tempo, dependendo do caso e da gravidade da infecção.
Então, quando você para de tomar antes do tempo, significa que provavelmente não eliminou todos os germes, e aquele foi o que ficou “fortezinho” lá no canto e sobreviveu ao antibiótico, já vai saber os truques para resistir ao medicamento quando você tomá-lo novamente.
5. É mais comum idosos terem resistência bacteriana?
Maisa Kairalla: Sim. É justamente por terem usado antibióticos durante a vida toda e por precisarem usar muito antibiótico na terceira idade. Afinal, as infecções urinárias são bastante comuns em idosos, prevalência de cerca de 20% entre a população de 80 anos ou mais. Aliás, a infecção de urina é uma grande causa de hospitalização, de piora da qualidade de vida e, como estamos falando até o momento, de resistência a antibióticos.
6. O que fazer para evitar a infecção urinária nesse grupo de risco?
Maisa Kairalla: A hidratação é o principal meio, considerando que os idosos são atípicos nesse sentido, já que não sentem sede e perdem muita água através da pele. A desidratação aumenta o risco de infecção de urina em idosos, além do uso prolongado da mesma fralda, principalmente à noite, e a imunossenescência, que, além do envelhecimento do sistema imunológico, inclui o diabetes e o uso de corticoides.
Referências
1 - Dra. Maisa Kairalla, geriatra pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG). Membro da câmara técnica de Geriatria do CREMESP desde 2018. Mestrado pela Universidade Federal de São Paulo (2012). Coordenadora do Ambulatório de Transição de Cuidados da Unifesp - Disciplina de Geriatria e Gerontologia, e presidente da comissão de Imunização da SBGG. Colunista da revista Abril Saúde e editora clínica da revista Aptare.
2 - Dra. Patricia de Rossi, mestre em medicina (ginecologia e obstetrícia) pela Faculdade de Medicina da USP. Preceptora da Residência de Ginecologia e Obstetrícia do Conjunto Hospitalar do Mandaqui. Professora de Medicina da Universidade Santo Amaro (UNISA).