Neurologista com especialização em Neuro-Oncologia do Hospital Albert Sabin
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A dor de cabeça é um dos principais sinais associados à infecção por SARS-CoV-2, responsável pela COVID-19, e costuma surgir na fase pré-sintomática e sintomática — podendo assemelhar-se à cefaleia tensional ou à enxaqueca. A intensidade da dor varia de mediana a grave e pode acometer ambos os lados da cabeça.
“Os mecanismos pelos quais se desenvolvem as dores de cabeça nas infecções gerais são bem conhecidos, como a própria infecção no sistema nervoso central por vírus. O SARS-CoV-2 tem esse componente como um possível desencadeante da dor de cabeça, que é frequente na fase aguda”, explica Leonardo de Sousa Bernardes, neurologista com especialização em neuro-oncologia do Hospital Albert Sabin.
Segundo uma pesquisa recente, aproximadamente metade de todas as pessoas com infecção aguda por COVID-19 desenvolveu cefaleia — sendo esse o primeiro sintoma manifestado em cerca de um quarto dos pacientes. É comum que dor de cabeça venha associada a outros sintomas iniciais, como dor de garganta e coriza.
Apesar de classificada como uma doença respiratória, uma em cada cinco pessoas com COVID-19 moderada a grave destacaram os sintomas neurológicos como os mais incômodos, como dor de cabeça, confusão mental e perda de paladar e olfato.
O que causa dor de cabeça na COVID-19?
Embora ainda seja necessário entender os mecanismos fisiopatológicos específicos relacionados à dor de cabeça na COVID-19, Leonardo e alguns estudos identificaram:
- Lesão viral direta;
- Desidratação;
- Coagulopatia (problemas de coagulação do sangue);
- Processo inflamatório;
- Hipoxemia (menos oxigênio no sangue);
- Problemas com as células endoteliais que formam a camada interna dos vasos sanguíneos.
Apesar das recentes pesquisas, tais mecanismos não justificam todos os tipos de dor de cabeça. “A cefaleia é um sintoma clinicamente significativo da COVID-19. Embora suas características na fase aguda da doença já sejam bem conhecidas, há necessidade de estudos sobre seu manejo e persistência”, concluiu a pesquisa de Sampaio Rocha-Filho PA.
Como a dor de cabeça na COVID-19 se manifesta?
As dores de cabeça associadas à COVID-19 podem se manifestar de diferentes formas, considerando fatores como histórico de cefaleia e intensidade do quadro de infecção. No geral, as características do sintoma se enquadram em três categorias principais, cada uma correspondendo a tipos de diagnósticos já existentes, sendo elas:
- Enxaqueca: é descrita como uma dor latejante e incapacitante em uma lado da cabeça, que pode vir acompanhada de sintomas como náusea, vômito e sensibilidade à luz;
- Dor de cabeça tensional: conhecida como cefaleia de tensão, é o tipo mais comum de cefaleia primária e provoca uma dor entre leve e moderada, que afeta os dois lados da cabeça. É descrita como a sensação de uma faixa apertada em torno da cabeça;
- Dor de cabeça constante: algumas dores de cabeça, em especial a do tipo tensional, podem apresentar uma característica que justifica a terceira categoria: elas podem durar dias, semanas ou até meses. Segundo um estudo realizado com mais de 900 pacientes com COVID-19, a cefaleia durou em média 14 dias, enquanto alguns pacientes tiveram o sintoma três meses depois da infecção.
Dor de cabeça é sintoma de COVID longa?
Ainda que as dores de cabeça associadas à COVID-19 se resolvam para a maioria dos pacientes, o término da fase aguda da infecção não significa, necessariamente, o fim dos seus sintomas.
A condição, chamada de COVID longa (ou síndrome pós-COVID) conforme definição do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, é caracterizada pelo alívio e pelo retorno dos sintomas da doença ao longo de quatro ou mais semanas — mesmo após a eliminação do vírus.
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), de 10% a 20% das pessoas que tiveram COVID-19 apresentarão sintomas que não vão desaparecer por semanas ou até meses, sendo a dor de cabeça um dos principais associados à condição. A persistência do problema pode afetar diretamente a qualidade de vida.
Pessoas com histórico de dor de cabeça frequente ou enxaqueca apresentam maior possibilidade de apresentar o sintoma pós-COVID. Aqueles que apresentaram-na como primeiro sintoma ou cuja dor durou mais que o restante dos sinais de COVID-19 também têm mais chances de manifestá-la após o fim da infecção.
Como lidar com a dor de cabeça na COVID-19
É importante destacar que, isoladamente, a dor de cabeça não serve para diagnosticar uma infecção por COVID-19. O sintoma é uma das queixas mais comuns nos consultórios médicos e, segundo a Sociedade Brasileira de Cefaleia, estima-se que 95% da população apresenta algum tipo de cefaleia ao longo da vida.
Na maioria dos casos, diferentemente de quadros crônicos, a dor de cabeça vai embora com a resolução da infecção. Se ela persistir mesmo após o teste negativo, é importante que haja avaliação médica para avaliar os meios de tratar o problema — em especial porque, dependendo da intensidade, ela pode impedir a realização de atividades cotidianas.
Aqueles com dores de cabeça pós-COVID tendem a responder bem à administração de medicamentos, como amitriptilina e nortriptilina, indicados para tratar enxaquecas, especialmente quem tem resistência aos analgésicos comuns, como paracetamol e ibuprofeno. O paciente também pode recorrer a métodos caseiros para aliviar dores leves a medianas, como compressas, chás e acupuntura.
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Em todos os casos, é imprescindível que a pessoa adote hábitos mais saudáveis de vida, como a prática de exercícios físicos, uma alimentação equilibrada e um sono de qualidade, além de gerenciar o estresse. Isso ajuda a controlar as dores de forma geral.