Graduação em Medicina pela Universidade de Taubaté (1984). Mestrado em Medicina (Pediatria) pela Universidade de São Pau...
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O aleitamento materno é um momento único entre mãe e bebê e, além de ser fundamental para seu desenvolvimento, também contribui para o fortalecer o vínculo afetivo. O período pode ser ainda mais singular para as mães que possuem mais de uma criança pequena — porque existe a possibilidade de amamentar dois filhos ao mesmo tempo, com idades diferentes.
A prática, chamada de amamentação em tandem, pode ocorrer quando a lactante engravida novamente, alimenta o filho mais velho durante a gestação (que é chamado de lactogestação) e, após o parto, continua amamentando os dois filhos simultaneamente.
Segundo Clery Bernardi Gallacci, pediatra e neonatologista do Hospital e Maternidade Santa Joana, tanto a amamentação tandem quanto a lactogestação são práticas possíveis, mas ambas devem ser supervisionadas e avaliadas individualmente pelo obstetra e pelo pediatra que acompanham as mães e as crianças.
É importante destacar que o ato de amamentar duas crianças ao mesmo tempo pode ser desafiador e nem todas as mães podem se sentir preparadas para isso — e a decisão dela deve ser respeitada. É fundamental que os profissionais da saúde materno-infantil ajudem as mães durante o processo, propiciando segurança para que elas consigam atingir suas metas.
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A amamentação em tandem é segura?
Estudos não demonstraram aumento de riscos na lactogestação ou na amamentação em tandem, sendo práticas seguras para a mãe e para as crianças. Ainda assim, o profissional de saúde responsável pelo acompanhamento da gestação e aleitamento deve ser informado da decisão da mãe, para ajudá-la com qualquer dúvida que possa surgir.
Conforme ressalta Clery, o recém-nascido deve ser priorizado no processo de amamentação dupla, uma vez que ele não pode ser alimentado com outras fontes nutricionais, ao contrário do filho mais velho. A especialista ainda destaca que, assim que ele nasce, o leite materno se modifica para atender às necessidades nutricionais e imunológicas dos primeiros dias de vida do recém-nascido.
“Inicialmente o leite terá a composição do colostro após o parto – composição rica em anticorpos e proteínas, o que é adequado para as necessidades do recém-nascido. Atualmente, já é conhecido que a composição do leite humano sofre mudanças no decorrer do dia com várias substâncias diferentes adequadas para o lactente e, ao longo dos meses, sofre mudanças em teor de gordura, proteína, entre outros macro e microcomponentes”, acrescenta Clery.
Em razão da mudança na composição do leite, que altera a textura e o sabor, é comum que a criança mais velha rejeite-o nos primeiros dias após o parto — mas volte a solicitar o peito de novo após isso.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que o leite materno deve ser o alimento exclusivo do bebê até o sexto mês de vida e, após esse período, a amamentação deve prosseguir junto com a complementação alimentar de outras fontes de alimentos indicados para cada fase de vida da criança.
Quais os benefícios de amamentar dois filhos ao mesmo tempo?
Um cenário possível na amamentação tandem é que a criança que está sendo alimentada quando a mãe engravida de novo pode ser muito nova e não está pronta para o desmame, assim como a própria lactante. Manter a amamentação durante a gestação (se não houver contraindicação) e após o parto permite que o filho mais velho continue recebendo os benefícios do leite materno.
Além disso, a chegada do recém-nascido pode fazer a criança se sentir um pouco “deixada de lado”, especialmente se ela não estiver sendo alimentada. Desse modo, a amamentação tandem contribui para uma adaptação mais rápida dele à chegada do bebê, conforme explica Clery. A mãe, por sua vez, diminuirá a sensação de culpa do desmame do filho mais velho.
Por fim, de acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria, a amamentação em tandem pode aliviar o ingurgitamento mamário, comum nos primeiros dias após o parto. Em função do aumento da demanda, a produção de leite materno será maior, o que pode ser útil em situações em que o recém-nascido apresenta alguma dificuldade para mamar.
Mitos sobre a amamentação tandem e a lactogestação
Durante a amamentação dupla, a mãe precisará lidar com palpites e críticas, além de informações inadequadas sobre os riscos da prática. Uma delas é que o recém-nascido não terá leite suficiente quando o irmão também estiver mamando. Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria, isso não está correto e a mãe é capaz de fornecer alimento suficiente para sustentar ambas as crianças.
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Todavia, destaca-se que o pediatra deve ser comunicado sobre a amamentação em tandem e acompanhar o desenvolvimento do recém-nascido para saber se ele está ganhando peso e altura adequadamente. A criança mais velha também deve ser regularmente acompanhada, em especial devido à complementação alimentar.
Outra informação inadequada é que, por muito tempo, a amamentação foi encarada como um risco para o andamento da gravidez, devido à produção de ocitocina, hormônio associado à produção de leite e às contrações uterinas durante o parto — o que poderia aumentar o risco de aborto, por exemplo. Porém, não existem evidências científicas que indiquem o maior risco de abortamento ou prematuridade entre mulheres saudáveis e com gestações de baixo risco.
Como introduzir a amamentação tandem?
O aleitamento materno deve começar logo na sala de parto. Imediatamente após o nascimento, o ideal é que o bebê seja colocado pele a pele com a mãe, onde ele buscará pelo seio para iniciar a sucção. Já a amamentação em tandem pode ser iniciada quando ela e a criança mais velha desejarem. Ambos os filhos podem ser amamentados ao mesmo tempo ou um de cada vez — priorizando sempre o recém-nascido.
A rotina da mãe também deve permitir que a prática aconteça e, por isso, é indispensável que ela tenha uma rede de apoio ampla para conciliar o aleitamento duplo com as atividades diárias, seja de famílias até profissionais da saúde. Se a mãe estiver confortável, segura e apoiada, o processo se tornará mais fácil.
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