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No dia 13 de janeiro, uma garota de 12 anos morreu asfixiada, na Argentina, após tentar vencer o “desafio do apagão”, que estava em alta em uma rede social. Nessa “trend”, os usuários são desafiados a pararem de respirar com a ajuda de objetos até quase desmaiarem. Os pais da criança divulgaram o ocorrido como uma forma de alertar outros pais para os perigos de desafios da internet.
Não é a primeira vez que algo parecido acontece. Segundo a revista Bloomberg Businessweek, 19 crianças e adolescentes de 14 anos anos ou menos já morreram ao tentarem o desafio. No Brasil, um garoto de 13 anos faleceu em 2016 tentando o mesmo “jogo”.
No ano passado, uma outra trend perigosa chamou a atenção dos pais. Um garoto de 10 anos morreu ao tentar inalar desodorante como parte de outro desafio. Nos anos anteriores, desafios como o Baleia Azul e o Momo também ganharam espaço nas redes, fazendo jovens tirarem a própria vida. À época, especialistas alertavam dos perigos de deixarem os filhos sem monitoramento nas redes sociais.
Por que os jogos perigosos atraem tanto crianças e adolescentes?
Para Talitha Nobre, psicóloga do Grupo Prontobaby, esses jogos e desafios chamam a atenção das crianças e adolescentes por uma necessidade de autoafirmação. “Muitas vezes, existe a vontade de mostrar que eles são capazes de fazer algo, que são corajosos. Há um certo sentimento de imortalidade e é uma fase em que eles estão explorando o mundo, o corpo e se colocando à prova como um caminho de encontrarem a própria independência”, explica.
Os casos fatais chamaram tanta atenção que, em 2019, a Organização Mundial da Saúde (OMS) passou a considerar a vontade de encarar “jogos perigosos” como um distúrbio comportamental. A condição foi, inclusive, listada na Classificação Internacional de Doenças (CID). “Esses jogos, de certa forma, desafiam os adolescentes, que veem neles uma forma de conquistarem um lugar de visibilidade dentro do seu grupo”, completa.
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De acordo com a OMS, os “jogos perigosos” são definidos como “um padrão de jogatina, on-line ou off-line que aumenta sensivelmente o risco de consequências prejudiciais à saúde mental ou física”. Porém, em um mundo tão conectado, em que as novas gerações já nascem sabendo usar um smartphone e tablet, como proteger as crianças dos perigos dos desafios, jogos e trends perigosas? Vamos falar mais sobre isso a seguir.
1. Comece conversando com seu filho sobre o perigo desses desafios
Uma forma de começar a proteger seu filho de um desafio ou jogo que pode ser fatal é, justamente, conscientizá-lo desse perigo. “Às vezes, temos medo ou até dificuldade em abordar certos assuntos com os filhos, porque supomos que será difícil para eles. Ora, para quem será difícil?”, questiona Talitha.
A psicóloga infantil reforça que a comunicação sincera com os pequenos e adolescentes da casa deve ser sempre o melhor caminho. “É preciso conversar com a criança ou o adolescente em uma linguagem acessível a eles, mas sempre com conteúdo verídico. É importante alertar para os perigos existentes e mostrar exemplos reais”, exemplifica.
No entanto, é fundamental deixar de lado tons ameaçadores ou a ideia de “castigo”. “Isso pode aguçar ainda mais a curiosidade. Então, é necessário investimento, tempo, conversas, trocas, empatia e calma”, afirma Talitha.
2. Permita, desde cedo, que a criança possa dizer “não”
“É importante desde cedo permitir que a criança possa compreender que ela pode e deve dizer não para determinadas situações incômodas”, aconselha Talitha. Com acompanhamento, empatia e orientação, é possível dar um pouco mais de liberdade para que a criança e o adolescente saibam fazer boas escolhas. E isso inclui a internet.
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“As crianças, inicialmente, não sabem lidar com a liberdade que lhes é dada e é necessário que os pais acolham e mantenham um diálogo efetivo alertando aos perigos que contêm a internet”, diz a psicóloga. Para manter esse acompanhamento, invista em educação digital e no controle dos conteúdos acessados pelos pequenos. Esse é o nosso próximo tópico.
3. Monitore os conteúdos acessados nas redes sociais
Essa é uma velha e boa dica sobre segurança digital. “Monitorar os conteúdos acessados até uma determinada idade é fundamental. A criança ainda não tem condições psíquicas de lidar com o mundo virtual de forma irrestrita”, afirma Talitha. Veja bem, se até um adulto bem informado pode cair em golpes na internet, quem dirá as crianças, não é mesmo?
Para isso, vale a pena apostar em aplicativos de controle parental, em que é possível restringir acessos e controlar os conteúdos exibidos e acessados pelos filhos. Mas isso não deve ser feito de forma escondida. “É importante que a criança saiba que é monitorada pelos pais e o motivo pelo qual esse monitoramento existe. Você não permite que seu filho saia sozinho à rua e, como um detetive, o segue para ver por onde ele anda. Então, por que fazer isso pela internet?”, questiona.
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Em relação aos adolescentes, esse acordo deve ser estabelecido com maior maturidade e o diálogo, nesse caso, é fundamental. “O adolescente não pode se sentir vigiado e invadido pelos pais. Se há monitoramento dos acessos, ele precisa saber e compreender o porquê. Da mesma forma que os pais conversam sobre os riscos que existem ao sair à rua, também é necessário falar sobre os riscos da internet”, completa.
A psicóloga dá alguns exemplos de acordos que podem ser feitos com os adolescentes, como: usar o computador em um local visível, como sala de estar ou escritório com acesso dos pais, manter os celulares sem senha, estabelecer um limite de tempo de uso e manter, especialmente, o diálogo aberto e franco.
4. Fique atento a comportamentos suspeitos
Por fim, é importante ficar atento a comportamentos suspeitos e fora do comum. Um exemplo é o constante isolamento do mundo real e a preferência pelo mundo virtual, como deixar de ir a uma festa ou sair para ficar na internet. Outros exemplos possíveis são mudanças no comportamento, como irritabilidade e depressão, e a criação de perfis falsos nas redes sociais. “É importante ficar atento a qualquer mudança no comportamento e procurar ajuda de um profissional, caso haja necessidade”.
Como as redes sociais podem ser aliadas da proteção digital?
Além dos aplicativos existentes para monitoramento do uso de smartphones e outros dispositivos móveis, as próprias redes sociais - onde estão a maioria dos desafios e jogos perigosos - podem ser aliadas da segurança digital. Após a repercussão de casos fatais do Desafio Momo, Baleia Azul, Desafio do Desodorante e Desafio do Apagão, as empresas reforçaram as ferramentas de proteção para crianças. Separamos algumas delas a seguir:
TikTok
O TikTok conta com mais de um bilhão de usuários e, por isso, se compromete com a segurança digital de menores. Veja, a seguir, algumas políticas e ferramentas utilizadas:
- Classificação indicativa para 12+ na App Store, o que permite aos pais a bloquearem o download do aplicativo através do controle em seus dispositivos;
- Remoção de contar suspeitas de serem menores de 13 anos;
- Bloqueio de acesso a conteúdos restritos, lives e mensagens diretas para adolescentes de 13 a 17 anos;
- Sincronização familiar: ferramenta que permite aos pais vincular sua conta TikTok à do filho adolescente para permitir uma variedade de configurações de conteúdo e privacidade.
YouTube
O YouTube conta com uma série de políticas e ferramentas para manter as crianças protegidas durante o uso da rede social. Confira:
- YouTube Kids: app independente que oferece uma experiência personalizada, mais segura e simples para as crianças, com conteúdos especializados para o público infantil;
- Princípios de qualidade para conteúdo infantil e familiar: a rede social conta com uma série de princípios que classificam conteúdos como de “alta qualidade” ou “baixa qualidade”, podendo influenciar, diretamente, no desempenho que aquele conteúdo terá na rede social. Conteúdos de baixa qualidade produzidos por canais infantis são suspensos do Programa de Parcerias do YouTube (podendo receber pouco ou nenhum anúncio);
- Proibição de conteúdos que coloque em risco o bem-estar emocional ou físico de menores: conteúdos sexuais, atos nocivos ou perigosos envolvendo menores, imposição de sofrimento emocional, conteúdo familiar enganoso, bullying e assédio virtual, entre outros.
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Confira as políticas e ferramentas de segurança disponível para adolescentes no Twitter:
- Classificação etária para maiores de 13 anos para usar a plataforma e de 17+ para baixar o aplicativo na App Store e Play Store;
- Controle para bloquear, denunciar e silenciar usuários que publicam conteúdo impróprio ou que estejam sendo invasivos com os adolescentes;
- Limitação de quem pode ler os tweets, de quem pode contatá-los e de quem pode marcá-los em fotos e publicações.
Veja as regras de uso, políticas de segurança e ferramentas que os pais podem utilizar para a proteção das crianças e adolescentes a seguir:
- Classificação etária mínima para utilizar o app é de 13 anos;
- Possibilidade de criar um perfil privado, em que o filho pode aprovar apenas quem ele conhece para ver suas postagens;
- Segmentação de publicidade: limitação de publicidade a crianças menores de 18 anos com base na idade, sexo e localização;
- Proibição do envio de mensagens diretas para menores de 18 anos: adultos não podem enviar mensagens para usuários que são menores de idade;
- Palavras ocultas: o usuário pode escolher quais palavras e assuntos não devem ser exibidos, incluindo palavras ofensivas e inadequadas;
- Possibilidade de remover seguidores com comportamento suspeito ou inadequado.