Graduado em Medicina pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) em Botucatu no ano de 2004, fez residência médica de Cl...
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Um novo medicamento injetável, a retatrutida, indicou resultados promissores em um estudo apresentado no congresso da Associação Americana de Diabetes, no final de junho. Segundo o estudo, publicado no The New England Journal of Medicine, o medicamento levou a uma perda máxima de peso de 24,2%.
O medicamento, da farmacêutica Eli Lilly, foi testado em 338 indivíduos com sobrepeso ou obesidade por um período de 48 semanas. De forma aleatória, eles foram divididos para receber diferentes doses do medicamento, que variaram de 1mg a 12mg ou placebo. Após o período de estudo, a retatrutida resultou em redução de:
- 2,1% do peso no grupo placebo
- 8,7% do peso no grupo que tomou 1mg
- 17,1% no grupo que tomou 4mg (iniciando com dose de 2mg ou 4mg)
- 22,8% do peso em pessoas que tomaram 8mg (começando com dose de 2mg ou 4mg)
- 24,2% no grupo que tomou 12mg
Os resultados do estudo, que é de fase 2 (testa eficácia, dosagem e segurança), mostram que o medicamento tem o potencial para ser uma alternativa ainda mais eficaz para a perda de peso em relação aos medicamentos já aprovados, como o Ozempic, feito à base de semaglutida, e a liraglutida.
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O que é a retatrutida e como ela funciona?
A retatrutida é uma substância que possui três mecanismos de ação: análogo de GLP-1, análogo de GIP e análogo de glucagon. Isso significa que o medicamento atua em três frentes diferentes para a redução do peso e da glicemia:
- Aumento da saciedade e uso de reservas de gordura corporal como forma de energia (promovido pelo glucagon)
- Retardamento do esvaziamento gástrico e produção de insulina quando a glicemia está elevada (promovido pelo GLP-1)
- Redução do apetite e estímulo da secreção de insulina (promovido pelo GIP)
Além disso, de acordo com o estudo, essa substância também pode reduzir a esteatose hepática, conhecida popularmente como “gordura no fígado”. “Grande parte dessa redução pode estar relacionada à perda de peso, mas ainda não sabemos se há efeitos diretos, tanto em relação ao GLP-1, ao GIP ou ao glucagon, que possam contribuir para a redução da gordura no fígado”, explica André Camara de Oliveira, endocrinologista e Diretor da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Regional São Paulo (SBEM-SP).
No entanto, o especialista enfatiza que a retatrutida ainda é “uma medicação experimental” e necessita de mais estudos para comprovar sua eficácia e segurança para, então, ser liberada como medicamento para obesidade e diabetes tipo 2. As pesquisas de fase 3 já estão em andamento, em que uma quantidade maior de participantes será testada.
Medicamento aprovado nos EUA também tem potencial para tratamento de diabetes e obesidade
Outro medicamento que apresentou resultados interessantes para perda de peso foi a tirzepatida. Um estudo publicado no jornal The Lancet, também em junho, mostrou que a substância pode ser eficaz para o tratamento de diabetes tipo 2 e obesidade.
O trabalho foi feito em 72 semanas com 1.514 adultos obesos e com diabetes. De maneira aleatória, eles foram designados a receber doses de 10mg e 15mg de tirzepatida ou placebo. Os resultados mostraram que o primeiro grupo teve uma redução de peso corporal de 12,8%, enquanto o segundo grupo teve 14,7% de redução. Já o grupo placebo perdeu apenas 3,2% do peso corporal.
“A tirzepatida é uma molécula que tem função de análogo ao GLP-1 e análogo ao GIP. Com isso, ela promove aumento da saciedade, redução da fome, retardamento do esvaziamento gástrico e produção de insulina quando a glicemia está elevada”, explica André. “É um mecanismo de ação semelhante ao da semaglutida e ao da liraglutida”, complementa.
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O diferencial da tirzepatida em relação às substâncias que compõem medicamentos como o Ozempic é também ser análoga de GIP. “Isso faz com que ela diminua o apetite, estimule a secreção de insulina de glucagon pelo pâncreas quando necessário e faça o tamponamento lipídico, fazendo um depósito de gordura subcutânea em vez de visceral”, explica o endocrinologista.
“Essa substância acaba sendo bastante útil, tanto para perda de peso quanto no controle de hemoglobina glicada”, completa o especialista. O tirzepan já é aprovado para uso nos Estados Unidos, mas no Brasil ainda não há liberação.
Somente o medicamento não é o suficiente para tratar obesidade e diabetes
Apesar de as evidências recentes mostrarem que estão surgindo novas opções terapêuticas para o tratamento de obesidade e diabetes, é preciso considerar que são medicamentos que não estão disponíveis no Brasil. Além disso, as opções que são liberadas por aqui - semaglutida e liraglutida - possuem custo alto e podem ser pouco acessíveis (os preços podem chegar a R$ 1.000).
“Quem sabe, em breve, teremos a tirzepatida também. Vamos torcer para que os novos estudos sobre a retatrutida mostrem esses mesmos resultados promissores e que seja, em breve, uma nova opção de tratamento para obesidade”, afirma André.
Por outro lado, o médico ressalta que o uso dos medicamentos para emagrecer e para diabetes tipo 2 deve ser feito sempre com acompanhamento médico. “Infelizmente, há um excesso de uso por pessoas que não têm critérios para tomar essas medicações e elas são apenas a cereja do bolo. É preciso ter uma mudança de hábito, reeducação alimentar e prática de atividade física para obter resultados efetivos”, finaliza.