Possui graduação em Medicina pela Universidade Federal de Uberlândia (1984). É especialista em Clínica Médica, Infectolo...
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A gripe espanhola foi um surto de infecção respiratória grave causada pelo vírus influenza A, na sua variante H1N1. Com alto poder de transmissão, transformou-se em pandemia em 1918, com altíssima mortalidade - as estimativas globais variam entre 40 milhões e 100 milhões de mortes naquele ano.
A doença provocava sintomas comuns de gripe, como febre, tosse, falta de ar e mal-estar. Porém, na segunda onda de infecções, os sintomas passaram a ser mais intensos, aumentando o risco de fatalidade. Além disso, o vírus da gripe espanhola era altamente transmissível, fazendo com que a doença se espalhasse de forma rápida e ampla.
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“O vírus da influenza é dividido em subtipos, que são classificados de acordo com as características sorológicas das proteínas da superfície viral: a hemaglutinina (H), que permite a ligação do vírus na célula do hospedeiro, e a neuraminidase (N), que permite a ligação dos vírus recém-formados em células hospedeiras ainda não infectadas”, explica Rubens Pereira, infectologista e professor do curso de medicina da Universidade de Franca (Unifran).
Em 2009, o influenza H1N1 voltou, em um surto que ficou conhecido como “gripe suína”. Porém, em função da imunidade prévia, a gravidade e a mortalidade foram bem menores em comparação à pandemia de 1918. “Atualmente, a variante do influenza que prevalece é a H3N2, mas é menos grave”, completa o professor.
Onde surgiu a gripe espanhola?
Apesar do nome, a gripe espanhola não surgiu na Espanha. Historiadores e especialistas da área de saúde ainda não sabem o local exato onde o vírus surgiu. As principais teorias sobre a origem da doença envolvem Estados Unidos, China e Reino Unido.
A pandemia ganhou esse nome pois os veículos jornalísticos espanhóis foram um dos principais responsáveis pela cobertura sobre a doença. Vale lembrar que, na época, o mundo enfrentava a Primeira Guerra Mundial e muitos países envolvidos no conflito censuravam a imprensa, principalmente em notícias relacionadas à gripe. A Espanha, que não participava da guerra, apostou em uma forte divulgação sobre o assunto e, assim, surgiu o nome “gripe espanhola”.
Quais eram os sintomas da gripe espanhola?
Os principais sintomas da gripe espanhola foram:
Inicialmente, os surtos eram caracterizados por esses sintomas. No entanto, com novas ondas de infecção, os sintomas passaram a ser mais graves, o que justifica a alta mortalidade da pandemia. Nesses casos, sintomas como infecção bacteriana e insuficiência respiratória eram comuns e levavam à morte dias após o início da infecção.
Gripe espanhola no Brasil: qual foi o impacto?
Os primeiros casos de gripe espanhola no Brasil surgiram em setembro de 1918, durante a segunda onda da doença. De acordo com historiadores, a doença chegou ao país através de um navio que saiu da Inglaterra, passando por Lisboa e atracando em Recife, Salvador e Rio de Janeiro.
Em pouco tempo, a doença se espalhou pelo Brasil, afetando, principalmente, São Paulo e Rio de Janeiro. Segundo dados da Fiocruz, estima-se que entre outubro e dezembro de 1918, 65% da população brasileira tenha adoecido. Na capital paulista, cerca de 5 mil pessoas morreram e, na capital fluminense, aproximadamente 12 mil vieram a óbito.
Entre as pessoas que foram infectadas pela doença está Rodrigues Alves, o quinto presidente do Brasil, com mandato entre 1902 e 1906. O político chegou a ser reeleito em 1918, mas contraiu a gripe espanhola antes de tomar posse.
Quais eram os tratamentos para gripe espanhola?
Na época, não havia um tratamento específico para gripe espanhola, tendo sido recomendados apenas o repouso e a hidratação. Assim, a doença não tinha cura e era esperado que a infecção acabasse sozinha, já que a gripe é uma doença autolimitada. O tratamento era feito apenas com o objetivo de melhorar os sintomas, por meio do uso de anti-inflamatórios para aliviar a dor e baixar a febre.
Além disso, não havia vacina contra a gripe naquele período e, portanto, o sistema imunológico ainda era imaturo para combater esse tipo de infecção. Dessa forma, o melhor para prevenir a doença era o isolamento social, evitando lugares públicos com aglomerações, como teatro ou escolas. Hoje em dia, a melhor forma de prevenção é a vacinação anual.
Pandemia de gripe espanhola x pandemia de COVID-19
A gripe espanhola durou pouco mais de dois anos, tendo início em fevereiro de 1918 e fim em abril de 1920. O saldo total de mortes é estimado entre 50 e 100 milhões. Apesar de a gripe espanhola ter sido mais fatal, há inúmeras semelhanças entre a pandemia de 1918 e a pandemia de COVID-19, que matou cerca de 7 milhões de pessoas até agosto de 2023.
Ambas as doenças possuem sintomas parecidos, que afetam o sistema respiratório e, em casos mais graves, prejudicam o funcionamento dos pulmões. Além disso, o vírus causador da COVID-19 era pouco conhecido e, assim como ocorreu em 1918, não havia tratamentos específicos para ele quando os primeiros casos surgiram na China e se espalharam rapidamente pelo mundo.
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No entanto, as semelhanças entre as duas pandemias ajudaram a comunidade médica e científica a entender o que não poderia se repetir na pandemia de 2020. “A compreensão e a disponibilidade atual, que não havia na época [1918], da importância da vacinação, bem como as medidas de uso de máscaras adequadas, álcool em gel e a necessidade de evitar aglomerações serviram de lições”, pontua Rubens.
Vale ressaltar, também, que a COVID-19 não é causada pelo vírus da gripe e, hoje em dia, o influenza pode ser tratado com antivirais, como o Oseltamivir (Tamiflu). Além disso, a mutação do H1N1 que atingiu o mundo em 1918 não é a mesma que existe hoje em dia.
“O vírus evolui e há uma competição entre as várias variantes. Mas temos que ficar atentos, tomar vacinas, cuidar da imunidade e praticar medidas que evitem a disseminação de infecções”, afirma o infectologista e professor de medicina.
Referências:
SOUZA, Christiane Maria Cruz de. A Gripe Espanhola na Bahia: saúde, política e medicina em tempos de epidemia.
SOUZA, Christiane Maria Cruz de. A epidemia de gripe espanhola: um desafio à medicina baiana.