Psiquiatra de crianças e adolescentes. Psicoterapeuta. Mestre em saúde da criança. Presidente do Departamento de saúde m...
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Setembro foi escolhido como o mês da prevenção do suicídio, o Setembro Amarelo, que destaca a importância de criar consciência acerca da depressão. Nesse contexto, um assunto que muitas vezes pode ser ignorado é a depressão infantil.
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o número de casos de depressão em crianças entre 6 e 12 anos aumentou de 4,5% para 8% nas últimas décadas. No mundo, mais de 13% dos adolescentes entre 10 e 19 anos vivem com diagnóstico de transtorno mental definido pela OMS.
Nesse cenário, é fundamental entender as questões que podem afetar negativamente a saúde mental de crianças e adolescentes e trabalhar na prevenção de complicações de transtornos, como a depressão e a ansiedade. Além da família e das redes de apoio, as escolas também devem exercer um papel importante nessa missão.
Afinal, crianças e adolescentes passam grande parte de suas rotinas no ambiente escolar e, muitas vezes, enxergam nos professores um laço afetivo e inspiracional. Por isso, é importante que educadores entendam seu papel na observação e no acolhimento de alunos, evitando o estresse tóxico, conscientizando sobre questões de saúde mental e intervindo quando necessário.
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Mas de que forma isso pode ser feito? Como os pais podem acompanhar e cobrar ações da escola que envolvam a educação emocional de seus filhos? O MinhaVida conversou com especialistas para entender essa e outras questões e traz algumas reflexões. Confira:
O olhar e a escuta aos alunos devem ser efetivos
Do ponto de vista da psicóloga Gisele Alves, gerente executiva do Laboratório de Ciências para Educação (eduLab21) do Instituto Ayrton Senna, a escola é um local privilegiado para que eventuais mudanças de comportamento dos estudantes sejam observadas. “Ao assegurar o olhar mais atento e abrangente aos estudantes, deve-se garantir que sua trajetória na escola seja acompanhada de modo sistematizado e padronizado, uma vez que, assim, toda a comunidade escolar poderá se organizar para endereçar de forma estruturada as questões que exigem maior cuidado”, afirma.
Portanto, o primeiro passo deve ser conhecer os estudantes e as questões que os afligem. A partir disso, é importante identificar nesses mesmos estudantes o que pode servir como informações adicionais para realizar um planejamento de ações. Por fim, é preciso implementar esses planos e monitorar seus resultados.
“Parte dessas ações certamente inclui apoio e formação aos educadores, sendo um dos eixos essenciais para que haja a efetiva implementação de uma educação integral, considerando o estudante em diversos domínios de sua vida”, acrescenta Gisele.
Além disso, para Ana Paula Yazbek, mestre em Educação pela Universidade de São Paulo (USP), a escola e os professores devem criar um ambiente seguro e acolhedor para que crianças e adolescentes possam compartilhar seus incômodos.
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“Conversas, brincadeiras e espaços de escuta podem ser criados no cotidiano escolar”, afirma. “Se desde a educação infantil as crianças tiverem a oportunidade de se expressarem e comunicarem tanto seus incômodos como suas alegrias e sentirem que estão em um ambiente seguro e que podem contar com adultos atentos, elas vão construir maneiras de autorregulação das emoções e saberão solicitar ajuda na mediação de conflitos”, acrescenta.
Livros de literatura infantil e palestras podem ajudar
Para crianças pequenas, o desafio de abordar questões emocionais e relacionadas à saúde mental pode ser um pouco maior. Mas, ainda assim, é possível investir em medidas que podem ser feitas tanto na escola quanto em casa. Uma delas é a leitura de histórias que abordem esses temas. “Há excelentes livros de literatura infantil que abordam temáticas sensíveis, sem um caráter moralista ou simplório”, afirma Ana Paula.
Já para crianças mais velhas e adolescentes, é possível criar espaços de palestras e conversas, nos quais temas como depressão, transtornos de imagem, bulimia, anorexia e drogas podem ser abordados. “O intuito é sempre criar um ambiente respeitoso e seguro, no qual não haja nem exposição, nem julgamentos morais. O objetivo é pensar e refletir sobre angústias e dores que acometem os jovens”, acrescenta a educadora.
Esses espaços também podem servir para debater assuntos como bullying e cyberbullying, muito comuns no ambiente escolar. “Uma possibilidade é promover fóruns de discussão a partir de situações que tenham se tornado públicas, pois, quando não estamos pessoalmente envolvidos, costumamos pensar em maneiras mais tranquilas de se resolver e lidar com os desafios do convívio”, sugere.
A participação da família e de amigos também é essencial
Além dos educadores, a família e os amigos próximos dos estudantes que passam por questões emocionais também podem identificar alterações de comportamento e sinais de alerta. Isso é especialmente mais fácil quando a escola já implementou algumas ações de conscientização sobre o assunto.
“Os estudantes poderão se apoiar e incentivar seus colegas a buscarem por ajuda, também envolvendo a escola na busca por suporte especializado entre as estratégias de enfrentamento, quando for necessário, e o envolvimento das famílias”, opina Gisele.
A família também poderá participar efetivamente dessas ações. “Além de participarem dos fóruns já estabelecidos para interações com a escola, as famílias devem sempre receber informações e orientações para que atuem em conjunto com a escola e para que também apoiem os estudantes caso seja necessário encaminhá-los a profissionais de saúde ou de assistência social, por exemplo”, completa a psicóloga.
Como identificar sinais importantes de mudança de comportamento?
Para saber se a criança ou o adolescente está com sintomas de depressão, é importante estar atento a algumas mudanças de comportamento ou a sinais que o corpo dá, especialmente em crianças pequenas. “A depressão em crianças de até cinco anos de idade, muitas vezes, se manifesta de forma somatofórmica, com dores de cabeça, cansaço, dor de barriga, alterações no sono e padrão alimentar”, explica a psiquiatra Gabriela Crenzel, membro do grupo de trabalho de saúde mental da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).
Já em crianças mais velhas e adolescentes, os sintomas de depressão são muito parecidos com a manifestação da doença em adultos. “Tendência ao isolamento, tristeza, sensação de incômodo, sentimento de culpa, de não pertencimento, insegurança, desesperança, sensação de muita tristeza e, basicamente, falta de vontade de fazer as coisas que anteriormente gostava de fazer, como não querer mais brincar na casa de um amiguinho ou não se interessar mais em fazer o esporte que se interessava”, completa a especialista.
Em adolescentes, especialmente, é possível notar também sinais de agressividade e irritabilidade, seguidos, até mesmo, por episódios de explosão emocional. Além disso, o rendimento escolar também pode cair e o jovem apresentar dificuldade de aprendizado, problemas de memória, falta de concentração e dificuldade de tomar decisões.
“Para os pais, é algo extremamente desafiador [oferecer ajuda aos filhos]. Eles podem, muitas vezes, estranhar o comportamento de seus filhos e não saber muito bem como interagir”, comenta Gabriela. “Essa dificuldade de interação vai abrindo uma distância que parece intransponível. Os pais querem ao mesmo tempo respeitar a autonomia, mas se preocupam, querem supervisionar”, acrescenta.
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O que fazer, então, nesses cenários? Além de participar de ações oferecidas pela escola, que podem ajudar a ter um direcionamento maior sobre quais atitudes tomar em relação ao filho, é importante mostrar ao adolescente ou à criança que se importa e está disponível para ajudá-los.
“É importante sempre estar disponível para iniciar um diálogo, de forma aberta, tentar melhorar as chances de que o adolescente se sinta tranquilo, seguro para conversar, e certificar-se de que ele saiba que pode compartilhar suas incertezas e que os pais estão ali para procurar a saída juntos”, completa a psiquiatra.