Médica Oncologista, Vice-presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC).
Redatora especialista na cobertura de conteúdos sobre saúde, bem-estar, maternidade, alimentação e fitness.
A incidência global de câncer em pessoas com menos de 50 anos de idade aumentou 79% nas últimas três décadas (1990-2019), de acordo com um estudo publicado recentemente na revista BMJ Oncology. Os dados foram apresentados por Nina Melo, coordenadora do Observatório de Oncologia, no 10º Congresso Todos Juntos Contra o Câncer (TJCC), no dia 26 de setembro, em São Paulo.
O estudo também estima que o número global de novos casos de câncer em pessoas jovens aumentará 31% em 2030, enquanto as mortes associadas aos tumores antes dos 50 anos terão um aumento de 21%. Ainda de acordo com os investigadores, a faixa etária dos 40 anos será a mais afetada.
Essa é uma tendência que já tem sido observada por outros estudos. Durante sua fala no Congresso TJCC, Nina mostrou dados de uma pesquisa desenvolvida pelo próprio Observatório da Oncologia, publicada em 2019, usando dados do DATATUS e do Instituto Nacional do Câncer (INCA). O levantamento mostrou que houve um aumento no número de pessoas jovens com câncer.
De acordo com o estudo, na população entre 20 e 49 anos, houve um aumento médio, ao ano, de 8,8% para câncer de tireoide, 5,2% para câncer de próstata e 3,4% para câncer colorretal. Já em relação à mortalidade por câncer, houve um aumento anual de 0,8% para todas as neoplasias. O destaque negativo ficou para o câncer de corpo de útero, cujo aumento ao ano foi de 4,2%.
Saiba mais: Câncer de colo do útero: sintomas e se tem cura
Na visão de Nina Melo, os resultados apresentados pelo estudo evidenciam a necessidade de estabelecer políticas públicas de prevenção e de controle de câncer no Brasil. “Políticas de prevenção voltadas para a população com menos de 50 anos impactam também na incidência do câncer quando esta população se torna idosa”, afirmou Nina, durante sua apresentação.
O que está por trás dos casos de câncer em pessoas jovens?
Durante o debate da mesa, moderado pelo jornalista Cesar Cavalcante, da TV Band, foram citados alguns motivos que podem estar associados ao aumento dos casos de câncer em pessoas com menos de 50 anos.
Para Laura Cury, coordenadora do Projeto Álcool, da ONG ACT Promoção da Saúde, a tendência é uma consequência da maior exposição aos principais fatores de risco da doença, como o tabagismo, má alimentação, uso de bebidas alcoólicas, obesidade e exposição à poluição.
Paulo Hoff, médico oncologista e presidente da Oncologia D’Or, também destacou a obesidade como um fator de risco expressivo para o surgimento de câncer em pessoas mais jovens.
“Estamos vivenciando uma epidemia de obesidade, que aumenta a situação de inflamação no organismo e modifica o metabolismo hormonal. Ainda existem outras alterações relacionadas à obesidade que estão, infelizmente, associadas a um aumento no risco de câncer”, afirmou o médico durante sua fala no congresso TJCC.
Saiba mais: Sinal de alerta! A obesidade está ligada a diversas doenças
Ao MinhaVida, o especialista afirmou que o uso de vapes por pessoas jovens - que tem crescido no Brasil, apesar de sua comercialização ser proibida pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) - pode estar associado aos casos de câncer nessa população.
“Já existem casos de pneumonite associada ao vape e isso sozinho já seria suficiente como um sinal de alerta em relação ao uso de vape e o risco de câncer. Mas outro ponto é que o vape traz uma quantidade alta de nicotina e pode estar servindo de uma porta de entrada para o tabagismo”, afirma.
O álcool também pode estar associado ao maior risco de desenvolvimento de câncer, pois também gera processos inflamatórios no organismo. Um estudo recente mostrou que o uso abusivo de álcool é maior na faixa etária de 25 a 34 anos.
“O aumento nos casos de neoplasias na população mais jovem tem relação com esse comportamento, esses fatores relacionados à má alimentação, ao consumo de tabaco e álcool e ao sedentarismo”, considerou Andréia Melo, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), em matéria publicada anteriormente no MinhaVida. “É importante que essa população seja orientada a fazer exame periódico de saúde e de rastreio das neoplasias desde cedo”, opinou.