Possui especialização em Medicina da Dor pela Santa Casa da Misericórdia de São Paulo. Título de Especialista em Dor pel...
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Segundo os dados do Censo 2022, divulgados na última sexta-feira (27), a população de idosos no Brasil cresceu 57,4% nos últimos anos. De acordo com o levantamento, as pessoas com 65 anos ou mais já representam 10,9% da população.
Diante desse cenário, surgem novos desafios e demandas para promover o envelhecimento saudável e um deles é a ampla prevalência da dor crônica na população idosa. Segundo dados do Estudo Longitudinal da Saúde dos Idosos (ELSI - Brasil), divulgado em fevereiro deste ano, um total de 36,9% dos brasileiros com mais de 50 anos apresenta essa condição.
O levantamento também mostrou que um terço dos adultos com dor crônica faz uso de opioides para tratar o sintoma. Esse é um tipo de medicamento analgésico usado especialmente para tratar diferentes tipos de dor e inclui desde remédios mais leves, como codeína, até os mais intensos, como tramadol, fentanil e morfina.
Ainda segundo o estudo, a dor crônica é mais frequente em mulheres, pessoas de baixa renda, com diagnóstico de artrite, problemas na coluna, depressão e com histórico de queda. Inclusive, o levantamento também mostrou que a prevalência de quedas em idosos residentes das áreas urbanas é de 25%.
Dor crônica: uma questão de saúde pública
Essa prevalência de dor crônica entre a população idosa é um ponto de atenção para a promoção de políticas públicas voltadas para a qualidade de vida na terceira idade, principalmente diante do envelhecimento da população brasileira.
Para Amelie Falconi, médica intervencionista em dor, devido à sua ampla prevalência, a dor crônica é considerada cada vez mais uma questão de saúde pública, podendo trazer impactos, inclusive, econômicos. “Para se ter uma ideia, os Estados Unidos despendem US$ 600 milhões em custos diretos e indiretos de dor crônica anualmente”, destaca.
Para os pacientes, a doença também é custosa financeiramente. “Além de aumentar o gasto mensal, com planos de saúde, consultas, reabilitação, remédios e psicólogo, a dor crônica atrapalha que seu portador ganhe dinheiro, porque o impede de trabalhar muitas vezes”, explica Amelie.
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Além disso, a especialista afirma que muitos profissionais ainda não sabem lidar com os pacientes nesta condição, fazendo com que muitos saiam dos consultórios sem um controle adequado para o sintoma. Segundo Amelie, o tratamento para dor crônica deve incluir:
- Fisioterapia, realizada de maneira individualizada, considerando as características da dor do paciente
- Cirurgia, caso a fisioterapia não alivie os sintomas da dor
- Uso de medicamentos analgésicos
- Mudanças no estilo de vida, incluindo prática de atividade física, melhora da qualidade de sono, alimentação equilibrada e cuidados com a saúde mental
A especialista, porém, ressalta: o tratamento da dor crônica deve ser realizado de maneira individualizada. “Cada dor se manifesta de uma maneira totalmente diferente e individual. O mesmo tratamento apresenta resultados diferentes em pessoas diferentes. Isso mostra por que precisamos olhar para a pessoa além da dor”, conclui.
Sobre o Estudo Longitudinal da Saúde dos Idosos
O ELSI é um estudo coordenado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e pela Fundação Oswaldo Cruz - Minas Gerais (FIOCRUZ-MG) e financiado pelo Ministério da Saúde. A primeira coleta de dados foi realizada em 2015-16 e a segunda coleta, que traz os atuais dados, foi conduzida em 2019-21, com 9.949 participantes.
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O objetivo do levantamento é investigar os determinando sociais e biológicos do envelhecimento e as consequências para a sociedade e para o próprio indivíduo. A pesquisa foi realizada entre adultos a partir dos 50 anos, residentes em 70 municípios situados nas cinco grandes regiões geográficas do país.
Os detalhes da metodologia do estudo e alguns resultados descritivos do segundo levantamento foram publicados no International Journal of Epidemiology.