Possui graduação em Medicina pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1989), mestrado em Fisiologia pela Universi...
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A hidrocolonterapia é um procedimento de limpeza intestinal feito sob o argumento que as “fezes antigas” presentes no intestino grosso poderiam ser tóxicas para o corpo, causando inflamações e doenças. Porém, não existem evidências científicas de que isso aconteça e nem de que o procedimento é benéfico para a saúde.
O procedimento não é reconhecido pela Sociedade Brasileira de Coloproctologia e também foi condenado nos Estados Unidos, em 1985, pelo National Council Against Health Fraud. A Food and Drug Administration (FDA), órgão equivalente à Anvisa nos EUA, também não reconhece a prática, proibindo sua comercialização legal.
Apesar disso, a hidrocolonterapia ganhou notoriedade nas últimas semanas após a modelo e ex-BBB Adriana Sant’Anna publicar um vídeo realizando o procedimento. “Uma das sete maravilhas do mundo”, escreveu na legenda do vídeo. Desde então, Adriana vem recebendo uma série de críticas e a prática vem sendo contestada.
O que é hidrocolonterapia e como é feita?
A hidrocolonterapia é um procedimento que consiste na lavagem do intestino grosso com a aplicação de um líquido através de uma “mangueira” que é introduzida no ânus. Supostamente, a prática retira fezes acumuladas na região que poderiam causar inflamações e doenças.
No entanto, segundo Henrique Fillmann, membro titular da Sociedade Brasileira de Coloproctologia (SBCP), “nada disso se comprovou cientificamente”. Em nota, a SBCP afirma que a teoria de que o acúmulo de fezes antigas no intestino poderia ser tóxico “foi cientificamente desmentida por volta de 1920, quando estudos científicos demonstraram não haver qualquer relação entre a presença de fezes no cólon e algum tipo de intoxicação no nosso organismo.”
“A limpeza completa do intestino grosso pode ser necessária em situações bem específicas, como na realização de colonoscopias e em determinadas cirurgias, mas não caracteriza hidrocolonterapia”, afirma Henrique. Nesses procedimentos, a limpeza do intestino é feita através do uso de laxantes e com orientação médica.
Quais são os riscos da hidrocolonterapia?
Os riscos da hidrocolonterapia incluem desde mudanças na flora intestinal até lesões e perfuração intestinal. “A introdução de tubos pelo ânus para a realização do procedimento pode lesionar a parede do reto e perfurar o intestino se não for realizada por profissional habilitado”, afirma o especialista.
Além disso, a limpeza radical do intestino, sem a necessidade indicada, pode alterar a flora intestinal, fundamental para o equilíbrio do corpo. “Os micro-organismos que compõem o intestino agem diretamente no sistema imunológico intestinal, nos protegendo de elementos patológicos, além de facilitarem a absorção de nutrientes e vitaminas e atuarem sobre a motilidade intestinal”, explica Henrique.
Com a limpeza, junto das fezes, são eliminados também os micro-organismos saudáveis e necessários para a saúde. “Quando retiramos essa flora, estamos alterando o equilíbrio imunológico e expondo o paciente aos riscos de infecção e alterações de motilidade intestinal”, completa. Isso pode incluir diarreia ou constipação intestinal.
Vale ressaltar, mais uma vez, que os supostos benefícios da hidrocolonterapia, como a desintoxicação do organismo e a melhora da flora intestinal - listados em ambientes que realizam o procedimento - não são comprovados cientificamente.
Prisão de ventre: quais tratamentos realmente funcionam?
Outro argumento utilizado por quem realiza a hidrocolonterapia é a melhora da constipação intestinal, popularmente conhecida como prisão de ventre. No entanto, já existem tratamentos com eficácia comprovada para a condição de saúde.
“A constipação é um problema complexo e multifatorial [com diversas causas] e assim deve ser encarado”, afirma Henrique. “Pacientes constipados devem ser adequadamente investigados através de uma boa anamnese, exame físico e, eventualmente, exames complementares”, completa.
O tratamento da constipação inclui a mudança de hábitos alimentares, ingestão de água nas quantidades adequadas e prática regular de atividade física. “Eventualmente, devemos lançar mão de certos suplementos e, também, medicamentos. O tratamento é individualizado para cada paciente após a correta avaliação médica”, finaliza o especialista.