Mestre em educação médica com residência médica em Pediatria. Pós-graduada em Neurologia e Psiquiatria com formação em H...
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A evolução do debate sobre saúde mental nas últimas décadas abriu espaço para popularizar temas que envolvem neurodiversidade historicamente discriminados e repletos de estigmas. O Transtorno do Espectro Autista ou TEA é um deles, tanto que hoje essa pauta é considerada obrigatória nas agendas de saúde e tem um mês colorido inteiro para chamar de seu: o Abril Azul.
Criada pela ONU em 2008, a campanha surgiu depois da instituição oficializar o segundo dia de abril como a data mundial de conscientização sobre o autismo. A missão na época continua sendo a mesma até então: trazer visibilidade sobre o assunto, envolver a comunidade e buscar uma sociedade cada vez mais inclusiva.
Por que os casos de autismo estão aumentando?
Um relatório emitido em 2021 do Centers for Diseases and Control and Prevention (CDC) estimou que 1 a cada 36 crianças aos 8 anos de idade é diagnosticada com o TEA. Apesar da pesquisa ter sido publicada nos Estados Unidos, a realidade também pode ser espelhada no Brasil.
Para Gesika Amorim, especialista em Tratamento Integral do Autismo, Neurodesenvolvimento e Saúde Mental, esse aumento se dá por múltiplos fatores, principalmente pelo maior acesso à informação sobre o transtorno: “Hoje em dia as pessoas falam muito mais sobre autismo. Caracterizar o autismo como Espectro também ampliou a quantidade de fatos e diagnósticos. Agora, indivíduos que anteriormente eram diagnosticados com depressão, deficiência intelectual e transtornos de personalidade podem encontra-se, na realidade, dentro do Espectro", esclarece.
A médica complementa que fatores epigenéticos fazem parte do diagnóstico, mas que eles precisam estar associados ao ambiente para a condição se manifestar.
Quando ficar atento?
O autismo é uma condição neurológica que afeta a comunicação e o comportamento social do paciente. Ele pode ser dividido nos níveis 1, 2 e 3, sendo o último chamado de autismo grave ou clássico. Gesika explica que, pelo fato do autismo ser um Espectro, ele é caracterizado em uma faixa larga de apresentação com variações em cada caso:
“Temos pacientes que não falam, os não-verbais, e os que falam muito e têm uma dificuldade na comunicação em termos de compreender linguagem social. Além desse prejuízo na comunicação, existe a dificuldade na socialização, que também tem a ver com a linguagem social”.
Quadros de depressão, ansiedade, sintomas de inadequação, não-pertencimento, distúrbios do sono e alimentares também são situações importantes para ficar atento.
E com as crianças?
Nesse caso, a especialista é contra o pensamento de que cada criança tem seu tempo. “Essa frase não existe porque cada criança tem um tempo predeterminado para cumprir os marcos de desenvolvimento. Se isso não acontecer até tal idade, precisa de investigação e análise”.
Outros tipos de comportamentos podem ser observados pela família, como sinais de atraso no desenvolvimento da criança, por exemplo. A especialista também cita o papel do pediatra nesse processo: “É ele que está monitorando a criança e pode notar situações em pacientes de até 1 ano que não batem palma, não falam mamãe ou até que não imitam, então ele funciona como uma porta de entrada para a família.”
A conscientização é a chave
É importante se ater ao verdadeiro significado do que é autismo para barrar estereótipos e avançar na luta da inclusão, ressalta Gesika. Entre eles, desmistificar preconceitos como o autismo ser uma doença ou algo transmissível.
“Cabe vencer esse preconceito, reconhecer o autismo como um transtorno e abraçar esses indivíduos, porque eles estão na sociedade e fazem parte da nossa vida. Hoje, estatisticamente, um a cada em torno de 50 pessoas está dentro do Espectro autista, então não é algo para ser encarado como mistério, é algo para ser encarado com normalidade, certo?”, reforça.