Jornalista com sete anos de experiência em redação na área de beleza, saúde e bem-estar. Expert em skincare e vivências da maternidade.
iBill Gates é um dos homens mais bem-sucedidos do mundo. Sua empresa, a Microsoft, é uma referência global e responsável por tornar a tecnologia mais presente do que nunca em nossas vidas. No entanto, ele não tem certeza se teria se tornado o bilionário que é hoje se tivesse crescido como as crianças de hoje. Ele se refere às constantes distrações representadas pelos celulares e redes sociais.
Embora exista um debate sobre se as redes sociais têm ou não um impacto direto na saúde mental, além de questionar se devemos limitar o uso de celulares pelas crianças, Gates levanta uma reflexão interessante em seu blog sobre o custo que as novas gerações pagam ao crescerem online. “Eu me perdia em livros ou ideias, muitas vezes por horas sem interrupção”, diz ele. E acrescenta que essa capacidade de transformar o tempo livre em profunda reflexão e aprendizado “se tornou uma parte fundamental da minha personalidade”.
Por outro lado, Jonathan Haidt, psicólogo social da Universidade de Nova York, explica em seu livro The Anxious Generation que os smartphones e as redes sociais “religaram” os cérebros das crianças. Segundo o relatório da UNICEF, em média, as crianças já utilizam celular antes dos 11 anos, e 1 em cada 3 adolescentes faz uso problemático da internet e das redes sociais. Haidt argumenta que essas tecnologias são parcialmente responsáveis pela crise de saúde mental da Geração Z. Além disso, já foi demonstrado que o uso constante de celulares e redes sociais afeta a memória, a capacidade de concentração e a atenção das crianças.
Concentração ininterrupta
Ler o livro de Haidt fez Bill Gates se perguntar se teria desenvolvido os hábitos que o levaram ao sucesso caso tivesse crescido com a tecnologia atual. Ele conseguiria, por exemplo, se concentrar na leitura se tivesse à disposição aplicativos de distração ao alcance dos dedos? Na infância de Gates, o entretenimento vinha de outros lugares além das telas. A “infância baseada na brincadeira”, que, segundo Harvard, estimula o pensamento criativo, ajudou Gates a desenvolver uma capacidade de concentração ininterrupta — algo que está cada vez mais difícil para as novas gerações.
“Nossa capacidade de atenção é como um músculo, e as constantes interrupções e o caráter viciante das mídias sociais tornam incrivelmente difícil fortalecê-lo”, escreveu Gates em seu blog, acrescentando que a tecnologia impacta diretamente o pensamento crítico e a concentração. Ele lembra que sempre teve um compromisso com a concentração ininterrupta. Por exemplo, na década de 1990, Gates costumava se retirar para uma cabana isolada no deserto com apenas “uma grande sacola de livros e documentos técnicos” durante o que ele chamava de “Semana de Pensamento”. Esse tempo longe de tudo (inclusive da tecnologia) era usado para ler, refletir e escrever sobre o futuro sem interrupções. Segundo o The Wall Street Journal, essas semanas de intensa concentração foram cruciais para gerar as ideias que enriqueceram Gates.
A especialista em produtividade Laura Stack explicou à CNBC que “devemos criar um ambiente que nos permita concentrar nossas mentes sem interrupções de colegas de trabalho, cônjuges, filhos, animais de estimação e tecnologia, ou nunca seremos capazes de nos engajar em atividades de ordem superior.” Em outras palavras, se estivermos sempre distraídos, será difícil ter grandes ideias. Gates reforça que “sem a capacidade de se concentrar intensamente e seguir uma ideia até onde ela nos levar, o mundo pode perder os benefícios que vêm de focar profundamente em algo, mesmo quando a dopamina de uma distração rápida está a apenas um clique de distância.”
Ao desenvolver a capacidade de concentração ininterrupta, também trabalhamos o autocontrole. Segundo Nir Eyal, professor da Stanford Graduate School of Business e autor do livro Indistractable: How to Control Your Attention and Choose Your Life, o autocontrole será um dos determinantes do sucesso futuro das crianças de hoje. “Tornar-se imperturbável é a habilidade mais importante do século 21, mas muitos pais não conseguem ensiná-la aos filhos”, explica ele.
Essa opinião é respaldada por estudos, como o publicado pela revista American Scientist, que investigou a relação entre autocontrole e sucesso. Os resultados são claros: quanto maior o autocontrole, maior a probabilidade de sucesso.
No entanto, ensinar autocontrole às crianças não é tarefa fácil, pois exige paciência e, acima de tudo, consistência. Se, como pais, somos os primeiros a nos distrair com nossos celulares e redes sociais, como podemos esperar que nossos filhos sejam diferentes?
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