Joji Ueno é ginecologista-obstetra. Dirige a Clínica Gera e o Instituto de Ensino e Pesquisa em Medicina Reprodutiva de...
iA análise do sêmen é um dos primeiros exames solicitados para avaliar a fertilidade masculina. Com a tecnologia e os conhecimentos que dispomos, hoje, esta análise vai muito além do espermograma. Ela engloba uma série de testes que avaliam o potencial de fecundidade dos espermatozóides.
O espermograma é importante para verificar, inicialmente, se o volume do esperma, o pH (acidez), a viscosidade, a cor e a liquefação do sêmen apresentam-se normais. Em seguida, determina-se o número de espermatozóides e a motilidade dos mesmos, tanto do ponto de vista quantitativo, quanto qualitativo. A contagem do número de espermatozóides e a avaliação da motilidade são realizadas no microscópio, com auxílio de câmaras especiais, especialmente desenvolvidas para este fim. O espermograma inclui ainda a avaliação da morfologia dos espermatozóides e a determinação do número de leucócitos presentes no sêmen.
Para realizar esta bateria de testes, solicita-se a abstenção da atividade sexual por um período de 48 a 72 horas. A coleta da amostra de sêmen é realizada no próprio laboratório. O frasco para a coleta deve ser de boca larga e de material previamente testado quanto à toxicidade para a motilidade espermática. Situações especiais podem ser contornadas, como a coleta durante o ato sexual, utilizando-se preservativos atóxicos, vibroestimulação ou eletroejaculação nos homens com trauma de medula espinhal e ejaculação retrógrada.
O que deve ser analisado:
Morfologia
A forma dos espermatozóides humanos varia amplamente. A definição de um padrão de normalidade baseia-se na observação da forma dos espermatozóides que conseguiram ultrapassar o colo uterino. A análise da morfologia é tão importante quanto a determinação do número de espermatozóides e da sua motilidade. O estudo da morfologia é um dos indicadores da qualidade dos espermatozóides que estão sendo produzidos pelos testículos.
Os resultados da morfologia, principalmente quando avaliada pela técnica estrita de Kruger, correlacionam-se com o sucesso da fertilização in vitro , da inseminação intra-uterina e também com a chance de conseguir a gravidez por via natural. Para a análise da morfologia, os espermatozóides são submetidos a corantes especiais e examinados no microscópio óptico num aumento de 1000 vezes. O espermatozóide normal apresenta cabeça com formato oval e superfície regular, sem defeitos na peça intermediária ou cauda.
Integridade funcional da membrana plasmática dos espermatozóides
Por meio do Teste Hipo-Osmótico (THO) é possível avaliarmos a integridade funcional da membrana plasmática dos espermatozóides e o transporte de água através da mesma. O exame baseia-se na observação de que espermatozóides cujas membranas estão íntegras absorvem água, quando expostos a uma solução hiposmolar em relação ao meio intracelular e são capazes de manter um gradiente osmótico, enquanto aqueles com membranas lesadas não o fazem. Neste teste, os espermatozóides com membranas íntegras, e, portanto vivos, exibem um certo inchaço da cauda, quando colocados em uma solução hiposmolar (150 mOsm) em relação ao meio intracelular. Tais alterações morfológicas podem ser apreciadas à microscopia de contraste de fase.
Por outro lado, espermatozóides cujas membranas plasmáticas estão lesadas não apresentam capacidade osmo-reguladora, e, conseqüentemente, não exibem o inchaço da cauda. Atualmente, o THO tem sido utilizado também como um teste de vitalidade espermática, com a vantagem de não utilizar qualquer corante. O teste também é utilizado para identificar espermatozóides que embora imóveis sejam viáveis para as técnicas de injeção intracitoplasmática (ICSI).
Presença de Leucócitos no Sêmen
É comum a presença de células redondas no sêmen que podem representar leucócitos, células epiteliais, células prostáticas e células germinativas imaturas. O aumento do número de leucócitos pode representar uma infecção genital clínica ou sub-clínica, níveis elevados de radicais livres de oxigênio, títulos elevados de anticorpos anti-espermatozóides e função espermática deficiente. Todas estas condições podem ocasionar a infertilidade masculina.
Daí a importância da determinação do número de leucócitos no sêmen, que pode ser realizada por meio do teste da peroxidase. Este teste identifica e quantifica os neutrófilos polimorfonucleares, que representam a maioria dos leucócitos presentes no sêmen. O teste baseia-se na detecção da peroxidase, enzima presente nos granulócitos polimorfonucleares (PMN), que se coram em marrom quando expostos ao teste (peroxidase-positivos). As células peroxidase-negativas (não-coradas) podem representar células germinativas imaturas (espermátides, espermatócitos e espermatogônias), linfócitos, macrófagos e monócitos.
Reação Acrossômica
A reação acrossômica é um teste que avalia o potencial fértil do espermatozóide e deve ser utilizado principalmente naqueles casos onde houve falha em tentativas anteriores de fertilização "in vitro". A determinação da reação acrossômica é complexa e pode ser medida laboratorialmente. Os resultados obtidos correlacionam-se com o potencial de fecundidade do espermatozóide. Homens com dificuldades para ter filhos, de causa indeterminada, podem apresentar níveis baixos ou mesmo ausência de reação acrossômica, explicando assim, porque os espermatozóides não conseguem fertilizar o óvulo.
Prof. Dr. Joji Ueno é ginecologista, especialista em reprodução humana, Doutor em Medicina pela Faculdade de Medicina da USP e diretor da Clínica Gera.
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