Redatora de saúde e bem-estar, autora de reportagens sobre alimentação, família e estilo de vida.
Como explicou a psicóloga Úrsula Perona, a disciplina é "fundamental no processo educacional", pois ensina conceitos como autocontrole, regras e limites, necessários para as crianças, mesmo em uma abordagem de educação gentil. De acordo com Lucie Cluver, professora de serviço social para crianças e famílias da Universidade de Oxford na Unicef, a disciplina positiva "pode ajudar os pais a promover relacionamentos positivos com seus filhos e ensinar-lhes habilidades como responsabilidade, cooperação e autodisciplina”.
Mas o que acontece quando crescemos sem disciplina? Segundo a psicologia, ao chegarmos à vida adulta, podemos desenvolver comportamentos que dificultam nosso crescimento pessoal e podem se tornar um obstáculo para o nosso desenvolvimento pessoal.
1. Dificuldade para iniciar e manter novas rotinas
As rotinas ajudam as crianças a desenvolver disciplina e responsabilidade, pois oferecem uma estrutura e previsibilidade que facilitam o enfrentamento do dia a dia. Por isso, as escolas adotam horários definidos.
No entanto, quando não somos disciplinados desde a infância, é comum que a criação e a manutenção de novas rotinas se tornem um desafio ao longo da vida. Por exemplo, pode ser difícil manter um horário regular de sono ou gerenciar as horas de trabalho. Esse descontrole pode gerar estresse, pois a falta de organização tende a favorecer o surgimento desse problema.
2. Dificuldade para controlar impulsos
Para uma criança, crescer sem regras é um sonho, mas, quando se torna adulta, a falta de estrutura e de limites que tínhamos na infância pode resultar em dificuldades de autocontrole.
A disciplina ajuda as crianças a gerenciar seus impulsos e a aprender sobre gratificação atrasada, o que lhes trará grandes benefícios em sua futura carreira. Esse termo, estudado pelo psicólogo Walter Mischel no famoso estudo chamado “teste do marshmallow de Stanford”, refere-se à capacidade de inibir comportamentos e desejos imediatos em busca de uma recompensa ou benefício maior no futuro, o que exige autocontrole.
Se crescemos sem disciplina e não tivemos a oportunidade de aprendê-la, é muito provável que sucumbamos aos prazeres imediatos, encontremos dificuldade em estabelecer e alcançar metas de longo prazo e tenhamos problemas para nos comprometer.
3. Procrastinação
Embora nem todos os comportamentos desta lista sejam exclusivos de uma educação indisciplinada, e nem todas as crianças que cresceram sem disciplina apresentem esses comportamentos, existe uma ligação entre a falta de disciplina e a procrastinação. A procrastinação está intimamente relacionada à biologia do nosso cérebro, mas também às nossas emoções.
Como explicou à BBC o professor Tim Pychyl, especialista que estudou a procrastinação por várias décadas, “a razão por trás da procrastinação tem mais a ver com a maneira como você lida com suas emoções do que com a administração do tempo em si”, pois “os centros emocionais do cérebro podem, de fato, afetar a capacidade de autocontrole de uma pessoa”.
4. Dificuldade em aceitar responsabilidades
Como mencionamos, a disciplina nos ensina que nossas ações ou omissões têm consequências. Quando isso não faz parte da infância, o conceito de responsabilidade também fica comprometido. Sem essa disciplina, a responsabilidade por ações, erros ou resultados será algo que a pessoa tenderá a evitar completamente.
5. Impulsividade em suas decisões
Vamos imaginar que sejamos uma criança. Nossa mãe nos diz que, se não terminarmos a lição de casa a tempo, não poderemos sair para brincar. Sabemos qual é a consequência de não fazer a lição. Mas agora, imagine que não haja uma regra que nos diga o que acontecerá se fizermos ou não fizermos algo.
A disciplina nos ensina justamente que nossas ações têm consequências, tanto positivas (como a gratificação adiada de que falamos) quanto negativas. Sem essa compreensão, é natural que nossas decisões se tornem impulsivas, sem considerar as consequências futuras. Em vez de refletir, as pessoas acabam tomando decisões baseadas em emoções imediatas.